A soja continua sendo a menina de ouro dos produtores brasileiros. Com produtividades maiores a cada safra, a cultura segue batendo recordes e colocando o produtor atento aos lucros. Dessa forma, entender como funcionam os custos de produção da soja e o que afeta a sua rentabilidade é muito importante e esse artigo traz bons exemplos e informações sobre o assunto.
A soja (Glycines max) é hoje a principal commodity nacional. Seu cultivo no Brasil começou na década de 40 no Rio Grande do Sul e em meados de 1970 se expandiu para diversas regiões do país. Atualmente é a cultura agrícola de maior importância no Brasil, cultivada em todo o território nacional.
Os últimos dados da Conab para a safra 2021/22 apontam crescimento na área de soja em 2,5% em comparação à safra anterior, atingindo 39,9 milhões de hectares. Já para a produção são esperados também 2,5% de incremento, alcançando 140,7 milhões de toneladas. Saiba mais sobre o crescimento da produção de soja no Brasil e no mundo neste outro artigo do nosso blog.
Apesar disso, os custos com implementos, principalmente fertilizantes, defensivos e sementes, sofreram fortes incrementos neste início de safra. E, junto a isso, esse início ainda contará com a continuidade dos efeitos do fenômeno La Niña, causando atrasos e instabilidades nas condições climáticas. Entenda um pouco melhor desse fenômeno aqui.
Esses custos de produção e as variações climáticas têm preocupado bastante os produtores, principalmente em relação à rentabilidade final da cultura.
Pensando nisso, esse artigo traz informações referentes aos custos e a rentabilidade na cultura da soja, para exemplificar aos produtores quais os fatores envolvidos para chegar a rentabilidade final, visando sempre o lucro positivo.
Custos de produção
Para um melhor detalhamento, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), disponibiliza mensalmente uma planilha com os custos de produção de produtos agropecuários. A tabela abaixo traz os custos referentes à produção de soja transgênica (GMO – organismo geneticamente modificado) para o Mato Grosso no mês de agosto de 2021.
Pela tabela é possível observar a listagem dos custos em todo o processo de cultivo, desde as operações de pré-plantio até depreciações, impostos e taxas. Com isso é possível calcular quais são os custos operacionais COE e COT, que são indicadores para o lucro, vendo se é viável ou não.
Entenda esses indicadores:
COE (Custo Operacional Efetivo): é a somatória dos custos fixos e variáveis.
COE = CF + CV
COE = sementes + fertilizantes e corretivos + defensivos + operações mecanizadas + terceirizados + mão de obra + manutenção + impostos e taxas + financiamentos e seguros + classificação e beneficiamento + armazenagem e transporte + assistência técnica + combustível + despesas gerais + arrendamento
COE = R$ 5,424.07
COT (Custo Operacional Total): é a somatória do COE mais depreciações e mão-de-obra familiar.
COT = COE + depreciações + mão-de-obra familiar
COT = 5,424.07 + 208.57 + 76.22
COT = R$ 5,708.86
Esses indicadores são utilizados para calcular o custo total (CT) da produção.
CT = COT + custo de oportunidade
CT = 5,708.86 + 896.29
CT = R$ 6,605.14
O custo de oportunidade pode ser definido como aquilo que você deixou de ganhar por escolher uma outra coisa. Por exemplo, o produtor opta por escolher uma semente que apresenta tolerância a certo patógeno e/ou inseto, por possuir menor custo. Porém, ele terá que investir em fungicida/inseticida para não deixar que as perdas ocasionadas por eles resultem em prejuízos no lucro.
Esses valores foram baseados na produção de soja transgênica para o estado do Mato Grosso. Os valores sofrem alterações para as diferentes regiões e se o produtor optar pelo uso da soja convencional.
Rentabilidade
Para calcular o lucro e ver e rentabilidade, são necessárias a adição de outras informações. Abaixo temos um exemplo da estimativa de custo de produção de soja RR disponibilizada pelo Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG) em terra própria, levantada no mês de setembro de 2021.
