Soja, milho, arroz, trigo, sorgo… Existe uma certa ironia no fato de que uma parte tão significativa da economia brasileira gira em torno de produtos que são literalmente do tamanho de grãos (e outras commodities do nosso agronegócio, claro). Isso fica evidente quando consideramos, por exemplo, que o agro impulsionou o crescimento do PIB em 2,9% no ano passado. A conclusão é uma só: os cereais fazem muito pela força do setor, incentivando a adoção de práticas produtivas que otimizem os resultados cada vez mais.
E falando nessas práticas, hoje queremos explorar uma técnica que está no vocabulário até de quem não atua no campo: a rotação de culturas, mais especificamente voltada para o cultivo do sorgo – o 5o cereal mais produzido no mundo. Convidamos você a entender como ela é capaz de beneficiar as lavouras, o solo e, acima de tudo, quem produz e quem consome. Boa leitura!
Monocultura x rotação: duas práticas essenciais (e essencialmente distintas)
De forma bastante simplificada, podemos dizer que a monocultura e a policultura (termo que é sinônimo de rotação) são práticas essenciais – e essencialmente diferentes – no agronegócio.
Os conceitos são autoexplicativos: enquanto a monocultura corresponde ao cultivo de uma mesma semente ao longo de todo o ano, a policultura remete ao plantio de sementes diferentes, sempre seguindo um sistema de alternância (grão A, grão B, grão A…).
Cada técnica tem as suas vantagens e desvantagens, mas a rotação se destaca como a opção ideal em muitos contextos. Confira nosso quadro comparativo:
MONOCULTURA X ROTAÇÃO DE CULTURAS
MONOCULTURA | ROTAÇÃO DE CULTURAS | |
O que é | Cultivo de uma mesma planta ao longo de todo o ano | Cultivo de plantas diferentes em uma mesma área, sempre seguindo um sistema de alternância (semente A, semente B, semente A…) |
Quando é recomendada | Quando o foco da produção está exclusivamente na maximização de lucros, assim como em lavouras dedicadas a culturas de alto valor (como cana-de-açúcar e soja) | Quando o foco da produção está não apenas na maximização de lucros, mas também na sustentabilidade e na saúde do solo – grandes desafios do agronegócio moderno |
Efeitos no solo | Pode reduzir a fertilidade, além de levar a fenômenos como a erosão | Preserva a saúde do substrato, uma vez que melhora a distribuição de nutrientes e contribui com a matéria orgânica, entre outros efeitos |
Utilização de água | No geral, a cultura precisa de um volume de água alto e constante | A necessidade de irrigação é menor, pois cada cultura requer um volume de água diferente |
Aplicação de insumos agrícolas | Requer a aplicação intensa de fertilizantes, pesticidas e outros produtos químicos, contribuindo com o impacto no solo | Reduz a dependência de insumos agrícolas, já que tudo é obtido de forma mais natural por meio da alternância entre culturas |
Efeitos na produtividade | A produtividade é menor, considerando o risco de culturas se perderem em partes ou até inteiramente após acidentes, contaminações e outros eventos adversos | A produtividade é maior. Afinal, todos os recursos naturais (solo, água e afins) e artificiais (insumos) são utilizados de forma otimizada |
O quadro acima deve sanar todas as suas dúvidas, mas convidamos você a fazer uma pesquisa mais aprofundada para conhecer ainda mais vantagens da rotação de culturas. Aliás, nós mesmos temos um conteúdo incrível que pode ajudar!
Agora, partimos para a segunda parte do nosso tema: o sorgo.
Como o sorgo entra nessa história?
Apesar de apresentar um forte potencial e de ter uma presença relativamente difusa nas lavouras brasileiras, o sorgo não é tão conhecido como a soja, o milho e outros cereais. É só pensar: você já viu a semente alguma vez na vida (tirando a capa deste texto)? Por essas e outras, é importante saber algumas informações sobre esse grão que combina tanto com a rotação de culturas.
Pense: você já viu a planta do sorgo alguma vez? Imagem: Reprodução
Originário do continente africano, o sorgo (Sorghum bicolor) surgiu há mais de 5 mil anos. Ele logo se popularizou em outras partes do mundo, muito em função da sua alta adaptabilidade a climas e solos variados e diversas possibilidades de uso. Hoje, países como Estados Unidos e Índia são reconhecidos pela força produtiva da semente. E fazemos parte desse seleto grupo.
