A produção de café no Brasil: da política ao gourmet

Ao longo dos tempos, o café tem desempenhado um importante papel na produção agrícola brasileira. Somente em 2021, a área ocupada pelas espécies arábica e conilon no território nacional chegou a 1,82 milhão de hectares, sendo 1,45 milhão destinados ao cultivo de café arábica e 375,99 mil ao café conilon. 

Desse total, Minas Gerais ocupa a posição de maior destaque no Brasil, com 54% da área de produção nacional. Em seguida vêm Espírito Santo (22%), São Paulo (11%), Bahia (6%), Rondônia (3%) e Paraná (2%). 

Para alcançar esses números, no entanto, o Brasil desenvolveu uma intensa relação com o café, iniciada com a chegada do grão ao país, passando pela República do Café com Leite, até os dias atuais, em que os cafés gourmets ganham cada vez mais espaço na mesa dos brasileiros. 

A primeira muda de café chegou ao Brasil em 1727 e foi trazido por Francisco de Melo Palhete, bandeirante, a serviço da Coroa Portuguesa, que vinha da Guiana Francesa. Ele recebeu a muda clandestinamente da esposa do governador francês Claude d’Orvilliers e a plantou no Pará. 

Mais tarde, com o aumento do consumo do café na Europa e a constatação de que o Brasil já dispunha de excelentes condições para o plantio do grão, o café arábica foi introduzido no Rio de Janeiro, com a ajuda de João Alberto de Castello Branco.

Foi somente no século XIX, entretanto, que as plantações de café passaram a ganhar destaque no Brasil. Isso aconteceu devido à escassez do ouro, a alta concorrência do açúcar e a necessidade de se buscar uma forma de superar os problemas econômicos que começavam a surgir no país. 

Outra questão relevante é a chegada da família real portuguesa, o que fez com que o Brasil deixasse de ser uma colônia para se transformar na sede do Império Lusitano.  Com isso, houve a abertura dos portos para o comércio internacional, o estímulo às atividades industriais que favoreciam a urbanização, a construção das estradas de ferro e a chegada de imigrantes. 

A partir disso, o café se tornou o principal produto de exportação do fim do século XIX e começo do século XX e as plantações passaram a atravessar as províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo. 

Um ano antes da Proclamação da República (ocorrida em 1889), a organização política brasileira foi reestruturada e, dessa forma, Minas Gerais e São Paulo (estados mais poderosos do país naquela época) passaram a se revezar no poder, através da República do Café com Leite. Na época, o café representava a oligarquia paulista e o leite, a mineira. Esse momento histórico, inclusive, demonstra que a produção do café se tornou tão importante, que os grandes produtores assumiram diretamente grandes decisões políticas. 

Ainda durante a Política do Café com Leite, que se estendeu até 1930, o Brasil passou a ter os Estados Unidos como os principais consumidores de seu café. Isso foi essencial para que novas tecnologias se desenvolvessem no país, mas fez com que a economia atravessasse sérios problemas em 1929, devido à crise de 29. Nessa época, com a queda dos preços do café, empresários chegaram a comprar queimar milhões de sacas estocadas, como forma de regular o preço do grão. 

Histórico da produção de café no Brasil. Imagem: Terra de Cultivo

Com o fim da crise, o Brasil se recuperou e pôde investir em processos cada vez mais modernos de industrialização. 

Leia neste artigo sobre o trabalho com drones para levantamento de danos causados pelo geada no plantio cafeeiro!

Produção do café no Brasil

Toda essa tecnologia e as condições climáticas ideais fizeram com que o café atingisse a importância que tem hoje para a economia nacional. O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de café do mundo e tem uma das produções que mais respeitam a biodiversidade em todo o planeta. 

Muitas cidades têm o café como principal fonte de renda e geram inúmeros empregos nas plantações, que inclusive são o principal gerador de postos de trabalho na agropecuária nacional. 

Somente em 2020, o volume de produção dos cafés do Brasil, somadas as espécies arábica e conilon, chegou a 61,62 milhões de sacas de 60 kg, o que representa um aumento de 25% em relação à safra de 2019.

Toda essa produção foi acompanhada de muita inovação e, justamente por isso, hoje os cafés especiais também ganharam espaço entre os produtores e consumidores. Segundo o Programa de Qualidade do Café (PQC), da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), o produto pode ser dividido em três categorias a partir de níveis de qualidade: Tradicional, Superior e Gourmet. 

A categoria é definida pela nota final, que vai de 0 a 10, sendo: Tradicional, nota igual ou maior a 4,5 e inferior a 6; Superior, nota igual ou maior a 6 e até 7,2; e Gourmet, nota igual ou superior a 7,3 e até 10. 

O Símbolo de Qualidade do PQC informa ao consumidor o perfil de sabor do café, dividido em sete categorias: tipo (arábica e/ou conilon), bebida, torração (muito claro, claro, moderadamente claro, médio claro, médio, moderadamente escuro, escuro e muito escuro), moagem (grossa, média grossa, média, média fina, fina), sabor, corpo e aroma. 

A Roda de Sabores e aromas dos cafés. Imagem: Blog Vero

Valor agregado 

Nesse cenário, o café gourmet merece ainda mais atenção por se tratar de um produto com valor agregado, conceito aplicado quando o benefício de um produto comprado pelo consumidor vai além de suas finalidades.  No caso do café gourmet, isso acontece tanto pela qualidade quanto pela forte cultura positiva que acompanha o marketing desse tipo de produto. 

É justamente por isso que hoje os cafés especiais têm ganhado um espaço cada vez maior no mercado, podendo até mesmo ser encontrado em pequenos supermercados e mercearias, algo que não acontecia há cinco anos, por exemplo. 

Neste artigo você conhece um pouco mais sobre as commodities e como elas são precificadas!

Conclusão

O café é, historicamente, uma produção bastante importante no Brasil. Essa cultura marcou momentos fundamentais no país, como a chegada de imigrantes e a República do Café com Leite. Atualmente o país é um dos principais produtores e exportadores do grão no mundo todo, o que abriu espaço para o surgimento dos cafés especiais, produtos que têm ganhado um importante espaço no mercado e que são cada vez mais apreciados por consumidores do mundo todo. 

Referências

Embrapa

Brasil Escola

Grão Gourmet

Folha de Londrina

Sebrae

Portal do Agronegócio

Jornalista, mestre em Tecnologias, Comunicação e Educação, revisor e redator freelancer. Atua como repórter e assessor de imprensa e já publicou dois livros como autor independente. Tem interesse por cinema, literatura, música e psicanálise.

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