Para constatar se haverá viabilidade ou não, é preciso calcular a margem bruta (MB). Para isso iremos utilizar o valor do COE e da renda bruta (RB). A RB é o valor da receita bruta esperada, no exemplo estimado, o valor é de R$ 8,860.80. Assim:
MB = RB – COE
MB = 8,860.80 – 5,433.56
MB = R$ 3,427.24/ha
A partir do resultado, é possível interpretar:
Margem bruta positiva (MB>0): Quer dizer que a RB é maior que o COE, logo, significa que o produtor conseguirá arcar com todos os custos de produção. Este é o cenário desejado, onde ao menos, a atividade não estará comprometida e provavelmente haverá possibilidade de lucro, dependendo é claro de alguns outros fatores de venda como o valor da saca, cotação do dólar, etc.
Margem bruta negativa (MB<0): O resultado mostrará que a RB é menor que o COE, demonstrando que a produtividade não terá sido viável. Neste caso é possível que se trate de uma atividade de subsídio, onde o produtor deverá captar outros recursos para a mantença da condução e manutenção do processo de produção ou em um cenário mais pessimista, abortar o processo para minimizar suas perdas uma vez já previstas e arcar apenas com o restante de alguns custos fixos.
Outro indicador é a margem líquida (ML), onde:
ML = RB – COT
ML = 8,860.80 – 6,306.30
ML = R$ 2.554.50/ha
De acordo com o resultado encontrado, pode-se interpretar:
ML positiva (ML>0): O RB será maior do que o COT, logo, o processo produtivo vai se manter a médio ou longo prazos. Haverá condições de pagar as despesas dos custos fixos e variáveis, haverá um montante para cobrir os custos com depreciações e também é certo que haverá lucro para o produtor.
ML negativa (ML<0): O RB será menor que o COT. O que significa que é provável que o resultado do processo produtivo não vá gerar lucro para o produtor, uma vez que os custos gerados por depreciações possuam risco de não serem cobertos, gerando consequentemente, prejuízo ao produtor.
Por fim, o indicador que mais chama a atenção do produtor: o lucro (L). Ele é determinado através da fórmula:
L = RB – CT
L = 8,860.80 – 7,625.65
L = R$ 1,235.15/ha
Baseado no resultado, podemos constatar que:
Produtor obteve Lucro (L>0): O processo produtivo se mostrou viável e além disso haverá possibilidade de expansão do negócio a médio e longo prazo, sem falar que o mesmo, apesar de ser relativo, apresenta maior rendimento quando se trata de uma atividade alternativa como por exemplo: Poupança ou fundos de investimento, onde o retorno é gerado mais a longo prazo.
Lucro igual a zero (L=0): Significa que a RB foi igual ao CT, mostrando que talvez o investimento em outras atividades alternativas como os investimentos citados anteriormente, tenha uma viabilidade mais interessante.
Produtor teve prejuízo (L<0): Devido aos números apresentados e a outros fatores relativos, o processo produtivo extrapolou os recursos utilizados, gerando prejuízo ao produtor no fim das contas. Por isso é crucial a realização deste planejamento prévio, bem como a análise da margem líquida para constatar se compensa ou não a implantação da lavoura.
Existem diversos fatores e aspectos que irão variar os custos e impactar na rentabilidade final. Os diferentes cenários do Brasil torna isso possível, como as diferenças climáticas, regiões, tipo de solo, presença de sistema de irrigação, terra própria ou arrendada e o nível tecnológico adotado.
Conclusões
Os custos de produção para a cultura da soja sofre variações de acordo com a genética da semente, a região de implantação, o clima, o tipo de solo, insumos e maquinários utilizados, o nível tecnológico, entre outros.
O custo dos insumos necessários para a implantação da cultura teve um grande salto esse ano. A busca é crescente e o mercado já apresenta atraso na entrega em algumas regiões.
Esses fatores irão influenciar nos custos e poderão afetar a rentabilidade final da cultura, mesmo sendo esperadas grandes produtividades.
Entender quais as variáveis para melhorar a lucratividade é o melhor caminho. É importante que o produtor solicite ajuda especializada para compreender os riscos e aprender qual a melhor forma de ampliar os lucros.
Para saber mais sobre rentabilidade e custos de produção do milho, leia aqui.
Referências
Companhia Nacional de Abastecimento. CONAB. Acompanhamento safra brasileira de grãos, v.9– Safra 2021/22, n.1 – Primeiro levantamento, Brasília, p. 1-86, outubro, 2021.
Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG). Custos de produção.
Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA). Custos de produção.
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