Plantio de orgânicos: Compensa investir financeiramente?

Com a mudança no comportamento da sociedade, a preocupação do consumidor com sua alimentação é um fator que vem crescendo muito nos últimos tempos. Para atender essa demanda, o plantio de orgânicos cresce ano após ano, contribuindo para melhoria não apenas da saúde de quem consome, mas também com a renda de quem produz.

Neste cenário, é cada vez maior a procura de consumidores por produtos de origem orgânica, principalmente em cidades próximas aos maiores centros comerciais. Isso vem fazendo com que a produção orgânica passe a ser adotada por muitos produtores que visam aumentar os seus rendimentos.

Mas diante deste crescimento na procura por orgânicos, uma questão ainda fica no ar: vale a pena investir no plantio de orgânicos, já que eles são relativamente mais caros, demandam maiores cuidados e ainda não são totalmente aceitos pelos consumidores?

Neste artigo vamos tentar ajudá-lo a responder essa questão. Mostraremos também qual é a definição de um produto orgânico e como iniciar esse novo sistema de produção.

O que define um produto orgânico?

A procura por alimentos orgânicos, que já vinha aumentando de forma lenta, acelerou bastante com a pandemia. O que se percebeu neste período são consumidores mais conscientes, preocupados em saber a origem dos alimentos que consomem e dispostos a pagar mais para comerem de forma mais saudável.

Mas qual é a melhor definição para produtos orgânicos?

Algumas são as definições para explicar o que são os produtos orgânicos, mas de acordo com a Lei n° 10.831, de dezembro de 2003, que regula a agricultura orgânica no Brasil, um produto orgânico é: 

“Aquele obtido dentro de um sistema orgânico de produção agropecuária – ou extrativista sustentável – que beneficie o ecossistema local, proteja os recursos naturais, respeite as características socioeconômicas e culturais da comunidade local, preserve os direitos dos trabalhadores envolvidos e não utilize organismos geneticamente modificados nem químicos sintéticos”.

Dessa forma, para ser considerado orgânico, o produto deve ser cultivado em um sistema produtivo que considere sustentabilidade social, ambiental e econômica. Não é permitido também o uso de agrotóxicos, hormônios, drogas veterinárias, adubos químicos, antibióticos ou transgênicos em qualquer fase da produção.

A agricultura orgânica também conserva a qualidade do nosso solo e água, além de cuidar dos nossos produtores.

O que você precisa para iniciar o plantio de orgânicos?

Para iniciar um projeto de plantio de orgânicos o produtor deve fazer um plano de manejo orgânico muito bem fundamentado, ou seja, cabe ao produtor fazer um planejamento de ações que o ajudarão a manejar a produção e seguir o caminho para a sustentabilidade.

Assim, ao iniciar um projeto de produção orgânica, alguns fatores devem ser observados e considerados pelo produtor, tais como:

• Entender as características relacionadas à propriedade (quantidade e qualidade da água, respeito às leis ambientais, barreiras vegetais, etc);
• Selecionar quais são as atividades a serem desenvolvidas, assim como assistência técnica, escolha do tipo de certificação e a certificadora;
• Seguir práticas recomendadas para a produção orgânica, como o correto preparo da área, seguindo os preceitos da sustentabilidade;
• Escolha das sementes ou mudas que também devem ser orgânicas;
• Executar práticas que auxiliam na manutenção da fertilidade do solo, caso da manutenção da cobertura permanente do solo;
• Escolha do tipo de adubação;
• Prevenção e controle de pragas e doenças sem uso de nenhum tipo de agrotóxicos;
• Controlar o crescimento do mato na área, também sem agrotóxicos;
• Verificar os insumos admitidos para uso na propriedade orgânica;
• Fazer o processo de certificação orgânica individual ou em grupo;
• Obter informações sobre máquinas e equipamentos, legislação e normas técnicas aceitáveis para a agricultura orgânica.

Dessa forma, o plantio de orgânicos se baseia em normas técnicas bastante rigorosas para preservar a integridade e qualidade dos alimentos, assim como o ecossistema onde há a produção. 

