Logística de escoamento de grãos: história, avanços e desafios

Com dimensões continentais e uma produção agrícola considerada referência no mundo todo, o Brasil tem uma longa história quando o assunto é logística de escoamento de grãos. Atualmente, na matriz de transportes brasileira, o modal rodoviário representa 61,1% do total; o ferroviário, 20,7%; o aquaviário, 13,6%; o dutoviário, 4,2% e o aeroviário, apenas 0,4%, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT). Quando é levada em consideração apenas a chegada de grãos em portos (algo recorrente, já que o Brasil está entre os principais exportadores do mundo), a situação é diferente. Isso porque 47% dos grãos chegam aos portos por ferrovias, 42% por rodovias e 11% por hidrovias. 

A história, contudo, nem sempre foi assim. Isso porque a logística de escoamento contou com importantes mudanças ao longo dos séculos e hoje é bem diferente daquela existente no passado. Esse processo de desenvolvimento, aliás, é recorrente em diversas áreas, especialmente no que se refere ao setor agro. 

O armazenamento de alimentos está diretamente ligado aos avanços da humanidade. No Antigo Egito, por exemplo, muitas pessoas armazenavam o excedente de trigo e papiro para utilizá-los como moeda de troca. Já no Império Romano, soldados mantinham repartições na zona de batalha dedicadas exclusivamente a alimentos, água e armamentos. 

Mais tarde, celeiros se tornaram comuns em diversas partes do mundo e, dessa forma, produtores passaram a armazenar grãos e sementes de maneira muito mais eficiente e organizada. 

Foi a partir disso que a região que liga o sul da Europa, o norte da África e o oeste da Ásia se tornou um verdadeiro centro de comércio, com diversos espaços para o armazenamento das mais diversas culturas. 

processo de escoamento de grãos
Imagem: Farm News 

Também foi nesse período, no século XVII, que as embalagens para alimentos começaram a ganhar mais espaço e, em algumas regiões, passaram até mesmo a ser padronizadas. Havia, já naquele tempo, cuidados para proteger a mercadoria, especialmente porque na maioria das vezes ela seria transportada a cavalo ou de navio. 

Quando se fala em avanços tecnológicas muitas vezes se faz necessário destacar o papel desempenhado pela Revolução Industrial, ocorrida no século XIX. Naquele momento o trabalho realizado em indústrias se sobrepôs ao dos artesãos, o que teve diversas consequências, desde o aumento da produção até a redução de tempo e recursos dispensados em cada produto. 

Outra mudança que se fez necessária a partir da Revolução Industrial foi a instalação de postos de abastecimento em pontos estratégicos, sobretudo na Europa. Isso se fez necessário porque o aumento da produção gerou escassez de matérias-primas devido à distância geográfica entre minas e fábricas. Sendo assim, esses postos de abastecimento permitiam um acesso mais rápido à matéria-prima.  

Ainda que já tivesse avançado bastante, o sistema de transportes de mercadorias ainda precisava de um elemento essencial: os containers, criados em 1955 e responsáveis por oferecer vantagens como maior segurança no transporte, movimentação de grandes volumes, empilhamento em navios, redução de acidentes durante o manuseio e transporte de alimentos a granel, como açúcar e soja

A partir daí, tudo ficou mais fácil para os produtores. Mas isso não significa, nem de longe, que eles puderam ficar livres de preocupações. Existem preocupações em relação a prazos, trâmites burocráticos, melhores formas de transportar os produtos e meios adequados para armazená-los. Isso fez com que os parâmetros de desempenho e de qualidade se tornassem cada vez mais elevados.  

Por isso, o armazém é um setor fundamental para qualquer produtor, já que é o local em que as mercadorias são recebidas, separadas e estocadas. Hoje, mais do que nunca, cabe ao produtor ter armazéns bem preparados e organizados, para que possa atender com precisão a consumidores dentro e fora do país. 

mapa de escoamento de grãos
Imagem: CNA

Desafios da logística na agricultura

Outro desafio da logística de escoamento de grãos no Brasil é o transporte dentro do país, já que muitas rodovias, sobretudo nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, estão em condições precárias, o que prejudica o transporte para essas áreas. 

Saiba mais sobre os corredores de escoamento de grãos no Brasil neste outro artigo do nosso blog!

Outro fato que chama a atenção é que apesar da região Centro-Oeste e do Matopiba (região formada por áreas majoritariamente de cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) concentrarem mais da metade da safra de grãos, cerca de 70% do escoamento ainda são feitos pelo Sul e Sudeste.

Para exemplificar com ainda mais clareza, basta observar as dificuldades para chegar até São Luís (MA), visto que as estradas para o Maranhão estão em péssimas condições. A solução, portanto, é o transporte pela ferrovia que chega ao Tegram, no Maranhão. No entanto, o trajeto passa por Carajás, no Pará, e por isso o terminal não consegue operar em sua plenitude, já que há uma concorrência com o minério. 

Nesse sentido, a situação do Brasil é muito diferente à dos Estados Unidos. Estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra que o Brasil possui 25 km de rodovias pavimentadas para cada 1 mil quilômetro quadrado de território. O número é 17,5 vezes menor que o que dos Estados Unidos, onde há 438 km para cada 1 mil quilômetro quadrado de área. É por isso que o país norte-americano tem um sistema de escoamento de grãos considerado referência no mundo todo.

Conclusão

A história da logística de escoamento de grãos atravessa os séculos e tem, como elemento fundamental, o desenvolvimento tecnológico, desde a criação de armazéns até o uso de containers. 

Hoje o Brasil transporta grãos de muitas maneiras, sempre com eficiência e planejamento. Contudo, esse trabalho pode se tornar ainda melhor, desde que haja maior investimento em rodovias, sobretudo nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Somente assim o Brasil poderá ter uma logística tão eficiente quanto a dos Estados Unidos, hoje referência mundial. 

Referências

CNA

Embrapa

Portal do Agronegócio

Macro Logística

Porto Gente

Blog Logística

Jornalista, mestre em Tecnologias, Comunicação e Educação, revisor e redator freelancer. Atua como repórter e assessor de imprensa e já publicou dois livros como autor independente. Tem interesse por cinema, literatura, música e psicanálise.

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