Mecanização da cana: História e perspectivas para o futuro

De acordo com a primeira estimativa da safra de cana-de-açúcar 2021/22, divulgada em maio de 2021 pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deve produzir 628,1 milhões de toneladas, e uma coisa é certa, todo esse volume de produção é decorrente do processo de mecanização da cana-de-açúcar, principalmente na colheita.

Atualmente, 97% da colheita de cana-de-açúcar na região Centro-sul do Brasil é mecanizada. Mas nem sempre foi assim, tanto que há cerca de 60 anos atrás, todas as operações agrícolas relacionadas à cana-de-açúcar no Brasil eram manuais. 

Assim, por muitas décadas, a colheita da cana ocorria apenas após a queima, sem qualquer tipo de mecanização, depois vieram as colheitadeiras semi-mecanizadas e, por fim, as totalmente mecanizadas, tal qual utilizamos atualmente.

As tecnologias destinadas à total mecanização da cana-de-açúcar já avançaram bastante, mas ainda há muito espaço para crescer e evoluir, com novas máquinas surgindo para reduzir desperdícios e contribuir com o meio ambiente. 

Assim, convidamos você a entender todo o histórico da mecanização da cana, desde a colheita totalmente manual até a colheita mecanizada, assim como as perspectivas para a mecanização dentro dessa cultura que possui uma histórica importância para o agronegócio brasileiro.

Histórico da mecanização da cana no Brasil

Hoje em dia, ao acompanhar a colheita dos canaviais, vemos o trabalho de grandes colheitadeiras que realizam todo o trabalho de forma totalmente automatizada. Mas engana-se quem pensa que foi sempre assim.

No início dessa atividade, o corte era totalmente manual, ocorrendo após as queimadas, tendo apenas o carregamento mecânico. Já nas décadas de 1950 e 1960, começaram as melhorias no corte mecanizado com a importação das primeiras máquinas vindas da Austrália.

Queima de cana
Queima da cana: processo que antecedeu a colheita por muito tempo. Fonte da imagem: Static

Porém, mesmo mecanizadas, essas operações ainda exigiam a queimada da cana-de-açúcar para a colheita. Essa era, também, considerada uma operação de guerra, estando associada a custos altos e perdas bastante expressivas.

A primeira experimentação de corte de cana-de-açúcar mecanizado foi realizada no ano de 1956, com o uso de equipamento importado. Na época, esse procedimento não era visto como um problema, principalmente porque não existia a preocupação ambiental tal qual temos hoje. 

Já na década de 70, as primeiras configurações de máquinas destinadas à colheita da cana começaram a ter sua produção ocorrendo no Brasil. Elas eram baseadas na mesma tecnologia australiana da década de 1950, com colheita de cana picada. 

Vale salientar que na agricultura brasileira, o processo de mecanização no cultivo da cana ganhou os holofotes com a implantação do Proálcool, em 1975. 

Com os avanços da mecanização da cana, a década de 1980 foi caracterizada pela dúvida a respeito da colheita que deveria ser utilizada: cana picada ou cana inteira. Na época, foi desenvolvido um tipo de colhedora que cortava a cana em sua base e depois tombava o colmo inteiro na superfície do solo. 

No entanto, ainda havia a necessidade de recolher a cana-de-açúcar do chão, fato que eleva o custo e gera uma grande quantidade de impurezas.

Década de 90: o maior salto tecnológico da colheita mecanizada de cana

Na década de 1990 a dúvida da década anterior foi solucionada, com a opção pela cana picada na colheita se consolidando como rota tecnológica vencedora, em virtude de questões sociais, econômicas e tecnológicas com o intuito de eliminar a operação de carregamento necessária no sistema que manuseia colmos inteiros. 

Mecanização da cana
Colhedora Amazon (1996) – Fonte da imagem: Globo Rural

Entretanto, ainda na década de 90, tais máquinas permitiam a recuperação apenas dos colmos. Já a palha era eliminada da forma mais econômica possível, normalmente por meio da queima. No caso da colheita da cana crua, a palha era deixada no campo para conservação do solo.

O processo de evolução da mecanização da cana continuou ocorrendo de forma constante, com os anos 90 e 2000 sendo marcados pela evolução das colhedoras em relação a potência e consolidação da colheita da cana crua, especialmente após o protocolo ambiental do Estado de São Paulo, em 2007, que se traduziu em uma medida legal em defesa do meio ambiente.

Protocolo ambiental de São Paulo: impedimento das queimadas da cana na pré-colheita

Por muito tempo, a queima da palha da cana-de-açúcar representou uma das grandes responsáveis pela emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, além de monóxido de carbono (CO), óxido nitroso (N2O), metano (CH4) e a formação do ozônio (O3), além da poluição do ar atmosférico ocasionados pela emissão de fumaça e fuligem. 

Além disso, a queima da cana-de-açúcar está relacionada a um aumento substancial no número de doenças respiratórias entre crianças e idosos, principalmente nas cidades limítrofes da produção canavieira, fato que, por muito tempo, gerou infindáveis processos na justiça contra as usinas.

Atento a essa questão ambiental, o governo do Estado de São Paulo celebrou com o Setor Sucroenergético um protocolo de boas práticas agroambientais, assinado no ano de 2007.

