Principais pragas do sorgo

O sorgo é uma cultura bastante utilizada no cultivo safrinha e apesar de apresentar maior resistência e rusticidade, possui problemas com pragas e esse artigo vai te informar sobre as principais pragas e como identificá-las e controlá-las para alcançar melhores produções.

O sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) é o quinto cereal mais cultivado no mundo. É muito utilizado no plantio da segunda safra, pois tolera os períodos de seca e suporta altas temperaturas. E, mesmo nessas condições, a cultura atinge boas produções de grãos e forragem.

Sorgo
Sorgo granífero. Fonte: Pioneer Sementes.

A produção da safra 2020/21 está estimada em 2,76 milhões de toneladas (10,5% maior que a safra anterior). Entretanto, esse potencial produtivo poderia ser ainda maior e a incidência de pragas e doenças na cultura são alguns dos fatores que afetam a produtividade.

Pensando nisso, esse artigo traz as principais pragas da cultura do sorgo, explicando seus sintomas, danos e melhores formas de controle.

As pragas do sorgo podem ser dividas em:

  • Pragas subterrâneas
  • Brocas do colmo
  • Pragas das folhas
  • Pragas da panícula

Pragas subterrâneas

Essas pragas são, geralmente, as mais difíceis de observar, mas causam danos expressivos nas sementes, plântulas e raízes. Esses danos prejudicam todo o desenvolvimento da planta e justamente por isso merecem muita atenção.

Larva-arame (Conoderus scalaris)

São larvas que quando adultas se parecem com vaga-lumes. Essas larvas estão presentes no solo e se alimentam das sementes de sorgo, levando a destruição dessa, e também atacam o sistema radicular das plântulas.

larva-arames, epecie de pragas do sorgo
Larva-arame. Fonte: Embrapa

Com o ataque o vigor das plantas são reduzidos, há falhas no estande, plantas mais fracas, raquíticas e mais sensíveis a estresses, causando perdas significativas na produção.

O controle recomendado é o uso de inseticidas no tratamento de sementes ou inseticidas granulados no sulco de plantio. Além do tratamento químico, métodos culturais como rotação de culturas também são eficazes.

Corós, bicho-bolo, pão-de-galinha

São larvas de várias espécies de besouros, que são facilmente identificadas pela curvatura do corpo em forma de “C” ou “U”.

pragas do sorgo
Corós. Fonte: Embrapa.

Os corós se alimentam do sistema radicular das plantas. Quando o ataque ocorre no início da cultura pode levar a morte das plântulas, causando redução na população. Já em plantas maiores há diminuição no vigor, aumento na susceptibilidade ao tombamento e a seca, além de serem porta de entrada para patógenos.

Alguns métodos de controle são a eliminação de hospedeiros alternativos e plantas voluntárias, destruição de restos culturais e também o uso de inseticidas. 

Brocas do colmo

Várias espécies de lepidópteros podem atacar a região do coleto do sorgo ou todo o colmo, inclusive o pedúnculo da panícula. São pragas limitantes à cultura e podemos destacar duas no Brasil.

Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)

Essas lagartas atacam a região do coleto da planta. É uma praga esporádica que causa grandes danos em pouco tempo. 

pragas do sorgo
Lagarta-elasmo. Fonte: Embrapa.

Os danos são causados principalmente em locais que tiveram períodos de estiagem logo após a emergência das plantas. As lagartas iniciam raspando as folhas em direção ao coleto, onde abre uma galeria vertical, ocasionando inicialmente murcha e levando a morte das folhas centrais (sintoma de “coração morto”).

Sua ocorrência é maior em solos leves e bem drenados. O plantio sob sistema de plantio direto reduz a incidência da lagarta, também são recomendados tratamentos de sementes com inseticidas sistêmicos à base de tiodicarb, carbofuran ou imidacloprid. Sob condições de estresse hídrico é recomendado inseticidas de contato e profundidade como clorpirifós.

Broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea spp.)

Os prejuízos causados por essa praga são pelo quebramento das plantas, sendo agravado por ventos fortes e plantios adensados. Em plantas mais desenvolvidas pode ocorrer tombamento.

pragas do sorgo
Broca-da-cana-de-açúcar. Fonte: Koppert.

Inicialmente as lagartas raspam o limbo foliar e dirigem internamente para a base da bainha das folhas onde penetram no colmo e abrem galerias ao se alimentarem. As galerias são verticais e ascendentes, podendo ser circulares seccionando o colmo, e quando contaminadas com fungos, apresentam uma coloração vermelha no interior do colmo.

