Irrigação: métodos, sistemas e custos de implantação

A cada safra um novo desafio surge e os rotineiros ainda permanecem mas a busca por maiores produções nunca para. A irrigação é uma técnica de fornecimento de água que traz muitos benefícios apesar do custo de implantação. E com o auxílio da agricultura de precisão, tem se tornado cada vez mais eficaz a tomada de decisão de quando e quanto irrigar.

O que é irrigação?

A irrigação é uma prática agrícola que reúne equipamentos e técnicas para suprir a deficiência total ou parcial de água para os cultivos.

A prática consiste em fornecer a quantidade necessária de água no solo em uma área específica e no momento correto. Assim é criado um ambiente com umidade ideal para o desenvolvimento das culturas, maximizando a produção e oferecendo o menor custo ao produtor.

Coisas cotidianas utilizam a irrigação, como os gramados de campos de futebol, nos jardins de praças e condomínios residenciais. Mas, principalmente, em alimentos consumidos diariamente como arroz, feijão, legumes, frutas e verduras, que em sua maioria são produzidos em sistemas irrigados.

Irrigação na cultura do milho. Fonte: Freepik.
Irrigação na cultura do milho. Fonte: Freepik.

Por que irrigar?

A irrigação é mais do que molhar o solo. É calcular a quantidade de água necessária para determinada cultura e em qual momento do seu desenvolvimento deve ser aplicada no solo. É seguir o planejamento agrícola e aplicar de forma mais regular possível.

Os principais motivos para adoção de um sistema de irrigação são a baixa disponibilidade de água ou a irregularidade das chuvas. No Brasil, a agricultura irrigada está presente em todas as regiões, mas com destaque para o semiárido ou em locais com longos períodos de seca, como a região central.

A irrigação fornece a água de forma artificial para suprir o que não é fornecido pelas fontes naturais. Cada cultura necessita de uma quantidade de água, que varia de acordo com as fases do seu desenvolvimento e com o clima local.

Compondo o tripé da planta – solo, água e ar- a irrigação vem para atender as necessidades hídricas, fornecendo umidade no solo, sem faltas ou excessos.

Apesar de apresentar bons resultados de forma isolada, a irrigação como manejo geralmente é implementada com outras tecnologias e manejos que irão agregar e gerar melhores resultados. Uso de insumos, serviços, máquinas e implementos otimizados resultam em resultados ainda mais expressivos.

Benefícios da irrigação

Vários são os benefícios ao adotar um sistema de irrigação bem planejado:

  • Aumento da produção agrícola (de 2 a 3 vezes superior à produção da agricultura de sequeiro, que depende da chuva);
  • Aumento da oferta e regularidade de disponibilização de alimentos e outros produtos agrícolas;
  • Melhor qualidade e padronização dos produtos agrícolas;
  • Potencializa insumos como fertilizantes, sementes melhoradas e defensivos;
  • Possibilita a exploração agrícola em áreas localizadas de regiões de clima árido ou semiárido;
  • Permite abertura de novos mercados, inclusive no exterior;
  • Viabiliza maior rentabilidade e menor risco de produção;
  • Aumenta oferta de empregos;
  • Moderniza sistemas de produção estimulando introdução de novas tecnologias;
  • Proporciona o aumento da diversidade de culturas;
  • Segurança alimentar e nutricional, aumentando a oferta de alimentos.
Rendimento do arroz, feijão e trigo em condição predominantemente irrigada e não irrigada no Brasil. Fonte: IBGE e Embrapa, disponível em Atlas Irrigação.
Rendimento do arroz, feijão e trigo em condição predominantemente irrigada e não irrigada no Brasil. Fonte: IBGE e Embrapa, disponível em Atlas Irrigação.

De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), as áreas irrigadas correspondem a menos de 20% da área total cultivada do planeta, entretanto produzem mais de 40% dos alimentos, fibras e culturas bioenergéticas. Ainda segundo a FAO, o Brasil está entre os dez países com maior área irrigada do mundo.

