Os efeitos da alta do dólar no agronegócio

O dólar não para de subir nos últimos meses e isso vem deixando todos apreensivos. Mas você sabia que a alta do dólar no agronegócio pode ser benéfica? Veja a razão.

Um dos assuntos mais discutidos nos últimos meses foi a valorização do dólar frente ao real. Isso está deixando os brasileiros bastante apreensivos com relação ao futuro da economia nacional. Mas, você sabia que a elevação do dólar no agronegócio pode ser positiva em alguns aspectos e negativa em outros?

Baseado em grande parte no alto volume de exportações, o agronegócio é, sem dúvidas, um dos setores mais impactados por essas variações na moeda norte-americana. Por um lado, a desvalorização do real chega em um bom momento para comercialização das commodities brasileiras, já que facilita a comercialização fora do Brasil, com preços mais convidativos.

Por outro lado, na medida em que a taxa de câmbio se mantém alta, os custos de produção tendem a se manter elevados, já que insumos e maquinários agrícolas são geralmente importados e cotados em dólar, fazendo com que a produção se torne mais onerosa.

Efeitos da alta do dólar no agronegócio – Fonte: Istoé Dinheiro
Efeitos da alta do dólar no agronegócio – Fonte: Istoé Dinheiro

Por isso, te convidamos a entender quais são os efeitos da alta do dólar no agronegócio, sejam eles benefícios ou problemas decorrentes da valorização da moeda americana frente ao real.

Dólar a R$3,70? Não mais, hoje ele vale R$5,65!

Nos primeiros dias do ano de 2019, o dólar era cotado a R$3,69. Mas esse valor rapidamente ficou no passado, já que nos dias atuais um dólar está cotado por R$5,65 (e subindo!), como visto no histórico do gráfico abaixo:

Gráfico da valorização histórica do dólar frente ao real. Fonte: Banco Central.
Gráfico da valorização histórica do dólar frente ao real. Fonte: Banco Central.

Mas o que impacta essa grande valorização do dólar frente a moeda brasileira?

Muitos são os motivos dessa valorização, tais como: 

  • Juros cada vez mais baixos no Brasil e mais elevados nos EUA; 
  • Elevados gastos do governo brasileiro no enfrentamento à pandemia; e 
  • Endividamento público brasileiro também para combater a crise sanitária, social e econômica atualmente enfrentada. 

Esses fatores, quando associados, assustam o investidor estrangeiro, que teme calote do governo. Isso faz entrar menos dólares, o que encarece a moeda.

Porém, o problema é ainda mais embaixo, com a alta do dólar trazendo consequências ainda mais intensas e danosas dentro do setor, principalmente para a população brasileira.

Prova disso é a atual elevação dos preços sem precedentes, seja no supermercado, seja nos postos de gasolina ou revendas de gás de cozinha. Os combustíveis, como a gasolina e o diesel, tiveram alta valorização no primeiro trimestre de 2021. 

Já os alimentos tiveram as maiores altas desde o início do Plano Real, ocorrido em 1994, quando a nova moeda enfim colocou um fim definitivo aos anos de hiperinflação enfrentados pela economia brasileira por anos.

Mas, como já ressaltado, por outro lado o produtor rural agradece pela elevação do dólar no agronegócio, pois fortalece a comercialização de commodities, mas se preocupa por outro lado, em razão dos altos custos para compra de insumos, como veremos a seguir.

Quais são os impactos da alta do dólar no agronegócio?

A forte alta da moeda americana ocorrida nos últimos meses, dentre tantos outros acontecimentos recentes, reforça um sentimento mundial: O atual momento é, de longe, um dos períodos mais desafiadores da história. E é claro que o agronegócio brasileiro foi afetado.

Todavia, a elevação do dólar no agronegócio tem impacto direto em duas frentes: exportação e importação.

Vantagens da alta do dólar no agronegócio – exportação

Em um primeiro momento, principalmente no curto prazo, a alta do dólar no agronegócio pode ser extremamente favorável, principalmente para aqueles produtores exportadores que tiveram os valores das commodities afetados por falta de demanda do mercado ou pela alta na produção. 

Isso ocorre porque, ainda que o preço internacional das commodities caia, a desvalorização do real faz com que os exportadores consigam ajustar os preços, minimizando perdas ou até lucrando com a alta da moeda norte-americana.

Nos últimos anos, os exportadores, principalmente de soja e café, observaram uma ascensão nos preços, porém a enorme produção de soja nos Estados Unidos fez com que o valor das commodities caísse vertiginosamente. 

