Satélite agricultura

Satélites: como uma tecnologia militar está revolucionando a agricultura

Se você nasceu depois dos anos 2000, muito provavelmente não sabe o que é viajar pra praia dirigindo sem o auxílio de um GPS

Essa tecnologia mudou o modo de vida da nossa geração, e a agricultura não ficou de fora. 

A história dos satélites

A história dos satélites artificiais que conhecemos ganha evidência durante a corrida espacial (1957 – 1975) que levou o homem à lua após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). 

Tanto os satélites imageadores quanto os utilizados para posicionamento (ou geolocalização) eram, a princípio, exclusivos de uso militar utilizados pelos Estados Unidos e a antiga União Soviética.

Só no ano 2000 que o sinal de GPS, que é o nome comum de um dos sistemas dentro da tecnologia GNSS (Global Navigation Satellite System), foi liberado para o uso civil e então começou a revolucionar o modo de viver da sociedade, principalmente na locomoção das pessoas e veículos.

Alguns anos mais tarde a agricultura também começou a ser mudada por essa tecnologia até chegarmos na realidade atual, onde é possível posicionar a linha de semeadura todas as safras exatamente no mesmo local com uma precisão de centímetros e até mesmo verificar a sanidade da sua lavoura utilizando imagens de satélite a centenas de quilômetros de distância.

Tipos de satélite

Existem diversos tipos de satélites artificiais orbitando nosso planeta nesse momento. Alguns destinados à meteorologia, outros à captura de imagens, posicionamento, comunicação, alguns exclusivos para uso militar etc.

Nesse artigo vamos conhecer dois grupos de satélites que são amplamente utilizados na agricultura. São eles:

1. Satélites Imageadores ou de sensoriamento

De modo bem didático, os satélites imageadores são como máquinas fotográficas que ficam orbitando nosso planeta e tirando fotos que são instantaneamente mandadas para a Terra.

Esses satélites também conseguem captar imagens em comprimentos de onda que nossos olhos não conseguem, como o infravermelho, e isso é muito útil na agricultura e já já você vai entender o porquê. 

Os satélites imageadores orbitam, em média, entre 700 e 1.000km de altitude. 

Pivôs fotografados por satélites imageadores próximos a Lucas do Rio Verde – MT. Fonte: Google Earth
Pivôs fotografados por satélites imageadores próximos a Lucas do Rio Verde – MT. Fonte: Google Earth

2. Satélites de posicionamento

Um outro grupo de satélites extremamente útil dentro da agricultura são os satélites destinados ao posicionamento. 

GNSS (Global Navigation Satellite System) é o nome dado para os sistemas de satélite que permitem que receptores aqui na terra (como seu celular ou uma antena em cima do seu trator) forneçam sua localização através de coordenadas geográficas, em diversos níveis de precisão. 

Atualmente dois sistemas são completamente operacionais com cobertura global. O sistema GPS, americano, composto por uma constelação de 24 satélites e o sistema GLONASS, russo, composto por 28 satélites onde 24 estão em operação. 

Também existem outros sistemas de GNSS em órbita como o chinês BDS e o Galileo, que pertence à União Europeia. 

A precisão da sua localização vai depender do receptor que você está utilizando, podendo variar em média entre 5 metros para receptores mais simples (como seu celular) e 1 centímetro para os mais elaborados, mas esses carinhas merecem um artigo só sobre eles. 

Os satélites de posicionamento orbitam, em média, há 20.000km de distância.

Localização de um trator no talhão possibilitada através dos satélites de localização. Fonte: adaptado de 1ZOOM.ME
Localização de um trator no talhão possibilitada através dos satélites de localização. Fonte: adaptado de 1ZOOM.ME

Aplicações dos satélites na agricultura

Diversas são as aplicações dos satélites na agricultura. Vamos ver 6 exemplos de como elas facilitam – e muito – a vida do produtor rural.

1. Amostragem de solo georreferenciada

Os satélites de posicionamento permitem que você encontre, sempre que necessário, o mesmo ponto dentro do seu talhão com uma precisão considerável. 

Isso possibilita a amostragem de solo georreferenciada, o que permite ao produtor a confecção de mapas espaciais da variabilidade da fertilidade daquela área, por exemplo.

Exemplo de amostragem de solo em grid e confecção de um mapa de acordo com a variabilidade. Fonte: Agriterra – concessionária Stara
Exemplo de amostragem de solo em grid e confecção de um mapa de acordo com a variabilidade. Fonte: Agriterra – concessionária Stara

2. Tratores autônomos

Hoje em dia muitos tratoristas são, na verdade, fiscais do trabalho dos tratores do que propriamente motoristas. Com o uso dos receptores GNSS é possível que o trator se dirija sozinho da garagem da fazenda até a cabeceira do talhão.

Uma vez na cabeceira, o uso do popular “GPS” permite que o trator realize diversas atividades dentro do talhão sem que o tratorista precise “suar a camisa”. Os itens 3, 4 e 5 a seguir são exemplos de operações que são possibilitadas pelo emprego do GPS

3. Repetibilidade e paralelismo das linhas de plantio

Em quase todas as culturas, algumas de forma mais crítica como a cana-de-açúcar, é interessante a repetibilidade e paralelismo das linhas de plantio safra após safra, e isso é possibilitado através dos satélites de posicionamento associados a receptores específicos aqui na Terra. 

4. Desligamento de seção

Em culturas anuais, por exemplo, o uso do GPS possibilita passadas perfeitamente paralelas da semeadora, ficando praticamente impossível distinguir a divisa de uma passada da outra, e assim as linhas de plantio ficam perfeitamente equidistantes. 

Uma outra coisa possibilitada pelo GPS é desligamento de seção das semeadoras quando o trator passa por uma área que já foi plantada, gerando imagens satisfatórias como essa abaixo:

Linhas de plantio de milho sem sobreposição de passadas possibilitada pelo GPS. Fonte: John Deere UK
Linhas de plantio de milho sem sobreposição de passadas possibilitada pelo GPS. Fonte: John Deere UK

O desligamento de seção também tem sido cada vez mais empregado na pulverização, evitando sobreposição na aplicação de produtos na lavoura através do controle bico-a-bico ou seção-por-seção.

Comparação de sobreposição de pulverização usando tecnologias de controle de bicos via posicionamento GNSS. Fonte: Jacto.
Comparação de sobreposição de pulverização usando tecnologias de controle de bicos via posicionamento GNSS. Fonte: Jacto.

5. Uso de taxa variável

A taxa variável é uma das sensações da Agricultura de Precisão e também é possibilitada graças aos satélites que orbitam nosso planeta, tanto os imageadores como os de posicionamento. Através de mapas de recomendação de fertilizantes e corretivos em taxa variável, é possível aplicar a quantidade mais adequada em cada metro quadrado da lavoura. Além disso, a taxa variável também pode ser utilizada para recomendação de sementes, herbicidas, nematicidas e diversos outros insumos.

Você pode entender melhor sobre essa técnica nesse artigo do blog.senix.

6. Sensoriamento remoto

Por último – e não menos importante – nessa lista de ferramentas que são possibilitadas pelo uso de satélites está um dos tipos de sensoriamento remoto (você pode saber mais sobre sensoriamento por drones e outras ferramentas na agricultura nesse artigo e uma comparação entre drones e satélites nesse artigo aqui).

Uma das formas mais simples de se começar a fazer Agricultura de Precisão e que não demanda nenhum equipamento “hi-tech” a não ser um computador normal e o conhecimento técnico é o uso de imagens de satélite.

Com as imagens de satélite é possível obter diversos índices de vegetação onde o mais comum deles é o NDVI, que permite inferir sobre a sanidade da lavoura.

Alguns satélites também possuem bandas termais, que podem ser utilizadas para inferir sobre estresse hídrico das plantas (entre outras coisas), além das imagens comuns (RGB) que podem ajudar na identificação de grandes falhas de plantio, por exemplo. 

Índice de Vegetação NDVI em um talhão evidenciando a variabilidade espacial. Fonte: International Journal of Geo-Information. 2017. DOI: 10.3390/ijgi6070189
Índice de Vegetação NDVI em um talhão evidenciando a variabilidade espacial. Fonte: International Journal of Geo-Information. 2017. DOI: 10.3390/ijgi6070189

Nós fizemos um artigo bem completo sobre o uso de imagens para agricultura que você pode acessar aqui.

Agora que você já sabe como os satélites estão relacionados à agricultura, está convencido a deixar esses amigos distantes ajudarem na gestão da sua lavoura?

Curta, comente, compartilhe esse artigo e fique atento às nossas atualizações sobre tecnologias no mundo agro.

Referências

Molin, J. P. Aplicação de GPS de navegação na agricultura. ESALQ/USP – http://www.ler.esalq.usp.br/download/gmap/CursoGPS.pdf.

INPE. Satélites de sensoriamento remoto – http://www.dsr.inpe.br/vcsr/files/capitulo_2.pdf.

GPS e agricultura. Agrolink

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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