Métodos e sistemas de irrigação

Antes de detalhar quais são os métodos e sistemas de irrigação é necessário explicar qual a diferença entre eles.

Método: procedimento, técnica ou meio de fazer algo, ou seja, a maneira de agir ou fazer as coisas.

Sistema: disposição das partes ou elementos de um todo, coordenados entre si que funcionam como uma estrutura organizada.

Basicamente, é possível classificar os métodos em quatro tipos:

  • Irrigação por superfície;
  • Irrigação subterrânea;
  • Irrigação por aspersão;
  • Irrigação localizada.

Para cada método, existem dois ou mais sistemas de irrigação que podem ser utilizados pelo produtor. O motivo pelo qual há muitos tipos de sistemas é para atender a grande variação de solos, climas, culturas, disponibilidade de energia e condições socioeconômicas. 

Apesar disso, não há um tipo ou sistema ideal de irrigação, devendo o produtor conhecer quais as vantagens e desvantagens de cada um e escolher aquele que melhor atende a sua necessidade. 

Representação dos principais sistemas de irrigação. Fonte: Atlas Irrigação.
Representação dos principais sistemas de irrigação. Fonte: Atlas Irrigação.

Irrigação por superfície

Esse método de irrigação é muito utilizado em culturas de cereais. A água é lançada diretamente no solo e pela ação da gravidade ela circula na superfície. É o método com maior área irrigada no mundo e no Brasil.

Ela depende das condições topográficas, ou seja, o tipo de terreno, se o mesmo precisará ser nivelado para permitir uma lâmina de água ou apenas umidade uniforme, de acordo com a cultura. Não é recomendada para solos excessivamente permeáveis, uma vez que requer medidas eficazes para diminuir a erosão.

Por se tratar de um método relativamente simples, possui pouco apelo comercial. Um exemplo de sistema utilizado com este método é a inundação.

As principais vantagens:

  • Menor custo;
  • Equipamentos simples e de fácil operação;
  • Baixo consumo de energia;
  • Sofre pouco efeito de ventos;
  • Adaptável a grande diversidade de solos e culturas;
  • Não interfere nos tratamentos fitossanitários.

Irrigação subterrânea

A água é aplicada abaixo da superfície do solo, diretamente nas raízes das plantas. Dessa maneira o lençol freático fica a uma profundidade capaz de permitir um fluxo de água adequado para as raízes das plantas.

Esse método vem sendo muito utilizado e traz modernidade. A profundidade que as tubulações são enterradas depende da cultura e também se o solo é argiloso ou arenoso.

As principais vantagens são:

  • Fácil adaptação em diferentes solos e topografias;
  • Maior eficiência de distribuição de água, se comparado ao método de superfície;
  • Pode ser totalmente automatizado;
  • Pode ser desmontado, transportado ou removido da área, facilitando o tráfego de máquinas.

Porém, pode favorecer o aparecimento e disseminação de doenças em algumas culturas e interferir nos tratamentos fitossanitários.

Irrigação por aspersão

A água é aplicada sob pressão acima do solo, por meio de aspersores ou orifícios, imitando uma chuva. É o método mais utilizado. E as culturas mais irrigadas por esse sistema são as pastagens e os grãos, como soja, milho e feijão.

É recomendado para solos com alta permeabilidade e de baixa disponibilidade de água. Como esses solos precisam de irrigações frequentes, com menor quantidade de água por aplicação, esse sistema é o mais adequado.

As vantagens desse método são:

  • Fácil adaptação a diversos tipo de solo, culturas e topografias;
  • É mais eficiente que a irrigação por superfície;
  • Pode funcionar de forma automatizada;
  • As tubulações podem ser desmontadas e removidas da área, facilitando o preparo do solo.

