Falhas de plantio na cana-de-açúcar: qual o impacto na produtividade?

Com as mudanças ocorridas nas operações de plantio da cana-de-açúcar, principalmente no que tange à mecanização, a ocorrência de falhas de plantio no canavial tornou-se um aspecto importante a ser considerado nas expectativas de produtividade.

O maior problema apontado no plantio mecanizado é a ocorrência de falhas causadas por danos às gemas. Considerando que no plantio manual já se utilizava uma quantidade de mudas elevada para compensar as falhas, no plantio mecanizado aumentou-se em média de 4 a 6 t/ha. Mais recentemente, várias metodologias e pesquisas têm tomado o cenário como alternativas para aumentar a eficiência das operações de plantio, seja com o emprego de formas diferenciadas de formação da nova planta, como o plantio de mudas pré-brotadas em maior escala, ou o projeto Plene de “sementes” de cana conduzido pela Syngenta, seja com a condução de operações de correção como a replanta ou redobramento.

Além dos danos às gemas, uma série de outros fatores pode influenciar no estande de plantas em cana-de-açúcar, como a má distribuição de mudas no plantio, o pisoteio da linha de soqueira e mal estado das lâminas da colhedora em uma operação de colheita.

Com esse contexto, o professor Rubismar Stolf da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar – Araras – SP) propôs pela primeira vez em 1986 uma metodologia de definição de tamanho e medição amostral de falhas, que se tornaria o padrão de operação de avaliação em praticamente todo o mercado sucroenergético atual.

O que é considerado falha?

Por definição, “falhas” são espaços vazios sem colmos nas linhas de cana-de-açúcar, sendo sua ocorrência associada à diminuição da produtividade. Mas a partir de que tamanho um espaço pode ser considerado uma falha?

Para validar essa informação, foi feita uma comparação entre um canavial “menos falhado” de cana planta, e um canavial “mais falhado” de soqueira de 4° corte. Executando as medições de falhas, percebe-se que o canavial mais falhado, e portanto menos produtivo, possui uma incidência maior de falhas “grandes” e menor de falhas “pequenas”.

Canavial com cana planta menos falhado. Maior incidência de falhas  de palntio abaixo de 50 cm
Canavial com cana planta menos falhado. Maior incidência de falhas abaixo de 50 cm.
Canavial de soqueira de 4° corte mais falhado. Maior incidência de falhas de plantioacima de 50 cm.
Canavial de soqueira de 4° corte mais falhado. Maior incidência de falhas acima de 50 cm.

Após executar a medição de falhas a partir de 30 cm traçou-se a gráfico que descreve a distribuição de falhas segundo seu comprimento, identificando a tendência que difere um canavial menos e mais produtivo.

Relação encontrada entre tamanho e quantidade de falhas em canaviais com diferentes produtividades.
Relação encontrada entre tamanho e quantidade de falhas em canaviais com diferentes produtividades.

O fato é que uma cana-planta, ainda em pleno estabelecimento e perfilhamento, possui uma tendência maior de ter falhas abaixo de 50 cm, enquanto falhas maiores são mais raras. No gráfico de distribuição acima, visualizamos que as curvas entre o canavial mais falhado e menos produtivo inverte a proporção com o canavial menos falhado e mais produtivo para falhas a partir de 50 cm, sendo definida esta como a medição significativa que passa a causar impacto na produtividade, e portanto, a medição mínima de falhas que deve ser buscada.

Relação de porcentagem de falhas de plantio e produtividade

Uma vez estabelecido o conceito de falha, qual seria o real impacto deste fator na produtividade final do canavial? Através de estudos complementares, Stolf conduziu experimentos utilizando 5 tratamentos diferentes, em 5 repetições aleatórias em 3 locais diferentes, coletando dados de produtividade para diferentes níveis de porcentagem de falhas, concluindo o seguinte gráfico F% x Produtividade.

Através desta calibração, obteve-se a curva que correlaciona a produtividade com o índice de falhas. As perdas resultaram lineares em um grande intervalo de falhas (0 – 55 % de falhas), com perdas de 3,2 % de produtividade para um aumento de 10 % no índice de falhas. Isso significa dizer que uma cana de produtividade potencial de 100 t/ha, perde 3,2 t/ha de produção se apresentar um total de 10% de falhas. Isso mostra a grande capacidade de recuperação do canavial, pois 1 % de falha não resulta em 1% de perda de produtividade, mas sim, apenas 0,32 %, ou seja, uma recuperação de 68% (2/3).

Relação entre a porcentagem de falhas em cana e a redução de produção relativa.
Relação entre a porcentagem de falhas em cana e a redução de produção relativa.

Compensa replantar?

