Dentre as diversas etapas essenciais para obter bons resultados na produção agrícola está a calagem, processo realizado com o objetivo de diminuir a acidez do solo (por meio do aumento de seu pH) e fornecer quantidades adequadas de cálcio e magnésio para as plantas.
Devido à importância desse tema, a Sensix acaba de lançar uma planilha sobre os cálculos de aplicação de insumos e calagem. Porém, antes mesmo de acessar essa planilha, é importante que o produtor rural tire todas as suas dúvidas a respeito desse processo.
Por isso, esse artigo reúne as principais informações sobre a calagem, desde os benefícios até as contas que devem ser feitas no momento de definir a quantidade indicada para a aplicação. Confira:
Para que serve a calagem?
Como dito anteriormente, de modo resumido a calagem busca diminuir a acidez do solo e fornecer cálcio e magnésio para as plantas. Nesse momento, é importante alcançar um índice de pH entre 5,5 e 6,5, já que são essas as quantidades adequadas para melhorar o aproveitamento de nutrientes pelas plantas.
No caso do Brasil, esse processo é ainda mais importante, uma vez que os solos do país podem ser muito ácidos, além de apresentarem uma quantidade considerável de alumínio, o que é tóxico para as plantas.
Como os calcários são classificados?
Os calcários são divididos de acordo com a concentração de óxido de magnésio (MgO) e podem ser de três diferentes tipos: calcíticos (quando há menos de 5% de MgO), magnesianos (de 5% a 12%) e dolomíticos (acima de 12%). Essas características estão diretamente ligadas a aspectos químicos e físicos do produto e podem ser encontradas em sua própria embalagem.
Quais são os benefícios da calagem?
De maneira mais específica, os benefícios desse processo incluem o aumento da disponibilidade dos nutrientes, redução na disponibilidade de alumínio, estímulo ao crescimento das raízes, exploração mais eficiente de água e nutrientes, aumento da tolerância à seca, melhora nas propriedades físicas e biológicas do solo, estímulo ao desenvolvimento da vida microbiana, redução de custos, aumento na produtividade, entre muitos outros.
Como fazer a calagem do solo?
Esse processo pode ser dividido em cinco etapas, que, quando realizadas de maneira adequada, alcançam excelentes resultados para o produtor.
O primeiro passo é fazer a coleta de amostras do solo, o que, em se tratando do cultivo convencional, deve ocorrer em dois momentos: após a colheita de verão e pouco antes do preparo de solo para as culturas anuais. A exceção é para regiões em que há muitas chuvas (nesse caso, a calagem deve ser feita antes do fim do período chuvoso, ainda que seja quatro ou cinco meses antes de a safra começar).
Em seguida, já com os dados da análise do solo em mão, é o momento de definir o tipo de calcário a ser utilizado.
A terceira etapa é recorrer a fórmulas matemáticas (que serão abordadas mais à frente) para definir a quantidade de calcário a ser utilizada. Já a quarta etapa é comprar o produto. Nesse momento, é importante levantar o total que será gasto com calcário em toda a propriedade, dividir esse valor pelo PRNT do produto e multiplicar o resultado por 100. Com essa fórmula simples, é possível saber qual marca e fornecedor oferecem o melhor custo-benefício (indicado pelo resultado mais baixo dessa conta).
Por fim, o último passo é fazer a aplicação, o que geralmente ocorre três semanas antes do plantio da cultura. Nessa etapa, é importante se atentar a alguns detalhes, como a distribuição uniforme do calcário no solo em profundidades de 17 cm a 20 cm.
No caso do cultivo convencional, a aplicação deve ser seguida de aração e gradagem. Já no caso do plantio direto, deve ocorrer na superfície e sem incorporação. Nesse segundo caso, o calcário moído finamente é o mais indicado.
Quais são os tipos de calcário?
O calcário é a opção mais utilizada na calagem e apresenta alguns tipos diferentes, todos com características próprias, especialmente no que se refere ao teor de carbonato de magnésio que pode haver nas rochas que dão origem ao produto.
O calcário calcítico tem teor de óxido de cálcio entre 45% e 55% e baixa concentração de óxido de magnésio. É indicado para solos com baixa concentração de cálcio, especialmente se que a cultura a ser produzida demandar esse nutriente.
O calcário magnesiano é indicado para manter os teores de cálcio e magnésio em equilíbrio, já que apresenta valores intermediários desses dois elementos.
Já o calcário dolomítico tem maior concentração do mineral dolomita e, por isso, é uma boa opção para solos que estejam com o teor de magnésio abaixo do recomendado.
O calcário filler, por sua vez, pode ser dolomítico, calcítico ou magnesiano. A diferença é que ele é muito mais fino que os demais.
Quais outros produtos podem ser utilizados?
Além do calcário, podem ser utilizados na calagem produtos como cal virgem (que tem ação imediata, mas pode prejudicar sementes e microrganismos), cal hidratada (produto bastante fino, também com ação imediata), calcário calcinado (uma espécie de intermediário entre o calcário e a cal virgem), o carbonato de cálcio (cujo resultado de neutralização da acidez do solo fica próximo ao do calcário), entre outros.
Como escolher o calcário?
A escolha do calcário a ser utilizado leva em conta diversos fatores, como os teores de pH, cálcio e magnésio do solo e as características do calcário a ser utilizado, especialmente o PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total), formado a partir do poder de neutralização (PN) e da reatividade do corretivo (RE). Todas as informações sobre o produto podem ser encontradas em sua embalagem. Já as informações a respeito do solo são obtidas a partir da análise de cada local. No solo brasileiro, são comuns solos com maiores teores de magnésio na região Sul e com menores na região Sudeste.
Como calcular a dose no momento de fazer a calagem?