Apesar disso apresenta limitações como custos de instalação e operação mais elevados do que o método por superfície, e pode ser influenciado pelo vento e pela umidade relativa. Além disso, pode favorecer o aparecimento de doenças e interferir nos tratamentos fitossanitários.

Os sistemas desse método são: aspersão convencional, autopropelido e pivô central.

Irrigação localizada 

Esse método consiste na aplicação de água através de emissores em partes da área ocupada pelas raízes, formando uma faixa úmida. Os emissores são pontuais (gotejadores), lineares (tubo poroso ou “tripa”) ou superficiais (microaspersores).

É ideal para solos densos, com baixa capacidade de infiltração. A água pode ser aplicada com baixo fluxo, assim o solo consegue absorver sem que haja o escorrimento superficial.

As principais vantagens desse método são:

  • Sistemas semi automatizados ou automatizados;
  • Menor mão de obra;
  • Reduz a incidência de pragas e doenças;
  • Reduz o desenvolvimento de plantas infestantes;
  • Possibilita o cultivo em áreas com afloramentos rochosos e/ou com declives acentuados;
  • Excelente uniformidade de aplicação de água;
  • Possível aplicação de fertilizantes e defensivos por meio da irrigação, aumentando a produtividade.

Entretanto, possui elevado custo inicial. Por isso é indicado para culturas de alto valor econômico.

Os principais sistemas de irrigação localizada são: gotejamento, microaspersão e subsuperficiais.

Manejo da irrigação e fatores que influenciam

O manejo da irrigação irá determinar o momento, a quantidade e como aplicar a água na plantação.

Como visto, existem diferentes métodos e sistemas de irrigação para serem escolhidos a partir das particularidades de cada produtor. Outros fatores que implicam no manejo da irrigação e irão influenciar nas decisões são: clima, solo e a cultura.

Clima

O clima é um fator determinante para a irrigação, pois são exatamente em áreas sem chuvas regulares ou com longos períodos de estiagem que essa técnica é mais utilizada.

Precipitação média mensal no Brasil. Fonte: ANA (2014).
Precipitação média mensal no Brasil. Fonte: ANA (2014).

Saber quais as condições climáticas da propriedade ao longo do ano auxilia na tomada de decisão. A região Nordeste, por exemplo, apresenta clima semiárido, com grande escassez de chuvas em boa parte do ano. Isso faz com que a irrigação seja extremamente necessária para tornar viáveis as produções.

Diferente de outras regiões onde a escassez é limitada a alguns meses (geralmente entre o outono e inverno). Nessas regiões a irrigação não é de caráter essencial, podendo ser utilizada como complementação.

Solo

As características físicas e químicas do solo e a declividade da área estão diretamente relacionadas ao manejo da irrigação.

A textura do solo, por exemplo, vai influenciar na quantidade de água e nos intervalos de aplicação. Solos arenosos possuem menor período de água armazenada que solos argilosos, necessitando de turnos de rega maiores e mais constantes.

Terrenos com áreas de maior declive necessitam de atenção ao método de irrigação que será instalado, se será necessário fazer contornos ou drenos para que a aplicação seja mais uniforme.

Cultura

Cada cultura agrícola requer uma quantidade de água determinada para completar o seu ciclo e produzir. 

Além de variar entre a cultura, a quantidade também irá variar entre as fases de desenvolvimento.

Representação esquemática da necessidade hídrica na irrigação. Fonte: Atlas Irrigação.
Representação esquemática da necessidade hídrica na irrigação. Fonte: Atlas Irrigação.

O início e o final do ciclo possuem menor necessidade de água. Entretanto, as fases de desenvolvimento vegetativo, florescimento e frutificação são as que mais exigem água, e a falta dela irá prejudicar na produtividade final.

Assim, quando a quantidade de água no solo disponível (proveniente das chuvas) for menor que a quantidade requerida pela planta, será necessário irrigar, para que a planta consiga completar o seu ciclo sem que seja prejudicada.