A introdução Brasil aconteceu no século XX, sobretudo no Cerrado e regiões semiáridas, pela boa resistência dos grãos à seca. Aqui, temos quatro tipos principais: sorgo granífero, sorgo forrageiro, sorgo sacarino e sorgo vassoura. Hoje, mesmo com uma participação singela no quadro geral de sementes cultivadas – correspondendo a quase 4,5 milhões de toneladas em 2023, ante mais de 130 milhões de toneladas de milho no mesmo período, segundo o IBGE –, ele vem demonstrando um crescimento estável.
Algo que contribui com essas estatísticas são as vantagens do grão. Veja só:
➭ Alto valor nutricional, com fortes teores de fibras, proteínas e minerais (sobretudo ferro, fósforo e magnésio)
➭ Bom custo-benefício, principalmente comparado ao milho e outras culturas mais caras
➭ Utilização como ração animal de qualidade
➭ Utilização também na produção de alimentos sem glúten
➭ Pouca necessidade de recursos hídricos, poupando água e sendo ideal para áreas de baixa pluviosidade
➭ Baixa manutenção, que é mais voltada ao combate de pragas como lagartas, pulgões e percevejos
São essas vantagens, entre outros pontos, que tornam o sorgo um bom candidato para a rotação de culturas. E um dos grãos que mais combinam com ele é justamente o milho, uma das nossas principais commodities.
Sorgo/milho/sorgo/milho
A combinação de sorgo e milho para a policultura é indicada por diversos motivos. Em primeiro lugar, as sementes têm necessidades nutricionais diferentes. Ou seja, seu cultivo alternado ajuda a balancear a distribuição de nutrientes no solo, assim como preserva o uso de minerais.
Elas também reduzem a vulnerabilidade a pragas e doenças, uma vez que esses agentes externos não conseguem passar pelo ciclo de vida completo antes da alternância das sementes e acabam morrendo precocemente.
As diferenças nos sistemas radiculares também são importantes aqui. Enquanto a raiz do sorgo tende a ser profunda, a do milho é mais superficial – ou seja, a água e os nutrientes são capazes de penetrar melhor as camadas do substrato.
A rotação do milho com o sorgo ajuda a proteger o solo, entre outras vantagens. Imagem: Reprodução/Imagem de Alina de Souza/Especial/Palácio Piratini/Jornal do Comércio
Poderíamos citar uma série de outros benefícios da alternância, mas você já entendeu os principais. Agora, que tal conhecer dicas de como plantar o sorgo?
O plantio do sorgo em 5 passos
Em linhas gerais, o produtor precisa seguir 5 etapas para realizar o plantio do sorgo após a colheita do milho:
1) Preparar o solo: o substrato deve estar saudável, com pH entre 5,5 e 7,0, além de devidamente arado.
2) Escolher a variedade ideal de sorgo: para isso, é preciso levar em consideração fatores como clima e área. Lá em cima, citamos as variedades granífero, forrageiro, sacarino e vassoura. Cada uma tem suas especificidades!
3) Cultivar o sorgo: as sementes precisam ficar a uma profundidade de 3 a 5 cm da superfície, além de 45 a 75 cm de distância entre cada linha. E tudo depende da variedade e da área disponível.
4) Realizar a manutenção: como também dissemos acima, o sorgo tem uma boa resistência hídrica. Isso quer dizer que ele precisa de uma irrigação relativamente limitada, como em períodos de seca. E é importante ficar de olho em possíveis pragas que tentem se instalar na lavoura!
5) Finalizar com a colheita: o momento ideal para colher o sorgo é quando os grãos estão secos e firmes, tendo atingido sua maturidade fisiológica. A partir daí, falta só partir para a comercialização.
E é claro que você pode sempre contar com a Sensix para obter mais informações sobre o agronegócio brasileiro. Lembrando que nossas soluções, como o FieldScan, estão sempre à disposição para otimizar a produção aliando boas práticas ao melhor que as tecnologias têm a oferecer. Conte conosco!
Deixe um comentário