A logística dos grãos: os corredores de escoamento da produção no Brasil

Diante da grandeza do agronegócio como um dos principais setores em geração de renda para o Brasil, conheça a importância e a variabilidade dos esquemas de logística dos grãos no processo de escoamento, o que impacta diretamente o desenvolvimento de todo o setor.

A logística agrícola no Brasil

Em 2019, o agronegócio foi responsável por 21,4% (R$ 1,55 trilhão) do PIB (Produto Interno Bruto) do país, onde o setor agrícola representou 68% desse valor e a produção de grãos foi a maior responsável por esses números.  

Segundo a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) no levantamento da produção de grãos de 2020, o volume da produção dos commodities no país atingiu 253,7 milhões de toneladas, alcançando mais uma safra recorde.

O grão de soja, seguido do milho e posteriormente do café, carregam o maior volume de produção dentro do Brasil, logo demandam as mais variadas estratégias logísticas como escoamento e exportação.

Mapa com a logística dos grãos:
Fonte: Confederação Nacional de Abastecimento – CONAB (2020).

No contexto de mundo globalizado, onde praticamente tudo que é produzido está disponível em todos os cantos do globo, a logística é uma das atividades mais essenciais para que tudo isso aconteça e, definitivamente, tem grande importância dentro da nossa realidade de país continental e produtor.  

Diante da grande realidade de produção, dia após dia, o setor movimenta uma série de processos que influenciam diretamente na economia do país pois, até um produto chegar às mãos do consumidor, existe um grande ciclo pelo qual ele passa, desde a fazenda à mesa.

Logística da distribuição de grãos e derivados no Brasil.
Logística da distribuição de grãos e derivados no Brasil. Fonte: CNT (2017)

Portanto a logística consiste em um processo de armazenamento e transporte de mercadorias, com a finalidade de viabilizar e direcionar o escoamento, utilizando o melhor percurso no menor tempo e custo possível.

Isso significa dizer que, quando qualquer produto percorre esse trajeto traçado entre um local e outro, existem diversas atividades acontecendo simultaneamente, envolvendo motoristas, engenheiros, técnicos em logística, programadores, economistas etc. 

Devido à desvalorização da moeda brasileira, o cenário relacionado ao mercado externo é de alta competitividade, onde o custo de transporte faz com que se altere o preço final do produto, tornando-o mais elevado e menos cotado pelos importadores internacionais. 

No caso do escoamento de grãos, que tem grande relevância para o desenvolvimento econômico do país, um frete com custo muito elevado acarreta ao país perda na competitividade. 

Nesse contexto, investimentos visando obter melhorias no transporte podem reduzir tais custos e aumentar a eficiência, por isso dá-se tamanha relevância para o estudo do escoamento de grãos, ainda mais em uma realidade de preços exorbitantes de combustíveis fosseis. 

Escoamento de grãos

Ocorrem duas etapas no processo de escoamento da produção de grãos no Brasil:

A 1ª etapa consiste no transporte dos produtos até os armazéns. Após a colheita nas áreas produtoras, os grãos são alocados em armazéns, onde o transporte até eles é feito pelo modal rodoviário.

O custo do transporte é mais elevado nesta etapa, uma vez que a má infraestrutura das rodovias e o alto preço no diesel implica em maiores valores de frete.

A 2ª etapa é a do escoamento dos armazéns até os portos para a exportação ou para as indústrias nacionais. A escolha do transporte nessa parte é essencial. Na maioria das vezes é feita através de rodovias, podendo aumentar o custo, que aumentam conforme a distância. 

Desafios logísticos no Brasil

O Brasil é um país com dimensões continentais. Diante desse cenário, reduzir os custos com a logística é um ponto diferencial de sustentabilidade para o agronegócio em geral, especialmente no setor de grãos pela grande quantidade exportada anualmente.  

Tais reduções podem se tornar mais expressivas em áreas de produção distante dos portos, como o Cerrado, por exemplo. 

Um outro desafio é a condição da malha rodoviária que, em grande parte do país, estão em condições bastante precárias, o que acarreta em custos de manutenção dos veículos, implicando fretes mais caros que os eventuais.  

Desafios logísticos de grãos no Brasil
Desafios logísticos no Brasil. Fonte: Sipagro (2017)

Desse modo, somado as estruturas de armazenagem mal localizadas, com a falta de subsidio do governo para construção de silos dentro das propriedades, torna-se quase que obrigatório um escoamento imediato das safras logo após a colheita.

Uma pesquisa sobre a qualidade das rodovias brasileiras em 105.814km de rodovias pavimentadas nos anos de 2016 e 2017 mostrou uma queda na qualidade geral das rodovias. 

Condições das rodovias brasileiras. Fonte: CNT (2017)

A logística nos EUA

A cadeia logística americana também tem suas dificuldades, pois abrange diversos produtores e modais (rodovias, hidrovias, ferrovias), sendo influenciada por fatores como preço, clima, sazonalidade, atraso de transição de modal, etc.

Ademais, mesmo diante de algumas complexidades, o transporte estadunidense é considerado o principal responsável pela versatilidade e eficiência do mercado de grãos norte-americano.

Isso se dá não só pela flexibilidade em relação a pontos de origem de escoamento e destino, mas principalmente o intercâmbio entre os modais, garantindo maior competitividade e menores gastos.

 É possível comparar alguns pontos entre a logística da soja brasileira e norte-americana, por exemplo:

• Os juros brasileiros são o dobro dos juros estadunidenses;

• Os EUA possuem 224 mil km de malha ferroviária. O Brasil possui 28 mil km;

• Os EUA possuem 3 milhões de quilômetros de vias asfaltadas, o Brasil 96 mil;

• O Brasil lidera em hidrovias potenciais, cerca de 50 mil km, porém somente 13 mil são utilizados. Os EUA utilizam 19,3 mil km de hidrovias;

• A soja brasileira percorre em média 100 km a mais para chegar aos portos;

• O custo médio de transporte, por tonelada, nos EUA corresponde à 23 dólares. No Brasil, corresponde a 90 dólares, ou seja, o custo médio de transporte brasileiro é 391% maior do que nos EUA.

Conclusão

Há diversas dificuldades para serem analisadas e trabalhadas no Brasil, partindo do ponto da infraestrutura e organização sistemática de tais logísticas, considerando que a maior parte do desenvolvimento econômico do país gira em torno do agronegócio, ligado principalmente ao setor de grãos. 

Já existem algumas boas soluções em curso, que envolvem projetos relacionados a extensões de linhas ferroviárias, beneficiando tanto o transporte quanto o armazenamento de grãos. Porém essas soluções ainda não saíram do papel e foram realmente colocadas em prática, o que beneficiaria todo o processo e consecutivamente toda a classe do desenvolvimento agro econômico no país. 

De fato, ainda há necessidade de diversas melhorias básicas para obter-se uma eficiência principalmente no que diz respeito à agilidade, custo e eficiência no processo, o que aumentaria ainda mais a relevância brasileira no cenário das commodities mundiais.

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REFERÊNCIAS:

G1

CANAL DO BOI

CEPEA

FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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