Colheita de soja. A principal commodity brasileira – Fonte: Estadão.
Colheita de soja. A principal commodity brasileira – Fonte: Estadão.

A alta do dólar chegou em um bom momento para compensar parte dessa diferença e permitir que, com o câmbio, as vendas se tornam lucrativas ao transformar os valores de produtos comercializados em reais.

Problemas da alta do dólar para produtores brasileiros – importação

Mesmo valorizando o preço de produtos brasileiros no mercado internacional, a alta do dólar traz impactos nada positivos para produtores brasileiros no médio/longo prazo, afinal o dólar mais valorizado terá reflexos direto no preço dos insumos das atividades do agronegócio, geralmente importados. 

Tal fator impactará diretamente os custos de produção, exigindo ajustes nos preços para cima; afetando negativamente o valor final. Essa variação pode impactar mais fortemente os produtos que têm exportação limitada e mercado internacional mais restrito.

Ainda assim, a alta do dólar tende a favorecer o setor. Afinal, via de regra, sabe-se que o aumento da receita costuma superar a elevação dos custos.

Mas, neste cenário há uma boa notícia para o agro brasileiro. Temos previsão de recorde de grãos para a atual safra. Com isso, dólar alto e safra farta ajudam a, de certa maneira, blindar o PIB do agronegócio durante a pandemia, fazendo com que o setor continue sendo o menos atingido pela crise.

Como ficam os contratos a longo prazo no ambiente do agronegócio?

Uma grande preocupação de empresários rurais diante da constante alta do dólar tem relação com os contratos de exportação de commodities e importação de insumos, sejam aqueles já vigentes ou os que ainda serão negociados no futuro próximo.

Contratos futuros precisam ser bem negociados pelo produtor rural. Fonte: Neomondo.
Contratos futuros precisam ser bem negociados pelo produtor rural. Fonte: Neomondo.

Segundo especialistas do setor, a alta do dólar no agronegócio pouco afetará os contratos vigentes, com eles não sofrendo mudanças, seja na exportação ou importação. Mas essa não é necessariamente uma boa notícia para o produtor. A comercialização da soja é um grande exemplo neste contexto.

Com a alta do dólar, houve significativa valorização da saca de soja exportada pelo Brasil e isso tem causado grande tensão no assunto que envolve os contratos travados em 2020, com vencimento para 2021. 

Esse cenário exige a adoção de algo há muito tempo não visto: a renegociação de contratos antigos com as tradings. Isso é essencial para que não haja uma subvalorização da saca de soja, nem o pagamento excessivo por parte dos compradores.

Já os novos contratos precisarão ser muito bem amarrados e planejados, uma vez que esses poderão ser bastante afetados pela valorização do dólar frente ao real.

Para contornar essa situação cabe ao produtor se comportar como um verdadeiro empresário rural, ou seja, ele deve ser muito mais assertivo nas tomadas de decisão, estruturando para isso uma gestão mais operacional do negócio.

Mas, além de ter uma visão mais estratégica, cabe ao produtor desenvolver o planejamento tático e operacional da sua empresa. O gerenciamento e mensuração de ações e metas a curto, médio e longo prazos, somados à definição de etapas, ajudam a empresa a enfrentar melhor as alterações de mercado e da economia.

Conclusão

Certamente, o agronegócio brasileiro é muito bem estabelecido e continuará a crescer e contribuir com a economia nacional. O incremento de novos mercados e a expectativa da safra recorde brasileira são alguns elementos que podem contornar a elevação do dólar no agronegócio.

Assim, diante do exposto há um forte indicativo de que no atual momento, a alta do dólar no agronegócio beneficiará o setor, com produtores podendo mais “ganhar” do que “perder”. Entretanto, a ausência de melhor gestão e planejamentos mais consistentes podem transformar um cenário atualmente promissor em uma futura crise.

Assim, este é, sem dúvida, um momento oportuno para que possamos desenhar novas estratégias e fazer novos planejamentos para manter e até mesmo aumentar a participação do agronegócio na economia nacional.

Te ajudamos a entender os efeitos da alta do dólar no agronegócio? Conte-nos abaixo sua experiência e deixe sua resposta.

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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2 Comments

  1. Matheus Reply

    Excelente artigo! Muitas pessoas tem dúvida sobre como o agronegócio consegue se manter diante da crise, esta matéria explicita de forma clara!

  2. Matheus Reply

    Excelente artigo! Muitas pessoas tem dúvida sobre como o agronegócio consegue se manter diante da crise, esta matéria explicita de forma clara!

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