O desafio de tornar a agricultura de precisão mais acessível: o papel da capacitação

O maquinário agrícola tecnológico é um dos maiores aliados da agricultura de precisão. Os custos com esses veículos costumam ser elevados e, muitas vezes, os tratoristas não estão preparados para usar corretamente todas as funcionalidades dos aparatos de tecnologia.

No Brasil, a maioria dos operadores têm baixa escolaridade e existem algumas iniciativas para tornar a agricultura de precisão mais acessível, que buscam solucionar este desafio. Neste artigo, você vai conhecer algumas delas.

O problema da educação

Segundo pesquisas do IBGE, a qualificação dos trabalhadores do campo não acompanha o avanço da tecnologia no agro. O consumo intensivo de capital intelectual, por muito tempo, permaneceu restrito aos mais especializados. Se acordo com os dados da pesquisa, dos 3,9 milhões de produtores que geriam suas próprias fazendas, 39% eram analfabetos ou sabiam ler e escrever, mas nunca frequentaram a escola. O acesso a bens, saneamento e políticas públicas para incluir os produtores e operados não acompanhou a grande mecanização do campo e esses produtores encontraram dificuldade para se adaptar às novas técnicas de irrigação, plantio, colheita, biossegurança e manutenção de culturas.

A educação no campo já se provou eficaz para melhorar os processos. De acordo com um estudo do CEPA, a escolaridade foi o principal influenciador do aumento dos salários das mulheres que atuam no agronegócio. Para a agricultura familiar, pensar em práticas que tornem a agricultura mais acessível é extremamente relevante e, por essa razão, esse público costuma ser o foco das práticas de formação. Ainda assim, existem iniciativas de formação para operadores de máquinas agrícolas que usam a tecnologia da agricultura de precisão.

“Ele [o funcionário] não precisa fazer um curso de agronomia, mas tem que entender por que aplicar aquela fórmula no solo e quais os riscos de não aplicar. Esse cálculo, até pouco tempo atrás, não fazia diferença. Agora, com a agricultura de precisão, isso tem mais importância”, afirma Gladys Mariotto, Ph.D. e criadora da metodologia e cofundadora da Já Entendi Agro, uma empresa focada em descomplicar a agricultura de precisão para operadores de baixa escolaridade.

Vamos conhecer algumas destas formações?

e-Campo

Com linguagem didática e de fácil entendimento, o e-Campo é uma plataforma da Embrapa que visa capacitar produtores, técnicos e operadores de forma geral. São cursos gratuitos de diversos temas, como Desenvolvimento e validação de métodos de espectroscopia no infravermelho próximo, Diagnóstico rápido de estrutura do solo, práticas de biosseguridade na bovinocultura leiteira, Matemática financeira básica e muito mais.

EAD Senar

O Senar oferece em seu portal EAD diversos cursos gratuitos. Entre eles está, por exemplo, o Introdução à Agricultura Digital, voltado para pessoas ligadas ao meio rural, prestadores de serviço e parceiros que possuem pouco ou nenhum conhecimento em agricultura de precisão. Ao longo do curso, são abordados temas como a importância da informática na agricultura, os principais softwares usados na agricultura, conceitos de variabilidade espacial e temporal no campo, sistema global de navegação por satélite, sensores, mapas de variabilidade e muito mais. O curso tem emissão de certificado e duração de 25 dias.

Imagem: Nação Agro

Existem também a formação em Agricultura de Precisão em Diferentes culturas: olericultura, silvicultura, produção de grãos e culturas perenes. O curso tem tutoria, é 100% online e gratuito e é destinado para pessoas com pouco ou nenhum conhecimento em agricultura de precisão. Ao longo do curso, são abordados a importância da agricultura de precisão, os principais mapas empregados na produção e as principais possibilidades de aplicação em cada uma das culturas abordadas.

Agricultura de precisão na aplicação de defensivos agrícolas é outro curso do EAD Senar, com duração de 30 dias, 100% online e gratuito. Além de oferecer tutorias e certificado, o curso é destinado para pessoas com pouco em nenhum conhecimento no tema. Os temas abordados são piloto automático, mapas e variabilidade para aplicação de defensivos agrícolas, regulagem e calibração de sensores para aplicação a taxa variável, eficiência e segurança na aplicação dos produtos.

Imagem: CNA Brasil

Além dos cursos já citados, o Senar EAD também oferece formação em Agropecuária Digital, Agricultura de Precisão na Semeadura, Agricultura de Precisão na Distribuição de Corretivos e Fertilizantes e muitos outros.

Embrapa e Senar São Carlos

A Embrapa e o Senar se uniram para promover a formação em Agricultura Digital em São Carlos (SP). Por lá, instrutores dos órgãos estão recebendo formação técnica em ferramentas comumente usadas na agricultura de precisão, como sensores, veículos aéreos não tripulados, GPS, sistemas de informação geográfica e outros. A ideia é que, com o treinamento, os técnicos compartilhem o conhecimento no cotidiano da fazenda. Essa ação é parte do programa criado pelo Senar em 2012 e que consiste em algumas etapas. A primeira delas é a capacitação de multiplicadores por parte da Embrapa. Em seguida, após a especialização, receberão o apoio da Rede Agricultura de Precisão, ou Rede AP, que envolve vinte centros de pesquisa e mais de 50 parceiros, entre empresas, universidades, produtores e instituições de pesquisa.

Embrapa Meio Ambiente e a “agricultura escolar”

Implantado em 1997, o programa Embrapa & Escola é um projeto institucional da Embrapa Meio Ambiente. A ideia é aproximar alunos do ensino médio e das universidades, por meio de visitas às fazendas de pesquisa e palestras ministradas por pesquisadores, especialistas e técnicas de diversas áreas. Desde a sua criação, já foram mais de 40 mil alunos impactados peça ação. Essa iniciativa estimula os jovens a se interessarem para a agricultura e permite com que a formação acontece ainda na escola. As temáticas abordadas nos espaços de formação são diversas e perpassam a agricultura de precisão.

Senar-PR – Operação de Drones

O Senar do Paraná disponibiliza o curso Trabalhador na Agricultura de Precisão: Operação de Drones. Ele é voltado para operadores de drones e visa evitar acidentes com o uso do equipamento. Esses acidentes são muito comuns e geram preocupação entre operadores, produtores, agropecuaristas e até para concessionária de energia da região, que sofre danos de voos mal executados.

“Quando surgiram estes drones [de pulverização], já imaginávamos que isso poderia acontecer, mas não esse número de casos de abril. Por isso, partimos para uma campanha massiva de orientação”, afirma o coordenador da comissão de drones da Copel Distribuição, Vitor Marzarotto.

Fontes:

Agro Olhar

Compre Rural

Revista Analytica

CEPEA

e-Campo

Senar EAD

Nação Agro

CNA Brasil

Jornalista, mestre em Tecnologias, Comunicação e Educação, revisor e redator freelancer. Atua como repórter e assessor de imprensa e já publicou dois livros como autor independente. Tem interesse por cinema, literatura, música e psicanálise.

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