Geada na lavoura

Geada na lavoura: Conheça os principais impactos nas culturas agrícolas

No último dia 21 de junho o Brasil entrou oficialmente no inverno. Em algumas regiões não há nada mais típico desta estação do que ver os campos totalmente brancos, cobertos de geada pela manhã. Mas o que é bonito para uns, pode indicar grande destruição para outros, caso dos diferentes tipos de lavoura.

Dependendo da intensidade da geada, os prejuízos podem ser bastante intensos, podendo ocasionar a morte da planta ou de parte dela (folhas, ramos e frutos), comprometendo o desenvolvimento da lavoura e resultando em perdas econômicas significativas.

No Brasil, todas as lavouras sofrem impactos diante da geada, caso da cana-de-açúcar, do milho e do café. Essas lavouras, inclusive, já sofreram impactos de grande dimensão recentemente, no inverno de 2021.

Em razão disso, é bastante importante que você entenda como a geada se forma na lavoura, os prejuízos que ela pode causar, assim como as estratégias e manejos que permitam melhor enfrentar esse problema de ordem climática.

Geada: entenda como se dá sua formação na lavoura

A geada é definida como um fenômeno atmosférico de baixa temperatura, responsável pelo congelamento dos tecidos vegetais, que é capaz de provocar a morte das plantas ou suas partes (folhas, ramos, frutos, caule), havendo ou não a formação de gelo sobre os tecidos. 

Dessa forma, é importante entender que a geada é formada quando a temperatura do ar de uma determinada região cai abaixo do ponto de congelamento da água (0° C), podendo ocasionar esse fenômeno. 

Esse fenômeno ocorre quando o vapor de água existente no ar, ao cair da noite, se transforma em cristais de gelo, caracterizados pela geada, que pode ocorrer sob duas circunstâncias: a advecção de ar frio ou perda radiativa. 

Geada Advectiva

Ocorre devido a advecção de ar frio, ou seja, pela entrada de uma intensa massa de ar frio. Está normalmente associada a passagem de frentes frias, que provocam significativas quedas de temperatura a partir de seus ventos frios.

Geada Radiativa

Ocorre quando o céu está limpo, ou seja, sem a presença de nuvens. Neste caso, a superfície da Terra perde energia para a atmosfera causando seu resfriamento. Geralmente, o ar é frio e seco, com a presença de vento calmo e temperaturas inferiores a 0°.

Há ainda a Geada Mista, caracterizada quando as duas situações ocorrem ao mesmo tempo ou uma após a outra.

Além das questões meteorológicas, a geada também pode ser analisada por meio dos aspectos visuais do fenômeno, caracterizados pela geada negra e geada branca.

A geada negra ocorre quando a umidade do ar está baixa e a perda radiativa é intensa, isso causa um forte resfriamento a ponto de chegar até uma temperatura que seja letal para a planta. Em função da baixa umidade no ar não há deposição de gelo.

Já a geada branca ocorre quando o intenso resfriamento noturno provoca o congelamento da superfície das partes das plantas, com deposição de gelo. Nesse caso, a atmosfera está úmida e provoca a condensação do vapor d’água com a liberação de calor latente, fato que ajuda a reduzir a queda de temperatura. 

Pelas características dos dois tipos, a geada branca tem por característica ser menos severa que a geada negra, como explicado rapidamente no vídeo abaixo, desenvolvido pelo CPTEC/INPE.

Vale ressaltar também que a suscetibilidade da lavoura às geadas costuma variar com a espécie e com a fase fenológica no momento da ocorrência, como veremos no tópico seguinte.

Principais impactos da geada nos diferentes tipos de lavoura

Como vimos, a geada é representada por uma camada fina de gelo que surge nas lavouras quando a temperatura ambiente está muito fria. 

Por causa disso, as plantações e lavouras que acabam presenciando esse fenômeno podem sofrer alterações físicas em sua estrutura celular já que, em muitos casos, acabam congelando. 

Os resultados do congelamento podem ser inúmeros e nada agradáveis para a agricultura, indo desde o rompimento da parede celular à morte parcial ou total das plantas de uma lavoura.

Vale salientar que não são somente as estruturas das plantas que são afetadas pela geada, já que as formações dos cristais de água, quando em contato com os frutos e com o solo, podem também sofrer prejuízos. 

A geada pode queimá-los, fazendo com que o agricultor perca quase todo o seu produto cultivado, impossibilitando a venda futura de seus frutos, como ocorreu recentemente com a cultura do café, da cana-de-açúcar e do milho.

Geadas em áreas produtoras de café

Segundo muitos relatos de cafeicultores datados dos primeiros dias de julho, o evento climático causador da geada foi observado na Alta Mogiana/SP e também em pontos de Minas Gerais, com muitas áreas sendo atingidas com intensidade moderada sobre os cafezais.