Como dito anteriormente, a quantidade ideal de calcário em cada calagem pode ser indicada a partir de cálculos matemáticos, feitos depois de o produtor ter em mãos os resultados da análise de solo. As duas principais formas de calcular a dose indicada são o método da saturação por bases (bastante utilizado) e o método alumínio trocável mais suprimento de Ca e Mg (indicado, sobretudo, para solos com baixa Capacidade de Troca Catiônica). Confira:
Cálculo número 1
Método da saturação por bases
Fórmula NC = [CTC x (V2 – V1) x (100/PRNT)] / 100, em que:
NC = Necessidade de calcário, em toneladas por hectare
CTC = CTC pH7 (capacidade de troca de cátions) em cmolc/dm3
V2 = Porcentagem de saturação por bases desejada
V1 = Porcentagem de saturação por bases atual do solo (encontrada na análise do solo)
PRNT = Poder Relativo de Neutralização Total (informação disponível na embalagem do calcário)
Cálculo número 2
Método alumínio trocável mais suprimento de Ca e Mg
Fórmula NC = Y [Al3+ – (mt – t/100)] + [X – (Ca2+ + Mg2+)], em que:
NC = Necessidade de calcário, em toneladas por hectare
Y= Valor tabelado em função do poder tampão do solo:
Arenoso: Y = 0 a 1
Médio: Y = 1 a 2
Argiloso: Y = 2 a 3
Muito argiloso: Y = 3 a 4
mt= Saturação por Al3+ (100 x Al / SB + Al)
t= CTCefetiva (SB + Al)
X= Teor mínimo de Ca + Mg : tabelado, sendo que para forrageiras tropicais é de 1 a 2
Ca2+ + Mg2+ = teores trocáveis de Ca e Mg, em cmolc/dm3
Quais são as reações químicas provocadas pela calagem?
Após a realização de maneira adequada da calagem no solo, ocorrem algumas reações químicas. Há, por exemplo, a solubilização e dissociação do calcário, em que o produto aplicado ao solo forma íons de cálcio e magnésio e, em seguida, libera os nutrientes para o solo. Outras reações são a neutralização de ácidos no solo e a insolubilização do alumínio tóxico trocável no solo.
Como é possível fazer a calagem no sistema de plantio direto?
Dentro desse tema, um aspecto que ainda gera muitas dúvidas é a realização de calagem no plantio direto, uma vez que essa técnica não tem como prioridade lidar com os problemas do solo.
Diante disso, a calagem em plantio direto deve ser feita apenas em uma situação bastante específica: em solos com pH menor que 5,6 (CaCl2) ou com o V% menor que 65. Em casos como esse, a dosagem recomendada pode ser aplicada na superfície em uma única vez ou parcelada ao longo de três anos. No sistema de plantio direto, o calcário moído finamente é o mais indicado.
Como é possível fazer a calagem em períodos chuvosos ou de seca?
As condições climáticas também podem impactar a maneira de fazer a calagem. No caso de regiões muito chuvosas, o calcário deve ser aplicado três meses antes da safra para que assim tenha tempo suficiente de agir no solo antes dos períodos de plantio ou adubação. Já se a região estiver em um período de muita chuva e outro de seca, o ideal é fazer a calagem antes que o período chuvoso chegue ao fim, mesmo que ainda faltem três ou quatro meses para o início da safra. Esse trabalho, aliás, beneficiará o solo a ponto de ele ficar muito mais adaptado para períodos de chuva ou seca.
Como é possível fazer a calagem em solos compactados?
As áreas compactadas podem impor alguns desafios à incorporação do calcário até a profundidade recomendada. Por conta disso, é indicado que se faça adubação verde ou plantio de cultura de cobertura nesses locais antes da utilização do calcário, pois somente assim resultados satisfatórios poderão ser alcançados.
Como o calcário é utilizado pela Agricultura de Precisão?
Nas últimas décadas, o calcário contribuiu bastante para a expansão da Agricultura de Precisão e hoje, aplicado a taxa variável, se consolidou como um dos principais benefícios de um projeto inicial de AP.
Isso se deve, sobretudo, às tecnologias utilizadas pela Agricultura de Precisão no campo, que possibilitam ao produtor saber de maneira exata a quantidade de calcário que precisará utilizar em cada área para alcançar os melhores resultados possíveis, sem deixar de lado a redução de custos.
A Agricultura de Precisão busca utilizar o calcário da maneira mais eficiente possível, ao compreender as características e necessidades de cada área de uma propriedade, no que se refere à uniformidade do pH e seus coadjuvantes (Ca e Mg).
Conclusão
A calagem é um processo bastante importante na produção agrícola, já que diminui a acidez do solo (por meio do aumento de seu pH) e fornece quantidades adequadas de cálcio e magnésio para as plantas.
Esse procedimento, no entanto, requer uma série de cuidados, pois, além de existirem muitos tipos de calcário, é fundamental saber a dose adequada no momento de utilizar o produto. Também merece atenção o uso do calcário em situações específicas, como no sistema de plantio direto, em períodos de chuva ou seca e em solos compactados.
Vale lembrar que todas essas etapas devem ser acompanhadas por um profissional qualificado, para que nenhuma das ações executadas coloque em risco a produção. Justamente por isso, a Agricultura de Precisão (AP) é bastante indicada ao longo de todo esse processo, pois garante resultados precisos e contribui para o aumento da produtividade ao mesmo tempo em que reduz os custos de produção.
Também é importante destacar que o produtor deve se manter atualizado sobre o assunto. Uma forma de fazer isso é consultar a planilha sobre os cálculos de aplicação de insumos e calagem, que acaba de ser lançada pela Sensix e pode ser conferida aqui.
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