Os métodos de controle utilizados em cultivos de cana com parasitóides é recomendado. O tratamento de sementes com inseticidas é eficiente no início da cultura, entretanto nos estádios mais desenvolvidos, a aplicação de inseticida pulverizado tem apresentado resultados limitados. A destruição de restos culturais reduz significativamente a infestação nos próximos plantios.

Pragas da folhas

Aqui temos as pragas que atacam as folhas da cultura do sorgo, como os pulgões e lagartas desfolhadoras.

Pulgão-verde (Schizaphis graminum)

Com coloração verde-limão e três riscas mais escuras no dorso, esse pulgão se alimenta na face inferior ou bainha das folhas mais velhas das plantas. É uma praga muito importante para a cultura do sorgo pois a reprodução por partenogênese e o potencial biótico desse pulgão faz com que alcance grande populações em um curto período de tempo.

pragas do sorgo
Pulgão-verde. Fonte: Embrapa.

Essa praga está presente desde a emergência das plantas até a maturação dos grãos de sorgo. Adultos e ninfas sugam a seiva das folhas e injetam toxinas que provocam bronzeamento e morte da área afetada, podendo levar a morte de toda a planta em altíssimas infestações.

Os adultos são importantes vetores de vírus, como o do mosaico da cana-de-açúcar que é capaz de causar danos significativos ao sorgo. Além disso, a intensa sucção de seiva produz excrementos que deixam as folhas pegajosas e provocam a fumagina, que reduz a taxa fotossintética.

O controle geralmente ocorre de forma natural com chuvas e inimigos naturais, porém na falta desses fatores, a população pode aumentar em até 10 vezes por semana. De maneira preventiva, para o controle nas fases iniciais, o tratamento de sementes ou uso de inseticidas sistêmicos no solo é recomendado. Já para a pulverização é necessário cautela, sempre escolhendo produtos seletivos para manter o equilíbrio dos inimigos naturais.

Pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis)

Essa espécie possui coloração verde azulada ou negra e ocorre geralmente em partes mais novas das plantas, se alimentando na face superior da folha.

Ninfas, adultos e colônia do pulgão-do-milho. Fonte: Embrapa.

Diferente do pulgão-verde, essa espécie não introduz toxina, o que dificulta a detecção dos danos Assim, os danos são significativos apenas quando a cultura está com alta infestação e sob estresse hídrico ou quando há fonte de inóculo de viroses próximas à área. 

Nas plantas em situação de estresse hídrico as folhas apresentam murchas com bordas necrosadas. Quando com viroses, as folhas apresentam mosaico verde claro com verde escuro.

Esse pulgão normalmente não requer controle, mas em condições críticas devem ser adotadas as mesmas medidas indicadas para o pulgão-verde.

Pulgão-da-cana-de-açúcar (Melanaphis sacchari)

Esse pulgão tem causado grandes prejuízos nos últimos dois anos em cultivos de sorgo. Se trata de uma praga nova mas que, dependendo do nível de infestação, é capaz de destruir toda a lavoura.

Pulgão-da-cana-de-açúcar. Fonte: Embrapa.

Ninfas e adultos se alimentam na face inferior das folhas de sorgo, através da sucção da seiva. Com a sucção há uma mudança de cor nas plantas, que passam para um bronze avermelhado até atingir a coloração marrom que indica a morte do tecido vegetal.

Esse pulgão produz grande quantidade de exsudado açucarado, que dificulta a colheita mecanizada em razão do melado. Também aumenta a incidência de fumagina, comprometendo a fotossíntese e  criando uma camada que dificulta a absorção de inseticidas e dessecantes aplicados.

A infestação ocorre de maneira muito rápida e tem maiores danos quando ocorrem antes do emborrachamento, pois causa a não emissão ou desuniforme emissão das panículas. Por ser uma praga nova para a cultura, ainda não há produtos registrados, sendo o monitoramento o principal aliado para evitar danos. Ainda assim, alguns produtos registrados para pulgões têm servido de referência aos produtores.

Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)

Nos últimos anos essa espécie tem sido umas das principais pragas da cultura do sorgo, podendo reduzir até 27% da produção de grãos. 

 Lagarta-do-cartucho. Fonte: Embrapa.

São encontradas dentro do cartucho das plantas durante o dia e com atividade intensa de migração durante a noite. Inicialmente raspam o limbo foliar, quando maiores as lagartas se alimentam do “palmito” (folhas antes de abrir), causando lesões simétricas quando as folhas se abrem. Em infestações tardias, o limbo foliar das últimas folhas pode ser totalmente consumido restando apenas a nervura principal.

