Produção do milho: Rentabilidade e custos

A importância da cultura do milho traz o desejo de entender melhor quais os seus custos e rentabilidade para o produtor. Com isso, esse artigo tem como objetivo mostrar exemplos e explicar os conceitos, para que o produtor consiga compreender quais os indicadores envolvidos.

O milho é uma cultura de grande importância no Brasil e no mundo. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial, estando atrás apenas dos Estados Unidos e China, seguido pela União Europeia e Argentina.

De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), o Brasil produz hoje três safras ao longo do ano. A produção total está estimada em 86,7 milhões de toneladas de milho, representando uma redução de 15,5% em relação ao alcançado na safra anterior. 

Colheita de Milho
Colheita do milho. Fonte: MAPA.

Grande parte dessa redução é devido às adversidades climáticas que a cultura encontrou, principalmente na segunda safra e um pouco na terceira. Com o atraso da colheita da soja, o plantio de milho safrinha saiu da janela ideal. Isso, associado ao baixo volume de chuvas e as condições favoráveis para aparecimento de pragas e doenças, irá resultar na baixa produtividade já esperada.

Esses fatores tornam o custo de produção e a rentabilidade final do produtor para esse ano bastante atípico, com alguns preços mais elevados em produtos e a produção final muitas vezes baixa, chegando em alguns casos a ser inviável a colheita.

Custos de produção do milho

Para exemplificar melhor, o  Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), disponibiliza mensalmente uma planilha com os custos de produção de produtos agropecuários. A tabela abaixo traz os custos referentes à produção de milho com alta tecnologia para a região Sudeste no mês de Julho de 2021.

milho
milho
Custos de produção de milho com alta tecnologia na região Sudeste no período de julho de 2021. Fonte: IMEA.

Pela tabela é possível observar a listagem dos custos em todo o processo de cultivo, desde as operações de pré-plantio até depreciações, impostos e taxas. Com isso, é possível calcular quais são os custos operacionais (efetivo e total – COE e COT), que são indicadores para o lucro, vendo se é viável ou não.

Entenda esses indicadores:

COE (Custo Operacional Efetivo): é a somatória dos custos fixos e variáveis.

COE = CF + CV

Ao exemplo da tabela fornecida pelo IMEA, o valor do COE é a soma dos custos com insumos (sementes, fertilizantes e corretivos, defensivos), operações mecanizadas, serviços terceirizados, manutenção, impostos e taxas, financiamentos e seguros, custos pós-produção (beneficiamento, armazenamento e transporte), assistência técnica, combustíveis, despesas gerais e arrendamento da terra.

COT (Custo Operacional Total): é a somatória do COE mais depreciações e mão-de-obra familiar.

COT = COE + depreciações + mão-de-obra familiar

Esses indicadores são utilizados para calcular o custo total (CT) da produção.

CT = COT + custo de oportunidade

O custo de oportunidade pode ser definido como aquilo que você deixou de ganhar por escolher uma outra coisa. Por exemplo, para conseguir adquirir uma semente melhor, o produtor opta por usar um maquinário com uma qualidade inferior para compensar.

É importante ressaltar que esses valores foram baseados na produção de milho com alta tecnologia para a região Sudeste. Os valores sofrem alterações para as diferentes regiões. 

Custos de produção de milho com alta tecnologia em diferentes regiões no período de julho de 2021. Fonte: Adaptado IMEA.

Rentabilidade

Para calcular o lucro e ver e rentabilidade, são necessárias a adição de outras informações. Abaixo temos um exemplo da estimativa de custo de produção de milho safrinha disponibilizada pelo Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG) em terra própria, levantada no mês de junho de 2021.

Estimativa de rentabilidade no milho. Fonte: IFAG

Para constatar se haverá viabilidade ou não, é preciso calcular a margem bruta (MB). Para isso iremos utilizar o valor do COE e da renda bruta (RB). A RB é o valor da receita bruta esperada, no exemplo estimado, o valor é de R$ 8.559,60. Assim:

MB = RB – COE

MB = 8.559,60 – 3.570,18

MB = R$ 4.989,42/ha

A partir do resultado, é possível interpretar:

Margem bruta positiva (MB>0): Quer dizer que a RB é maior que o COE, logo, significa que o produtor conseguirá arcar com todos os custos de produção. Este é o cenário desejado, onde ao menos, a atividade não estará comprometida e provavelmente haverá possibilidade de lucro, dependendo é claro de alguns outros fatores de venda como o valor da saca, cotação do dólar, etc.

