Saiba como funciona a comercialização da soja brasileira

A soja é o principal produto de exportação do agronegócio brasileiro. Nos últimos 40 anos, a produção nacional de soja se multiplicou mais de quatro vezes, saindo de 26 milhões de toneladas para 135.978,3 milhões de toneladas da safra 2020/21, transformando o país no maior exportador mundial do grão (veja mais sobre o aumento de produtividade de soja aqui). Mas você sabe como ocorre a comercialização da soja brasileira?

A grande maioria de toda a comercialização da soja brasileira se dá através da comercialização dela como commodity. No entanto, o mercado de commodities é bastante dinâmico, pautado principalmente pela lei da oferta e da demanda e dependendo do contexto econômico de cada safra, uma forma de comercialização pode ser melhor que a outra.

Diante disso, as diversas modalidades de venda e comercialização da soja, assim como a forma de entrega e principais compradores são fatores que podem gerar várias dúvidas para muitos produtores rurais.

Para ajudar os produtores neste sentido, fizemos este material. Nele, daremos uma abordagem mais geral sobre quais são as opções de comercialização da soja, assim como as informações relacionadas a essas modalidades.

comercialização da soja  brasileira
A comercialização da soja brasileira. Fonte: Canal Rural

Modalidades de comercialização da soja brasileira

Vender toda a soja de uma forma que o valor obtido cubra todos os custos e gere o máximo de lucratividade é uma meta de todo produtor agrícola. Por isso, conhecer as formas de negociação e comercialização de soja adquire a mesma importância que plantar e colher bem!

Dessa forma, as negociações da soja podem ocorrer das seguintes maneiras:

  • Mercado físico (spot, cash ou à vista);
  • Mercado a termo;
  • Mercado futuro;
  • Mercado de opções;
  • Operação Barter

Essas modalidades de comercialização da soja são praticadas em todo o mundo, com grande participação do Brasil. Conhecê-los significa trazer um diferencial importante na busca por melhores preços.

Assim, cabe ao produtor ter ciência que as várias formas de comercialização da soja apresentam vantagens e desvantagens, como abordaremos a seguir.

Mercado físico

No mercado físico, conhecido como spot, cash ou à vista, os negócios ocorrem de forma imediata, ou seja, há a compra e a entrega do produto em um mesmo momento. 

negociação no mercado físico
Negociação no mercado físico. Fonte: AFNEWS

O mercado físico é marcado pelo relacionamento direto entre compradores e vendedores, definindo preço, espécie e data de entrega, que pode ser anterior ou após o fechamento da operação comercial. Nessa estratégia, o produtor assume a responsabilidade de secar e limpar os grãos. 

  • Vantagens: possibilita aproveitar oportunidades pontuais do mercado e garante disponibilidade financeira imediata.
  • Desvantagens: sujeito às oscilações no preço.

Para realizar a venda da soja no mercado físico, os negócios devem ser feitos com as tradings ou outros compradores.

Mercado a termo

No mercado a termo, também conhecido como hedge, as transações ocorrem em dois ou mais momentos no tempo. Com o hedge, tudo é acordado de forma antecipada, desde a quantidade de mercadoria, entrega, local, meio de transporte, forma de pagamento e qualquer outro ponto necessário.

O objetivo central desta operação de comercialização da soja é proteger o valor do produto em uma data determinada. A chamada “trava”.

  • Vantagens: garantia de preços sem necessidade de gastos e grande flexibilidade de modelos de transação. Essa é uma forma de o produtor se garantir de volatilidades ou de um cenário de perdas de preços.
  • Desvantagens: impossibilidade de aproveitar oportunidades do mercado, risco de não cumprimento do contrato, dependendo da aposta do produtor.

Mercado futuro

Como já salientado, a soja é uma commodity, e por isso, o mercado futuro deste grão é negociado na Bolsa B3 (antiga BM&FBovespa) ou ainda CBOT (Bolsa de Chicago, nos EUA).

As negociações de mercado futuro visam garantir o patamar de preços em um momento que o produtor considera bom para ele. Os sojicultores utilizam o mercado futuro para garantir os custos de produção como forma de se capitalizar para investir na lavoura.

Por meio dessa operação, o produtor pode fixar o preço de venda da soja na Bolsa com a garantia de que receberá o valor esperado no futuro.

  • Vantagens: proteção a variações negativas do mercado, garantia do recebimento do produto por parte do comprador, além de liquidez nas negociações oferecidas pela bolsa.
  • Desvantagens: Há a impossibilidade de aproveitar variações positivas do mercado, necessidade de capital para composição de margem de garantia, ajustes e taxas de corretagem e influência das oscilações de câmbio (operações em dólares).

Mercado de opções

O mercado de opções está intimamente ligado ao mercado futuro e também ao hedge, do mercado a termo.

Nesta modalidade de comercialização da soja, são realizados contratos que asseguram o direito de compra e venda de algum ativo, que pode ser físico ou futuro.