No âmbito da mecanização da colheita da cana-de-açúcar, o Protocolo Agroambiental do Setor Sucroenergético representa um acordo voluntário pioneiro entre o estado de São Paulo e o setor sucroenergético, que entre outras disposições determinou: 

  • A antecipação dos prazos legais para o fim da despalha da cana por meio do uso de fogo para 2014 (nas áreas mecanizáveis, para todas as unidades industriais signatárias) e 2017 (áreas não mecanizáveis) e; 
  • A recuperação de matas em nascentes e a proteção das áreas de preservação de outros cursos d’água

Desde a assinatura do protocolo, todas as agroindústrias e produtores de cana foram induzidos a realizar expressivos investimentos para adequação das áreas de cana, recuperação de matas, requalificação de mão-de-obra e aquisição de colhedoras mecanizadas, estimulando o desenvolvimento de máquinas ainda mais eficientes.

Por fim, com toda essa evolução tecnológica de máquinas agrícolas, a mecanização total das culturas foi cada vez mais demandada, atingindo hoje números que variam entre 82 a 97%, dependendo da área de cultivo e região do país.

Plantio mecanizado: maior eficiência à cana-de-açúcar

De fato, a colheita mecanizada evoluiu de forma significativa nas últimas décadas. No entanto, o processo de plantio foi, por muito tempo, realizado de forma manual, sendo hegemônico no Brasil. Contudo, a partir dos anos 1990, com a colheita mecanizada ganhando em popularidade, começou também a crescer o interesse pela mecanização do plantio. 

Assim, anos depois da colheita mecânica ganhar espaço em canaviais, em face dos protocolos ambientais a favor do fim das queimadas, o plantio mecanizado foi ocupando seu espaço, principalmente devido à crescente falta de mão-de-obra no campo, que foi reduzida significativamente após a colheita mecanizada. 

Dessa forma, o plantio mecanizado já é adotado na maioria das áreas cultivadas, com forte tendência de crescimento. Com ele, todas as operações desde a colheita de mudas até o plantio são realizadas de forma mecânica. 

Plantio mecanizado da cana-de-açúcar: maior eficiência ao início da cultura.
Plantio mecanizado da cana-de-açúcar: maior eficiência ao início da cultura. Fonte da imagem: RPA News

A colhedora, quando adaptada, poderá realizar a colheita de mudas e o plantio é realizado por uma máquina que abre o sulco, aduba, aplicar produtos fitossanitários, coloca os colmos já picados dentro do sulco, fecha o sulco e realiza o nivelamento do terreno.

A automatização do plantio e da colheita

Com o avanço tecnológico, o plantio mecanizado pode estar associado a outras técnicas como plantio direto e utilização de GPS. Quando munida de GPS, a plantadora consegue registrar a posição das linhas de plantio, seguindo um planejamento previamente desenhado, visando a otimização do terreno.

Já para a colheita, é possível a realização de mapeamento com drones munidos de RTK, visando garantir a acurácia geodésica do resultado, e geração das linhas de colheita. Essas podem ser inseridas na colhedora para a realização da colheita automatizada, que além de otimizar o serviço, colabora com a redução do pisoteio de soqueira.

O FieldScan oferece um produto de detecção de linhas de colheita na cana-de-açúcar.
O FieldScan oferece um produto de detecção de linhas de colheita na cana-de-açúcar. Fonte: Sensix

Para que esse processamento gere resultados confiáveis para a inserção no maquinário, deve-se tomar muito cuidado com a captura das imagens, pois um deslocamento no mapa invalida os resultados obtidos para automatização da colheita.

Plataformas como o FieldScan oferecem esse processamento de linhas de colheita, além das falhas de plantio, que você pode conhecer um pouco mais nesse outro artigo no nosso blog.

Perspectivas futuras da mecanização da cana-de-açúcar: mais eficiência e redução de custos

Reduzir tráfego de colheita (reduzindo a compactação do solo), melhorar o consumo de combustível e realizar a colheita com maior produtividade e o mínimo de desperdício. Essas são as apostas do mercado sucroenergético, de especialistas do setor e de usuários para o futuro da colheita mecanizada de cana-de-açúcar.

Modernas máquinas agrícolas: o futuro da mecanização da cana de açúcar.
Modernas máquinas agrícolas: o futuro da mecanização da cana de açúcar. Fonte da imagem: RPA News

Essa é a prova de que o pacote tecnológico para maior capacidade de colheita não para de evoluir e as perspectivas são excelentes. De uma safra para outra, as melhorias são constantes, sempre em busca de mais produtividade, com menor custo operacional e melhor qualidade de colheita.

As novas tecnologias, seja das colhedoras quanto das plantadeiras, tendem a oferecer muitas funcionalidades e consequentemente diminuir cada vez mais o trabalho do operador. 

Tais funcionalidades gerenciam o funcionamento da máquina em completo, para proporcionar redução do consumo do diesel e processos de manutenção. Facilitam também a operação e simplificam as manobras e até proporcionam o arrefecimento inteligente. 

Por fim, os sistemas de gerenciamento da lavoura já são capazes de “copiar o solo” para melhorar a qualidade da colheita, com tendência de evolução sendo uma constante dentro do setor canavieiro.

Referências

UDOP

Açucareira Energy

Nova Cana

IEA SP

Revista Sucroenergetico

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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