Cerrado: Decomposição de matéria orgânica auxilia na conservação ambiental no bioma

Pesquisa demonstra benefícios da decomposição de matéria orgânica para a conservação ambiental no Cerrado

Um estudo realizado por pesquisadores da Embrapa Cerrados, da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto Federal de Brasília (IFB) chegou a importantes resultados, capazes de contribuir com o controle e a conservação do meio ambiente, sobretudo no que se refere ao controle das perdas de matéria orgânica do solo e à recuperação de áreas degradadas.

Isso porque a pesquisa de longa duração constatou que o processo de decomposição da serapilheir (ou seja, da camada formada por matéria vegetal morta e matéria orgânica que cobre o solo) tem relação direta com fatores como a diversidade da flora local e a ação de decompositores, especialmente no período chuvoso.

Na prática, como observado no estudo, a serapilheira tem um papel essencial no equilíbrio e na dinâmica dos ecossistemas, sobretudo em regiões como o Cerrado, em que a maioria dos solos apresenta baixa fertilidade natural.

Como consequência, sua decomposição ajuda a manter as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, além de contribuir com a manutenção ecológica de diversas funções e sistemas florestais.

A pesquisa – que tem como autores os pesquisadores Fabiana Piontekowski Ribeiro, Alexsandra Duarte de Oliveira, Angela Pereira Bussinguer, Maísa Isabela Rodrigues, Mikaela Soares Silva Cardoso, Ilvan Medeiros Lustosa Junior, Marco Bruno Xavier Valadão e Alcides Gatto – foi realizada em uma área de 4 hectares localizada na Quebrada dos Neres, zona rural do Paranoá (DF), em um local em que há queimadas desde 1996.

Ao longo de quase seis anos, entre agosto de 2014 e maio de 2020, os pesquisadores acompanharam a decomposição de 240 amostras de serapilheira de 20 gramas em sacos de náilon, distribuídos aleatoriamente na área. A coleta de dez sacos foi feita a cada três meses.

O estudo constatou que a meia-vida da serapilheira observada no local foi de 360 dias, período em que a decomposição foi mais rápida. Após 180 dias, as perdas foram significativas, sendo possível observar grande parte da estrutura interna das folhas.

Na prática, a taxa de decomposição da serapilheira é influenciada por diversos fatores, como a concentração de nutrientes, o teor de lignina, a ação da fauna, além do clima, da temperatura e da precipitação. 

Em áreas de Cerradão, como a estudada, as folhas representam até 70% da serapilheira. “Estudos semelhantes sugerem que as plantas do Cerrado desenvolveram mecanismos conservadores e eficientes para minimizar a perda de nutrientes durante sua decomposição, resultando na produção de serapilheira com altas taxas de carbono/nitrogênio (C:N) e carbono/fósforo (C:P ), que podem causar baixa decomposição”, disse a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Alexsandra Oliveira .

Ainda segundo ela, o Cerrado é um ecossistema com baixo teor de nitrogênio, no qual 15% a 37% são reabsorvidos antes da queda das folhas, e o nitrogênio inorgânico é disponibilizado pela mineralização da matéria orgânica.

“Assim, o que é mais palatável para os decompositores diminui com o tempo, e não podemos acreditar que haja um aumento na quantidade de nitrogênio e fósforo. A concentração desses nutrientes pode ter aumentado devido às características da cama, resultando em menor palatabilidade, ou, ainda, sua forma pode estar imobilizada, o que faz com que não fique disponível para decomposição”, afirma.

Relevância da pesquisa

Realizado com método de monitoramento não destrutivo, o estudo apresentou resultados relevantes para a elaboração de projetos de conservação e controle ambiental. 

De acordo com Fabiana Ribeiro, pesquisadora da UnB, é possível avaliar o comportamento da floresta quanto a estresses bióticos, como ação de decompositores, além de abióticos, como temperatura e umidade. “Caso a floresta seja substituída por uma lavoura, é possível estimar a perda natural de nutrientes. De acordo com o manejo do solo, conseguimos controlar a perda de matéria orgânica da superfície do solo”, enfatiza.

Além disso, segundo ela, conhecer informações sobre as espécies de uma floresta específica de uma área de Cerrado e sobre a decomposição da serapilheira permite selecionar as espécies de plantas mais atrativas para os decompositores.

“Essas espécies vegetais podem ser escolhidas no momento do plantio de acordo com o interesse, considerando a estimativa de ciclagem eficiente média dos nutrientes da serapilheira”, destaca.

“Nesse contexto, o conhecimento associado ao tempo de ciclagem da serapilheira pode contribuir para a resiliência dos estudos do ecossistema. Resultados como os que encontramos podem ajudar a gerar e orientar políticas públicas sobre resiliência climática, que tem a ver com sustentabilidade”, completou.

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Conclusão

Nos últimos anos, muitos estudos têm sido realizados por organizações, órgãos governamentais e instituições de ensino superior com o objetivo de proteger o meio ambiente e ampliar as possibilidades de produção agrícola nos mais diversos biomas brasileiros. Na prática, esses estudos contribuem de maneira bastante assertiva para que o agronegócio avance de maneira cada vez mais eficiente e responsável.

A pesquisa abordada ao longo desse artigo evidencia a importância de se explorar novas possibilidades diante das adversidades muitas vezes impostas pelas características e limitações de cada bioma. No caso do Cerrado, por exemplo, o estudo desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Cerrados, da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto Federal de Brasília (IFB) demonstrou que a decomposição de matéria orgânica auxilia na conservação ambiental e que isso pode gerar inúmeros benefícios ao meio ambiente.

Fonte: Embrapa

Jornalista, mestre em Tecnologias, Comunicação e Educação, revisor e redator freelancer. Atua como repórter e assessor de imprensa e já publicou dois livros como autor independente. Tem interesse por cinema, literatura, música e psicanálise.

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