Margem bruta negativa (MB<0): O resultado mostrará que a RB é menor que o COE, demonstrando que a produtividade não terá sido viável. Neste caso é possível que se trate de uma atividade de subsídio, onde o produtor deverá captar outros recursos para a mantença da condução e manutenção do processo de produção ou, em um cenário mais pessimista, abortar o processo para minimizar suas perdas, uma vez já previstas, e arcar apenas com o restante de alguns custos fixos.

Outro indicador é a margem líquida (ML), onde:

ML = RB – COT

ML = 8.559,60 – 4.087,91

ML = R$ 4.471,69/ha

De acordo com o resultado encontrado, pode-se interpretar:

ML positiva (ML>0): O RB será maior do que o COT, logo, o processo produtivo vai se manter a médio ou longo prazos. Haverá condições de pagar as despesas dos custos fixos e variáveis, haverá um montante para cobrir os custos com depreciações e também é certo que haverá lucro para o produtor.

ML negativa (ML<0): O RB será menor que o COT. O que significa que é provável que o resultado do processo produtivo não vá gerar lucro para o produtor, uma vez que os custos gerados por depreciações possuam risco de não serem cobertos, gerando consequentemente, prejuízo ao produtor.

Por fim, o indicador que mais chama a atenção do produtor: o lucro (L). Ele é determinado atraves da formula:

L = RB – CT

L = 8.559,60 – 5.267,61

L = R$ 3.291,99/ha

Baseado no resultado, podemos constatar que:

Produtor obteve Lucro (L>0): O processo produtivo se mostrou viável e além disso haverá possibilidade de expansão do negócio a médio e longo prazo, sem falar que o mesmo, apesar de ser relativo, apresenta maior rendimento quando se trata de uma atividade alternativa como por exemplo: Poupança ou fundos de investimento, onde o retorno é gerado mais a longo prazo.

Lucro igual a zero (L=0): Significa que a RB foi igual ao CT, mostrando que talvez o investimento em outras atividades alternativas, como os investimentos citados anteriormente, tenha uma viabilidade mais interessante. 

Produtor teve prejuízo (L<0): Devido aos números apresentados e a outros fatores relativos, o processo produtivo extrapolou os recursos utilizados, gerando prejuízo ao produtor no fim das contas. Por isso é crucial a realização deste planejamento prévio, bem como a análise da margem líquida para constatar se compensa ou não a implantação da lavoura.

Existem diversos fatores e aspectos que irão variar os custos e impactar na rentabilidade final. Os diferentes cenários do Brasil torna isso possível, como as diferenças climáticas, regiões, tipo de solo, presença de sistema de irrigação, terra própria ou arrendada e o nível tecnológico adotado.

Comparação de rentabilidade para diferentes culturas para o mês de junho de 2021. Fonte: IFAG

Confira também: Produção de Milho no Brasil

Conclusões

Os custos de produção para a cultura do milho sofrem variações de acordo com a época de plantio (aqui foi frisado apenas o milho safrinha), com a região, clima, solo, insumos e maquinários utilizados, o nível tecnológico, entre outros.

Todos esses fatores e a destinação final da produção irão afetar na forma de condução da lavoura, influenciando também nos custos e na rentabilidade.

Entender quais as variáveis para melhorar a lucratividade é o melhor caminho. É importante que o produtor solicite ajuda especializada para compreender os riscos e aprender qual a melhor forma de ampliar os lucros.

Referências

U. S. Departament of Agriculture. USDA. Grain: World Markets and Trade.

Companhia Nacional de Abastecimento. CONAB. Acompanhamento safra brasileira de grãos, v.8– Safra 2020/21, n.11 – Décimo primeiro levantamento, Brasília, p. 1-108, agosto 2021.

Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG). Custos de produção.

Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA). Custos de produção.

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

5 Pings & Trackbacks

  1. Pingback: Planejamento de custo de produção: as culturas mais caras da agricultura brasileira - Sensix Blog

  2. Pingback: Planejamento de custo de produção: o principal aliado do produtor rural - Sensix Blog

  3. Pingback: Produção de Milho no Brasil - Sensix Blog

  4. Pingback: Saiba mais sobre o custo de produção de milho - Sensix Blog

  5. Pingback: Como estimar a produtividade antes da colheita - Sensix Blog

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *