Escolher a melhor semente de soja para cultivar não é tarefa fácil, e condições climáticas e territoriais e outros fatores impactam a decisão
Os números da soja no Brasil impressionam. Na safra 2022/2023, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país produziu mais de 154 milhões de toneladas de soja, distribuídos em uma área de 44 milhões de hectares – ou seja, cerca de 3.508 kg por hectare. E não para por aí: o Brasil é o maior produtor mundial do grão, correspondendo a 42% de tudo que é cultivado no planeta.
Esses volumes e porcentagens não são fáceis de alcançar. E assim como tantos outros commodities agrícolas, a soja é cercada de particularidades em termos de cultivo e colheita. Você sabia, por exemplo, que o Ministério da Agricultura e Pecuária tem registrados mais de 2 mil cultivares do grão no Brasil? A produção dele depende de alguns fatores, como as condições climáticas e do solo de cada região do país. E é disso que vamos falar hoje!
Variedades de soja e suas características
As milhares de cultivares de soja que existem Brasil podem ser separadas em três grandes grupos: a soja convencional, a soja Intacta e a soja RR – as duas últimas sendo transgênicas. Cada uma tem suas características próprias, como ciclo de crescimento, resistência a pragas e doenças e adaptação a tipos diferentes de clima e solo. Conheça mais sobre elas:
- Soja convencional
A soja convencional não recebe nenhum tipo de melhoramento genético artificial, ou seja, tem características naturais e não é transgênica. O custo de produção é menor em relação a outras variedades, uma vez que ela envolve menos tecnologias de modificação genética e dispensa o pagamento de royalties exorbitantes.
Mas não pense que isso quer dizer que essa variedade rende menos ou é mais suscetível à ação de pragas e doenças: graças aos constantes avanços na agricultura, ela está cada vez mais rentável para produtores – desde que as sementes sejam cultivadas nas regiões adequadas.
Em termos de cultivares, aqui citamos dois exemplos:
- BRS 523, marcada por uma forte tolerância à ação de percevejos e a uma série de doenças. A cultivar também tem alta produtividade e estabilidade na produção, sendo indicada para regiões como Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
- BRS 539, resistente a percevejos e a doenças como ferrugem asiática e cancro da haste. Ela permite a semeadura precoce, sendo mais adaptável em estados como Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
2. Soja Intacta
A soja Intacta é uma das duas variedades transgênicas, junto à soja RR. Ela é produzida com o auxílio de tecnologias que a tornam resistente ao glifosato (um herbicida que ataca inúmeras plantas indiscriminadamente) e a ataques de lagartas, o que reduz a necessidade de aplicação de agroquímicos.
Seu cultivo exige alguns cuidados, como o uso do manejo integrado de pragas (MIP), um sistema que envolve táticas de controle sobre todo o processo de produção agrícola em uma lavoura. Seu objetivo é garantir a produtividade e conter os ônus às sementes.
Veja dois exemplos de cultivares:
- BRS 7981IPRO, resistente a doenças como cancro da haste e mancha “olho-de-rã”, além do vírus do mosaico comum da soja, o crestamento bacteriano e a pústula bacteriana. Ela é indicada para regiões como Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e o oeste da Bahia.
- BRS 1061IPRO, que tem alto desempenho em regiões acima de 500 m de altitude e resistência ao nematoide de galha Meloidogyne javanica, só para citar um exemplo. A cultivar é recomendada para várias regiões como o oeste e o nordeste de Santa Catarina e o sudoeste de São Paulo, embora isso dependa de fatores específicos.
3. Soja RR
Assim como a soja Intacta, a RR é uma variedade transgênica produzida com foco na resistência à ação do glifosato. Sendo assim, ela tem alta tolerância a herbicidas. E também gera outros benefícios, como uma maior produtividade e uma economia de recursos naturais.
Em função das suas vantagens, a soja RR é a mais popular entre todas as produzidas no Brasil: mais de 90% dos cultivares nas lavouras brasileiras correspondem à variedade.
Separamos dois exemplos:
- BRS 5804RR, que possibilita a semeadura precoce e tem boa resistência a uma série de doenças, com destaque à fitóftora. Uma das suas principais vantagens está no custo reduzido das sementes, o que gera economia para produtores. A cultivar é indicada em regiões frias do Brasil.
- BRS 5601RR, resistente às doenças podridão radicular de fitóftora, cancro da haste, cercosporiose e necrose da haste. A densidade da semeadura – e, por consequência, a região ideal para o plantio – depende de alguns fatores, como altitude e taxa de fertilidade do solo.
Existem três variedades de soja no Brasil, cada uma com suas características e cultivares. Imagem: Reprodução/Imagem de jcomp no Freepik
Que fatores influenciam a escolha de variedades e cultivares?
É claro que semear a soja de forma indiscriminada é um erro grave e que reduz drasticamente a produtividade. Para isso não acontecer, é preciso entender as características do clima, do solo e até da topografia de cada área do território brasileiro.
Aqui, precisamos citar três conceitos: as macrorregiões sojícolas, as regiões edafoclimáticas e as regiões fisiográficas. Basicamente, trata-se de divisões territoriais pensadas a partir de semelhanças climáticas (temperatura, pluviosidade, latitude etc.) com vistas a orientar melhor a escolha de cultivares por produtores. Esses fatores impactam, por exemplo, o ciclo de crescimento dos grãos e a sua resistência às intempéries.
Para você ter uma ideia, o Brasil é dividido em cinco macrorregiões sojícolas: Sul, Centro-Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte-Nordeste. Cada uma é subdividida em regiões edafoclimáticas, que totalizam 20 e também se subdividem nas regiões fisiográficas.
Mapa das macrorregiões sojícolas no Brasil e suas respectivas regiões edafoclimáticas. Imagem: Reprodução/Embrapa.
O tema parece complexo, mas é fundamental para entendermos que variedades e cultivares são mais recomendadas de acordo com a área onde o produtor se encontra. Nesse sentido, a melhor tática para não errar é consultar especialistas – como engenheiros agrônomos que tenham experiência com soja. Afinal, aqueles volumes e porcentagens positivos que trouxemos no início deste artigo dependem de decisões bem pensadas e capazes de otimizar a produtividade e, por consequência, a rentabilidade.
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