O principal controle é o químico, lembrando que é importante que o produto atinja o interior do cartucho da planta, recomendando alto volume de calda. É necessário se atentar para o uso de produtos seletivos para evitar o desequilíbrio biológico, o que pode resultar numa alta infestação do sorgo pelo pulgão-verde. Além do controle químico há inimigos naturais como tesourinhas que predam ovos e lagartas pequenas e produtos biológicos como Bacillus thuringiensis (Bt).

Lagarta militar ou curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes)

A lagarta militar pode ser facilmente reconhecida pela forma de se locomover do tipo “mede palmo”. Além disso possui coloração brilhante, com fundo escuro e faixas amarelas longitudinais. 

Lagarta militar. Fonte: Embrapa.

O ataque se inicia nas folhas do baixeiro chegando a destruição de todas as folhas. Acontece  inicialmente nas bordas da lavoura ou em reboleiras com plantas infestantes. Com o ataque ocorre redução da área foliar e se o uso for para silagem as perdas são ainda maiores.

O controle é mais fácil do que a lagarta-do-cartucho, pois aqui as lagartas se alimentam da folha aberta e ficam mais expostas ao controle natural e ação de inseticidas. Controle biológico a base de Bt também são recomendados.

Pragas da panícula

Essas pragas atacam o produto final que é o grão, influenciando na qualidade e produtividade final.

Lagarta-da-espiga do milho (Helicoverpa zea) e Lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda)

Já falamos sobre a lagarta-do-cartucho e seus prejuízos sobre as folhas do sorgo, porém ela também pode atacar a panícula durante a fase de enchimento dos grãos juntamente com a lagarta-da-espiga.

Elas se alimentam dos grãos leitosos e causam danos diretos na produção. Porém, nas condições de cultivos brasileiras, quase não se tem problemas com essas lagartas na panícula e o controle natural é muito eficaz.

Mosca-do-sorgo (Stenodiplosis sorghicola)

É uma das pragas-chaves da cultura do sorgo cultivado no verão, entretanto, para o cultivo em safrinha onde as temperaturas durante o florescimento são amenas, a infestação é muito baixa e por isso não se tem tanta atenção.

Mosca-do-sorgo. Fonte: Agrolink.

As larvas se alimentam durante a formação do grão e os danos só são percebidos após a granação com um grande número de espiguetas chochas. Em altas infestações é possível ter perdas totais em lavouras de sorgo granífero.

O controle é feito no inseto adulto, pois a larva fica protegida dentro da espigueta do sorgo sendo praticamente impossível o seu controle. São utilizadas várias medidas culturais para reduzir a população como eliminação do sorgo selvagem em áreas próximas, florescimento planejado para antes do pico populacional, híbridos com floração uniforme. O controle químico só é recomendado como último recurso.

Percevejos da panícula

Várias espécies de percevejos infestam a panícula do sorgo durante o desenvolvimento dos grãos. É possível dividirmos em dois grupos:

  • Percevejos grandes: Percevejo-gaúcho (Leptoglossus zonatus), Percevejo-verde (Nezara viridula) e Percevejo-pardo (Thyanta perditor)
  • Percevejos pequenos: Percevejo-do-sorgo (Sthenaridea carmelitana) e Percevejo-chupador-do-arroz (Oebalus spp.)

As ninfas e adultos desses insetos se alimentam principalmente dos grãos em enchimento, e em alguns casos de partes da panícula. Dependendo da população conseguem reduzir até 59,5% do peso dos grãos e mais de 98% na germinação e vigor das sementes, sendo um grande problema em campos de produção.

Com a sucção da seiva, os grãos se tornam manchados e ficam com o tamanho reduzido. Alguns percevejo também podem inocular agente fitopatogênicos nos grãos.

O controle natural é realizado por parasitóides de ovos. O controle químico tem a limitação da entrada em campo do trator, mas se houver outros métodos como água de irrigação ou pulverização aérea, é recomendado o uso de inseticidas fosforados ou carbamatos.

Conclusão

Existem muitas pragas importantes para a cultura e a correta identificação ainda é o primeiro passo para o correto manejo.

O cultivo safrinha de sorgo, que é difundido no Brasil, permitiu que problemas com as pragas mais tradicionais da cultura (como a mosca-do-sorgo) fossem evitadas.

Nenhum manejo de forma isolada é eficiente e o uso de controle químico precisa ser utilizado com cautela para manter os inimigos naturais e não subir a população de outras pragas. É sempre bom buscar informações de MIP (manejo integrado de pragas).

Referências

EMBRAPA: Cultivo do Sorgo

EMBRAPA: Pesquisadores alertam sobre ataque de pulgão-da-cana-de-açúcar em lavouras de sorgo

Sementes Biomatrix: Novo pulgão no sorgo: biologia, comportamento e danos

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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