O replantio de mudas é uma operação que sempre dividiu opiniões no dia a dia no campo. Diversas empresas testaram e vem testando diversas formas de reduzir o impacto das falhas na produtividade, priorizando ações conforme o nível de criticidade. O fato é que para se tomar uma decisão de replanta, deve-se levar em conta fatores como o nível de falhas, tamanho das falhas e idade do canavial. Além disso, há uma significativa diferença no desenvolvimento da planta e qualidade de operação quando a replanta é feita com mudas convencionais ou mudas pré-brotadas.

De maneira geral, considerando que fatores como o sombreamento inibem o desenvolvimento pleno da muda replantada, a produtividade ainda naquele corte pode não ter um aumento significativo, mas pode fazer diferença significativa na produção das rebrotas subsequentes. Dessa forma, as práticas mais comuns são conduzir o redobramento da cana pouco antes da colheita ou o replantio de MPB ainda nos primeiros meses de desenvolvimento da planta, garantindo melhora no estande e consequente produção nos próximos cortes.

Na imagem abaixo temos um comparativo de dois talhões de cana-de-açúcar que apresentavam falhas no primeiro ano e, após uma operação de replantio de mudas apenas nas falhas, houveram aumentos significativos de produtividade no ano seguinte, chegando a 9 toneladas de cana por hectare de incremento considerando apenas a safra seguinte.

Estudo de caso de aumento de produtividade em cana-de-açúcar com o replantio de mudas nas falhas. Fonte: 3D Agro.

Outro fator importante a se considerar é que além de aumentar a produtividade de cada safra subsequente, ter uma gestão refinada da população de plantas pode alongar também a longevidade do canavial, aumentando a quantidade de cortes antes da reforma da lavoura.

Como medir falhas no plantio?

Medição terrestre manual

Em 1986, Stolf propôs uma metodologia de medição terrestre e manual de falhas, que consiste em utilizar um bastão de 50 cm para validar as falhas que devem ser medidas e uma trena para acumular as medições. As medições são feitas por duas pessoas em segmentos de 20 metros de linha de forma amostral no canavial, gerando uma estatística que é extrapolada para o restante da área. Devido à baixa eficiência operacional esse tipo de medição está cada vez mais em desuso.

Metodologia de medição amostral terrestre e manual proposta por STOLF.

Medição aérea automática

Com o advento de novas tecnologias comos os drones ou VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) a obtenção de dados de 100% da área com alta resolução passou a ser possível a um custo extremamente baixo e altíssima eficiência operacional. O uso de equipamentos de baixo custo, como drones da linha DJI, com câmeras de alta performance e possibilidade de voos por rota programada deu acessibilidade à metodologia.

Medição aérea automática pode ser feita em 100% da área e apresenta alta eficiência operacional e baixo custo.

Após a obtenção das imagens (automaticamente georreferenciadas pelo drone), os dados são processados para geração de um mapa de alta resolução (até 5 cm/pixel) e um software de detecção das linhas e falhas de plantio pode ser aplicado para quantificar os comprimentos totais encontrados.

Coletei os dados com meu drone, e agora?

É possível encontrar alguns softwares no mercado que executam esse tipo de medição, mas ainda requerem um computador de processamento e muita intervenção manual para correções das linhas e falhas geradas, o que limita a escala e eficiência no processamento dos dados.

Com o advento de plataforma de processamento de dados na nuvem, esse tipo de prática tem sido cada vez mais acessível. Uma dessas plataformas é o FieldScan, desenvolvido pela Sensix, e que consiste em uma metodologia computacional que classifica, detecta e quantifica os comprimentos de linhas e falhas de plantio em cana-de-açúcar de forma automatizada, escalável e com entrega de resultados e relatórios em até 72h. Sem necessidade de compra de licença e computadores robustos de processamento, os dados são processados e cobrados sob demanda, permitindo o acesso da tecnologia inclusive para pequenos produtores. Os dados também são categorizados e quantificados conforme o tamanho das falhas.

Falhas de plantio
Legendas geradas pelo FieldScan quando utilizado o algoritmo de Falhas de Plantio.

Conclusão de mais de três anos de desenvolvimento, o algoritmo foi pensado para a cana, mas já está em uso na cultura do cafeeiro e em testes nas culturas de citrus, batata, tabaco e eucalipto.

A seguir, confira o que o produtor de cana Pedro Korndörfer conta sobre sua experiência com o FieldScan. O Pedro possui um DJI Mavic Pro e já executa a própria coleta de dados nas suas áreas de plantio e soqueira.

Gostou de saber mais sobre o impacto das falhas de plantio na produtividade de cana-de-açúcar? Deixa uma comentário logo abaixo, para nós sua opinião é muito importante.

Ah, e você pode testar a plataforma FieldScan processando até 100 ha de área gratuitamente. Basta clicar aqui e se cadastrar!

Referências

Avaliação de Falhas em Cana-de-Açúcar Segundo o Método de Stolf Utilizando Imagens Aéreas de Alta Precisão Obtidas Por Vant [2016].

STOLF, R. Metodologia de avaliação de falhas nas linhas de cana-de-açúcar [1986].

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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