O que você precisa saber sobre o herbicida Dicamba

Saiba mais sobre o herbicida dicamba que começou a ser utilizado no Brasil para o controle de plantas daninhas, mas que já causou alguns problemas em áreas produtoras dos Estados Unidos.

Na agricultura, a produtividade das culturas está intimamente relacionada a diversos fatores bióticos e abióticos, como condições climáticas, manejo de solo e adubação. Mas o uso de herbicidas no controle de plantas daninhas é essencial. Neste caso, o herbicida dicamba pode ganhar mercado no Brasil pela sua relatada eficiência.

No entanto, este produto tem também gerado muita preocupação entre agricultores, principalmente devido à ocorrência de alta volatilidade e deriva. Este herbicida até tem registro para a agricultura brasileira, mas há associações que querem que o governo detalhe melhor o seu uso por essas razões.

Por isso, entenda o que é o herbicida dicamba, veja qual é o seu mecanismo de ação, recomendações de uso e porque ele vem causando certa preocupação, essencialmente para a cultura da soja.

Herbicidas: essenciais para o controle de plantas daninhas em lavouras

Na agricultura, a principal ferramenta para um manejo mais efetivo de plantas daninhas nas lavouras é, sem dúvida, a utilização de herbicidas.

As plantas daninhas, quando crescem na lavoura, competem por água, luz e nutrientes o que, consequentemente, prejudica o desenvolvimento da lavoura de interesse. Também podem ser hospedeiras de pragas e organismos que podem causar doenças nos cultivares, afetando sua produção.

De forma geral, a função dos herbicidas é a de matar ou suprimir o crescimento de espécies específicas de plantas indesejáveis na área.

Assim, para que seja eficiente, o herbicida aplicado às folhas de plantas daninhas deve:

  • Ser retido pela folhagem;
  • Penetrar/ultrapassar a cutícula;
  • Mover-se nos espaços com água ao redor da célula;
  • Entrar na célula, passando através da membrana celular;
  • Atingir o local de ação, geralmente uma enzima;
  • Ligar-se à enzima-alvo e inibi-la

Por muito tempo, o herbicida mais usado e vendido em todo o mundo é o glifosato, caracterizado como um produto sistêmico de ação total, não-seletivo e pós-emergente. No entanto, o uso repetido deste herbicida favoreceu o desenvolvimento de variedades resistentes de plantas daninhas.

Desta forma, outras opções em herbicidas foram consideradas, com o herbicida dicamba ganhando mercado no exterior, principalmente por ser uma alternativa no controle de certas plantas infestantes com resistência ao glifosato, como a buva (Conyza spp.), e por apresentar poucas plantas resistentes ao seu mecanismo de ação.

Conhecendo o herbicida dicamba

O dicamba (ácido 3,6-dicloro-2-motoxibenzoico) é um herbicida que pertence à classe dos herbicidas mimetizadores de auxina, pertencente ao grupo químico dos ácidos benzoicos, absorvido pelas folhas, caule e raiz.

Representação gráfica da Molécula presente no Dicamba. Fonte: Wikimedia Commons

Este herbicida apresenta eficiência no controle de plantas daninhas dicotiledôneas em culturas de trigo, milho, cana-de-açúcar e em pastagens, com recomendação semelhante ao 2,4-D.

O herbicida dicamba também é recomendado para o uso no pré-plantio das culturas da soja e algodão. Possui ainda alta solubilidade em água, caráter ácido, baixo coeficiente de partição octanol-água e baixa pressão de vapor.

Como característica central, o dicamba é um herbicida hormonal que tem a função de acelerar a maturação das lavouras. 

Porém, se ele é dispersado para lavouras de soja que não são resistentes ao químico, este herbicida pode causar um envelhecimento precoce das folhas, causando, dentre outras coisas, um retorcimento delas e, dependendo do estágio de desenvolvimento da planta, ela pode não se recuperar e ter perda de produtividade.

Mecanismo de ação do herbicida dicamba

Como já citado anteriormente, o dicamba é um herbicida sistêmico mimetizador das auxinas (Grupo O). Este é um herbicida que causa descontrole da divisão e do crescimento das células vegetais por atuar como uma auxina, um dos hormônios vegetais reguladores de crescimento.

Quando há a aplicação do dicamba na área infestada, a concentração de auxina na célula não pode ser regulada pelo metabolismo celular, mantendo-se sempre com níveis elevados. Com isso, o metabolismo celular fica desregulado, proporcionando elongação celular descontrolada e aumento na síntese proteica.