No campo empregam-se princípios e técnicas naturais, como a utilização de adubação verde e de biofertilizantes, além de métodos alternativos para a proteção contra o ataque de possíveis pragas e doenças, tais como o controle biológico e mecânico.

Vale a pena investir no plantio de orgânicos?

De fato, do ponto de vista ambiental, a produção de orgânicos apresenta benefícios que estimulam sua adoção. Mas, e do ponto de vista financeiro? Os custos e os lucros ainda estimulam o investimento no cultivo de orgânicos?

A resposta é sim e números recentes do setor provam isso.

Segundo o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), o cultivo de alimentos orgânicos ganha cada vez mais espaço no país e expande o mercado em ritmo acelerado. O volume produzido cresce, em média, 15% ao ano no Brasil. Só no ano de 2019, o setor movimentou cerca de R$ 4,5 bilhões.

No entanto, mesmo crescendo, o mercado de orgânicos é ainda pequeno no país com o segmento representando apenas 1% do mercado brasileiro de alimentos. Nos EUA, por exemplo, já respondem a 3% do mercado de perecíveis.

Um dos motivos para essa baixa participação dos orgânicos na agricultura brasileira está relacionada ao custo de produção do plantio sustentável de produção, consideravelmente mais alto.

Há vários motivos para que o preço de produção, e consequentemente de venda, de um produto orgânico seja mais caro que o convencional. Um deles é a baixa escala de produção, ou seja, quanto menor a quantidade produzida, maior será seu custo unitário.

Há também a questão relacionada às características do produtor, muitas vezes familiar e com baixo suporte de uma boa gestão, e o desconhecimento do consumidor sobre os benefícios dos orgânicos e sua relação com os preços mais altos, são fatores que fazem com que o preço dos orgânicos seja mais elevado. 

Assim, o que falta para o mercado brasileiro de orgânicos é deixar de ser apenas um nicho e tornar-se um segmento importante da produção agrícola e da indústria alimentícia, ou seja, é preciso ganhar em escala de produção e comercialização. 

Apesar do alto preço, precisamos observar o outro lado da moeda

De fato, os custos relacionados ao plantio de orgânicos é mais alto, tanto para a produção, quanto para a compra. No entanto, um produto bom e de boa qualidade costuma ser mais caro.

Diante disso, o primeiro ponto que precisa melhorar é a comunicação sobre os benefícios dos orgânicos, ou seja, a população deveria ser amplamente informada de que o produtor orgânico cuida do solo, da água, da saúde de todos, da biodiversidade, do ambiente em geral e isso gera custos que o produto convencional não tem. 

Além disso, um produto orgânico exige certificação e isso gera custos. Mas, olhando o outro lado da moeda, estes custos serão, essencialmente no longo prazo, bem menores que a necessidade de despoluição, tratamento de doenças, desassoreamento de rios e lagos, recuperação de solos erodidos, recomposição da fauna e da flora.

Quer se diferenciar? Então adote o selo de orgânicos 

Uma das melhores formas para que o produtor de orgânicos consiga se diferenciar e mostrar porque seus produtos apresentam valores agregados mais elevados é a busca pelo selo de qualidade.

Para o consumidor, o selo orgânico serve como uma garantia de que este é um alimento que seja, de fato, orgânico. Já para o produtor é uma forma de diferenciação, principalmente para conseguir mercados consumidores mais exigentes que já reconhecem a importância dos alimentos orgânicos.

De acordo com a legislação, todo produto orgânico no Brasil – exceto aqueles que os pequenos produtores vendem diretamente aos consumidores – precisam ter esse selo estampado na embalagem.

Assim, qualquer produtor que segue a linha orgânica de produção pode receber o selo, no entanto, em um primeiro momento é preciso se adequar ao solicitado para só então iniciar o processo de certificação.

Portanto, orgânicos são sim mais caros do ponto de vista econômico, mas seus benefícios são essenciais para uma sociedade mais sustentável e saudável em todos seus aspectos, sejam eles ambientais, sociais ou econômicos.

E aí amigo agricultor? Que tal aprimorar seus conhecimentos e diversificar sua produção agrícola por meio do plantio de orgânicos?