Em Ibiraci (MG), município que respondeu por cerca de 1% da produção brasileira de café em 2020, a geada atingiu mais de 10% das lavouras, deixando-as com folhas “queimadas” pela ação dos cristais de gelo. Segundo relatos, o cenário foi assustador, com as plantas do cafezal ficando marrons e secas após o fenômeno da geada.

Geada negra no cafezal
Geada negra no cafezal. Fonte: Revista Cafeicultura

Como resultado desse fenômeno, já há a expectativa de que a próxima colheita do café apresente alguma queda da produtividade, resultando em incertezas para a temporada de 2022.

Geadas na cana-de-açúcar

Assim como ocorreu com o café, no início do inverno, algumas regiões produtoras de cana-de-açúcar do Brasil também registraram formações de geadas do Rio Grande do Sul ao norte de São Paulo, com consequências ainda não totalmente calculadas.

Geada na lavoura de cana-de-açúcar.
Geada na lavoura de cana-de-açúcar. Fonte: G1

Mesmo sendo uma cultura mais resistente, a geada pode causar sérios danos à cana, podendo “queimar” os canaviais e destruir até o palmito da cana, gerando perda de até 50% no rendimento da tonelada colhida. Pode também matar a socaria, provocando grandes falhas na brotação.

Não obstante ao prejuízo imediato devido à geada, a preocupação tende a se prolongar para a próxima safra, pois a perda da brotação e da massa verde pode atrasar o início do próximo plantio, além da oferta de mudas para expansão que também tendem a ficar comprometidas.

Geada na lavoura de milho safrinha

Em muitas cidades, as baixas temperaturas registradas no início do inverno impactaram diversas culturas agrícolas, principalmente nas que estavam em fase de desenvolvimento ou colheita, como é o caso do milho safrinha.

Segundo relatos de produtores desse grão do estado do Paraná a última geada registrada foi muito brutal para a lavoura. Muitos acreditam que irão perder 80% do milho que não estava pronto, já a qualidade do grão certamente apresentou piora. 

Milho queimado por efeitos da Geada. Fonte: Canal Rural
Milho queimado por efeitos da Geada. Fonte: Canal Rural

Estimativas indicam que apenas 15% dos 45 mil hectares cultivados na região oeste do Paraná devem sofrer menos prejuízos, pois já estavam praticamente prontos para a colheita.

Estratégias para minimizar os efeitos das geadas sobre a lavoura

As geadas podem ser menos ou mais intensas, de acordo com o topoclima da região e outros fatores. Mas, para evitar maiores perdas, algumas são as medidas que o produtor rural pode adotar para minimizar os efeitos desse fenômeno sobre sua lavoura. 

Algumas destas medidas são apresentadas abaixo:

Priorizar o planejamento do cultivo da lavoura

Antes de iniciar o plantio é bastante importante avaliar os dados climáticos da região, com melhor verificação da probabilidade da área de ocorrência de geada. Também é necessário conhecer a cultura a ser cultivada, assim como sua temperatura letal e sua adequação às características do local escolhido.

Escolha do local de plantio

A avaliação da região e de suas características ambientais é também um fator essencial dentro do planejamento agrícola. Desse modo, cabe ao produtor escolher o tipo de cultura ideal para o clima da região.

Utilização de variedades resistentes

Vale ressaltar que em uma mesma cultura as variedades podem apresentar diferentes tolerâncias ao frio. No caso do abacate, por exemplo, a variedade chamada Geada tolera temperaturas de até -4°C, diferente da Pollock, que resiste somente até -1°C.

Irrigação noturna

A aplicação de água por aspersão em algumas culturas durante a noite da geada em uma taxa de 2 a 6 mm/h pode ser uma excelente opção para reduzir os efeitos da geada. Por isso, acompanhar os boletins climáticos e possíveis previsões de geada torna-se uma medida fundamental.

Quando a água congela, há a liberação do calor latente, reduzindo o resfriamento e mantendo a temperatura por volta de 0°C.

Conclusões

Dependendo da intensidade do fenômeno, a geada pode causar sérios prejuízos às lavouras, podendo ocasionar até a morte da planta, comprometendo o desenvolvimento da lavoura e resultando em perdas econômicas significativas.

Nas últimas semanas, algumas regiões brasileiras sofreram com uma geada com moderadas e graves consequências, principalmente para lavouras de café, cana-de-açúcar e milho safrinha em momento de colheita.

Além disso, algumas são as medidas que ajudam a melhor enfrentar este problema, tais como irrigação noturna e correto planejamento do cultivo, que engloba a escolha do local e uso de variedades resistentes. 

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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