As substâncias de reserva são então mobilizadas e transportadas para os pontos de crescimento da planta, causando crescimento e reprodução celular abundante. Com isso, a planta daninha é levada à morte devido ao esgotamento de suas reservas e à inativação de mecanismos de reparo das células.

Por ser sistêmico, este herbicida é prontamente absorvido por raízes e folhas, sendo então translocado tanto pelo floema quanto pelo xilema.

O sintoma característico da ação deste herbicida é o de ramos torcidos por conta do aumento da plasticidade celular.

Os primeiros sintomas visuais nas plantas dicotiledôneas sensíveis são caracterizados por anormalidades no crescimento, como epinastia e inibição do crescimento com intensificação da pigmentação verde foliar dentro de 24 horas.

Estes fenômenos são seguidos por danos nos cloroplastos, causando clorose e destruição da integridade das membranas e do sistema vascular, culminando em dessecação e necrose dos tecidos.

Problemas no uso do Dicamba: grau de volatilidade e deriva muito altos

A venda do herbicida dicamba no Brasil iniciou-se na safra 2021/2022. No Rio Grande do Sul, por exemplo, foram comercializados 30.948 litros de dicamba a 469 usuários distintos. 

No estado, a maior parte das aquisições foi de menos de 100 litros do produto, indicando que produtores estão testando a eficácia do produto no manejo da lavoura de soja geneticamente modificada e que usam sementes Intacta2 Xtend. 

Porém, em todo o Brasil, a preocupação está relacionada com áreas próximas semeadas com soja convencional, como ocorreu nos Estados Unidos.

Nos EUA, agricultores de Nebraska reportaram que a tecnologia melhorou o controle de plantas daninhas de difícil controle. No entanto, injúrias causadas pelo movimento do herbicida para fora da área de aplicação (deriva) também foram reportadas e geraram perdas. 

Safra de soja mostra sinais de danos devido à deriva de dicamba
Safra de soja mostra sinais de danos devido à deriva de dicamba. Foto de Karen Pulfer Focht

Há a preocupação que a mesma coisa ocorra aqui também no Brasil. Aqui, o dicamba é considerado “perigoso” ao meio ambiente pelo Ibama. Já pela Anvisa, é classificado como “Improvável de Causar Dano Agudo”.

Quanto aos problemas, o herbicida dicamba apresenta maior propensão a volatilizar e evaporar, o que, junto a níveis de vento mais fortes, pode levar este produto químico para plantações vizinhas. Essa volatilização pode ocorrer por algumas razões, por exemplo, caso ocorra um calor muito intenso em até 72 horas após a aplicação do produto.

Muita atenção ao que diz a bula do produto

Onde é autorizado, o bom uso do herbicida dicamba exige o seguimento de algumas regras bastante específicas. Nos EUA, por exemplo, uma boa aplicação depende do cumprimento de mais de 20 itens, como condições de temperatura, vento, equipamento muito específico, com bico, pressão, volume de calda específicos.

Essas necessidades técnicas são fundamentais, tanto que a bula do produto indica categoria de gotas extremamente grossas ou ultra grossas para sua aplicação, o que exige pontas específicas para aplicação. 

Além do mais, as aplicações deste produto deverão ser feitas em fases iniciais do desenvolvimento das plantas daninhas, fisiologicamente ativas e em plena atividade.

Assim, para melhor uso, algumas recomendações devem ser seguidas dentro das boas práticas agrícolas, com este herbicida não devendo ser aplicado nas seguintes situações:

  • Se os ventos estiverem acima de 16 km/h;
  • Com temperaturas superiores a 29°C;
  • Umidade do ar abaixo de 40%.

Desta forma, se seguidas as recomendações, o herbicida dicamba se configura como uma ótima alternativa para o controle de plantas daninhas em pós-emergência, desde que seja respeitado o intervalo de segurança recomendado pela fabricante para a semeadura da soja convencional.

Por fim, com a previsão de disponibilidade da tecnologia Intacta2 Xtend® para as próximas safras, o manejo em pós-emergência da cultura da soja tem mais uma ferramenta eficiente que pode ser utilizada no manejo de plantas daninhas.

Referências

Economia G1

AENDA /noticia_imprensa/dicamba-para-ambientalistas-americanos-herbicida-pode-ser-um-problema/

EMBRAPA

UNESP

Wikimedia Commons

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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