Com os conhecimentos dos fatores que influenciam e os métodos e sistemas de irrigação disponíveis, o produtor pode planejar o seu manejo da irrigação. Lembrando que é necessário uma outorga para desenvolver essa atividade na propriedade, que é concedida pela ANA (Agência Nacional de Água). Com essa outorga é possível solicitar linhas de crédito para irrigação.

Custos da irrigação

Os custos para implantação e funcionamento também irão depender de fatores como cultura, tamanho da área, sistema utilizado, entre outros.

O maior custo está na implantação do sistema, mas a vida útil é em torno de 10 a 15 anos. Além disso tem o custo operacional e de mão de obra, e o valor referente ao horário de irrigação, sendo que os períodos noturnos são mais em conta.

Além disso, sistemas automatizados possuem maiores valores de aquisição e implantação que os sistemas manuais.

De uma forma geral, o valor pode variar em torno de R$ 6 mil a mais de R$ 12 mil por hectare, variando de cultura para cultura e de automatizados a manuais.

Novas tecnologias para irrigação

As vantagens do uso da irrigação são ainda maiores quando aliadas às novas tecnologias disponíveis. A partir delas é possível otimizar o tempo, reduzir a quantidade de água e o consumo de energia, além de gerar maiores produtividades.

Monitor de irrigação
Fonte: Freepik.

Com a internet das coisas (IoT), o produtor consegue realizar o gerenciamento inteligente de água, a partir de dados coletados sobre o solo, clima e as condições de cultivo. Com a utilização de drones e satélites é possível monitorar grandes áreas e identificar quais locais precisam de mais ou menos água.

Com os sistemas de telemetria se torna possível monitorar remotamente a irrigação da sua propriedade, controlando os sistemas, como pivô, sem a necessidade de ir até o local. Além disso, coletam dados, geram relatórios de desempenho, monitoram águas subterrâneas e detectam vazamentos em tubulações e equipamentos.

Com a agricultura digital, as ações têm acontecido com mais rapidez, tudo com acesso na palma da mão, através do celular, tablet ou computador. Implementar e monitorar a irrigação está cada vez mais acessível ao produtor.

Conclusões

A irrigação é uma prática essencial para áreas de cultivo onde há baixa disponibilidade de água ou longos períodos de estiagens.

A irrigação traz diversos benefícios para incrementar a produtividade e deve ser utilizada de forma sustentável.

A tecnologia está cada vez mais presente no campo e na irrigação não é diferente, com ela é possível otimizar e automatizar boa parte dos sistemas.

Cada propriedade e produtor tem particularidades e isso deve ser avaliado antes de implementar a irrigação. Conhecer as propriedades do solo, o clima e os requisitos da cultura são de extrema importância para calcular a quantidade de água que precisa ser adicionada ao solo e em qual momento.

Gostou do conteúdo? Ficou com alguma dúvida ou tem mais informações sobre como manejar a irrigação da sua lavoura? Deixe seu comentário e continue acompanhando para mais artigos do Agro.

Referências

AgroLink. Irrigação: como escolher o melhor sistema para irrigar lavouras de grãos?

Atlas irrigação: uso da água na agricultura irrigada. Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. 2. ed. Brasília: ANA, 2021.

Boas Práticas Agronômicas. Irrigação, uma prática que aumenta a produtividade no campo.

Irrigat. Quanto custa para irrigar um hectare de pastagem?

MORAES, M. A Irrigação na Agricultura: Conheça os Benefícios!

NaanDanJain. Você sabe porque a irrigação é essencial para sua lavoura?

Revista Campo & Negócios. Sistema de irrigação: tendências e tecnologias para o mercado.

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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8 Comments

  1. Nicolas Cunha Reply

    O método de irrigação por inundação,, em especifico no uso do cultivo do arroz irrigado cresceu bastante nos últimos anos no Brasil, e o material trás uma boa concepção sobre esse método de manejo da irrigação, muito bom!!!!

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