O direito de compra, também chamado Call, o comprador pode comprar um contrato futuro com base num preço pré-estabelecido. Já a obrigação de venda, ou Put, o vendedor tem a obrigação de vender caso seja desejo do comprador adquiri-lo.

  • Vantagens: proteção de baixa dos preços, sem ficar atrelado a preços pré-estabelecidos. 
  • Desvantagens: Exige desembolso financeiro, é mais vulnerável às oscilações do câmbio, além disso, há o risco de ser preciso aplicar mais recursos financeiros, principalmente caso não haja variação positiva.

Barter – uma das operações mais modernas das transações da soja

Com a constante modernização do agronegócio, as estratégias ligadas à comercialização da soja estão cada dia mais específicas. Na atualidade já é possível comprar insumos agrícolas sem tirar dinheiro do bolso. 

Essa modalidade, que já vem sendo bastante adotada por muitos produtores, recebe a designação de Barter ou Operação de Barter. Essa é uma prática relativamente simples, onde há a negociação dos insumos necessários para a produção da soja, tendo como moeda de pagamento a própria soja.

Com essa forma de negociação, o crédito agrícola pode ser otimizado, visto que o fruto do próprio trabalho serve como garantia dos recursos, não havendo a necessidade de levantá-los em instituições financeiras, por exemplo.

Operação de barter simples: Fonte: Terra Magna

Dentre os benefícios do barter, pode-se citar a maior segurança ao produtor, maior possibilidade de contornar o gargalo logístico de armazenamento (ainda recorrente no Brasil), além de evitar problemas quanto às elevadas taxas de juros de financiamentos, já que esse tipo de operação é travado desde o início. 

Saiba mais sobre o Barter nesse outro artigo do nosso blog.

Quem são os compradores da soja brasileira?

Vimos até aqui as modalidades de comercialização de soja e como elas funcionam de uma maneira bastante breve. Mas uma questão surge neste escopo: quem são os compradores da soja, ou melhor, com quem o produtor deve negociar seu produto?

Quatro são os tipos de compradores da soja, abaixo apresentados:

  • Indústrias: Representadas pelas empresas de grande porte que realizam a compra do grão, utilizando-o na produção de alimentos industrializados, caso do farelo e do óleo de soja. Dependendo do tamanho da indústria, ela também pode atuar como trading;
  • Tradings: Empresas do mercado financeiro que têm o papel de intermediar negociação entre produtores e compradores, do mercado nacional e internacional. Normalmente, o produtor negocia vendas ao exterior com as tradings ou corretoras de tradings. Na maioria dos casos, as tradings realizam as compras nos portos.
  • Cooperativas: As cooperativas são grandes parceiras de produtores de soja. Elas compram a soja para produção de produtos dentro da própria cooperativa ou para negociar em lotes com tradings, indústrias ou compradores internacionais;
  • Cerealistas: Estes compradores atuam de forma muito parecida com a das cooperativas, podendo atuar tanto como intermediários como produtor de alimentos;
  • Empresas de insumos: Esse tipo de negociação serve basicamente para trocas, o chamado barter. O produtor paga os insumos agrícolas com a produção de soja.

Saiba mais sobre os subprodutos da soja aqui.

Como realizar a entrega da soja comercializada?

Agora que já sabemos quais são as modalidades de comercialização de soja, além dos principais compradores da produção, chegou a hora de saber como realizar a entrega da soja para seu respectivo comprador.

Há basicamente dois conceitos, que se diferenciam, entre outras coisas, pelo momento em que o pagamento será feito: CIF (Cost, Insurance and Freight) e FOB (Free on Board).

Em português, CIF significa “custo, seguro e frete”. Nele, a responsabilidade pela entrega é do vendedor. Ou seja, é ele quem paga os custos de frete e operação portuária. Os riscos e o seguro da mercadoria também são de responsabilidade do produtor. 

Por exigir mais trabalho do produtor, a remuneração do CIF costuma ser maior que na modalidade FOB.

A modalidade FOB (livre a bordo, em português), por sua vez, representa uma operação um pouco diferente. Nela, cabe ao comprador assumir as responsabilidades pelo transporte do grão até o porto, tanto na questão de perdas e danos. 

Com isso, desconta-se da remuneração as taxas portuárias e o frete. Tem uma cotação menor.

A tabela a seguir apresenta, de forma resumida, as principais diferenças entre essas duas modalidades de entrega da mercadoria.

Tabela 1: Frete, Fonte: UFPR

Por fim, tanto a escolha pela comercialização da soja, quanto a forma de entrega da produção dependem de um bom planejamento e uma gestão que esteja sempre atrelada às constantes mudanças do mercado nacional e internacional de commodities. Ao fazer isso, você terá maior controle da produção e consequente lucratividade.

Referências

Canal Rural

UFPR

AFNEWS

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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