Veja o que levou à queda no preço da soja no Brasil, quais os impactos para os produtores e as projeções para o futuro.
Devido às poucas chuvas no mês de março, a produção da soja se intensificou aqui no Brasil. O que gerou um excedente na maior parte das lavouras da oleaginosa e, consequentemente apresentou queda no preço do produto do mercado devido a alta demanda.
Ou seja, a produção recorde de soja – 74,5% da área havia sido colhida até o final do mês março, de acordo com a Conab, se tornou um problema. Pois com a queda expressiva nos preços, os lucros diminuem e o país passa a ter uma quantidade maior de soja do que o esperado e isso pode gerar uma perda do produto.
Pensando nisso, abaixo separamos os principais parâmetros desse cenário para tentar explicar o que tem acarretado esse tipo de situação.
Boa leitura!
A história da indústria da soja no Brasil
A soja se tornou um produto comercial no Brasil por volta do final da década de 60, pois na época, o trigo era a principal cultura do Sul do Brasil no inverno e a soja poderia ser plantada no verão, criando um ciclo de produção. E, foi nesse período que se iniciou no país um esforço para produção de suínos e aves, gerando uma demanda grande por farelo de soja.
Desse modo, em 1966, a produção comercial de soja era uma necessidade estratégica do mercado e começou-se a produzir o produto, chegando a cerca de 500 mil toneladas no país.
Nesse sentido, em 1970, o preço da soja no mercado mundial, chamou a atenção dos produtores e do governo brasileiro e por causa do nosso clima, o país reconheceu uma vantagem na produção: o escoamento da safra brasileira ocorre na entressafra americana, quando os preços atingem as maiores cotações.
Ou seja, a competição de preço seria menor, pois iríamos colher quando os americanos iam começar a plantar.
Dessa forma, o país passou a investir em tecnologia para adaptação da cultura às condições climáticas brasileiras e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária foi pioneira nesse setor.
Assim, para garantir a “tropicalização” da soja, os cientistas brasileiros conseguiram, pela primeira vez na história, que o grão fosse plantado com sucesso, em regiões de baixas latitudes, entre o trópico de capricórnio e a linha do equador.
Essa conquista revolucionou a história mundial da soja e no final da década de 80 os preços do grão começaram a cair, pois o Brasil entrou no mercado da oleaginosa.
Atualmente, os Estados Unidos lideram a produção de soja mundial, seguido do Brasil, Argentina, China, Índia e Paraguai. A China é a principal importadora da soja brasileira, de acordo com a Embrapa. O market share do produto chegou a 73,3% da quantidade exportada (4,46 milhões de toneladas) ou US$ 2,79 bilhões em agosto de 2022.
Além da China, países como Irã, Vietnã, Espanha, Japão, Tailândia e Turquia também importam soja do Brasil.
Já as vendas externas de farelo de soja foram de US$ 949,00 milhões em agosto de 2022, 45,8% superior na comparação com os US$ 651,08 milhões exportados no mesmo mês em 2021.
Nota-se que houve um aumento da quantidade exportada. O que fez com que os preços médios de exportação aumentassem em 22,4% e o motivo principal dessa alta foi a expansão das vendas externas do produto.
No caso do farelo de soja, a União Europeia é a principal importadora do Brasil e países da Ásia, como Indonésia, Tailândia, Irã e Coreia do Sul também começaram a importar o produto brasileiro.
Dessa forma, atualmente o Brasil ocupa o segundo lugar mundial de produtor de soja e mesmo com a queda nos preços, se mantém no mercado.
A queda no preço da soja: qual o panorama atual?
Bom, de acordo com o Indicador Cepea/Esalq – Paraná as quedas no preço da soja chegaram a cerca de 6,3% entre fevereiro e março. Em comparação com março de 2022, a queda é de 20,1%.
Ou seja, a redução do preço é expressiva e o cenário não é tão otimista. Pois, entre fevereiro e março, na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os valores caíram 6,6% no mercado de balcão (pago ao produtor) e 6,4% no de lotes (negociações entre empresas). Na comparação anual com 2021, as quedas foram de 22,2% e de 21,2%, respectivamente.
Contudo, esse movimento de baixa pode ser explicado pela valorização do dólar frente ao real. A moeda norte-americana subiu 0,4% de fevereiro para março, a maior de 2023, em termos nominais.
E, a firme demanda externa também pode explicar essa queda no preço da soja, pois, de acordo com a Secex, o Brasil exportou, em março, mais que o dobro do volume escoado em fevereiro. A alta foi de 8,8% em relação à quantidade de março de 2022, totalizando 13,27 milhões de toneladas de soja no último mês, a maior quantidade enviada ao exterior desde maio de 2021.
Com isso, os contratos futuros da soja voltaram a ser negociados abaixo dos US$ 15,00/bushel na CME Group (Bolsa de Chicago), por causa das expectativas de maior oferta no Brasil e de área recorde nos Estados Unidos na temporada 2023/24.
Quais fatores influenciaram na queda no preço da soja?
Para explicar essa queda significativa no preço da soja no Brasil devemos levar em consideração alguns pontos como o excesso de oferta, tivemos uma safra recorde em produção, a concorrência dos outros países e também as tensões comerciais e políticas por causa dos conflitos e rotas dos portos.
Abaixo vamos explicar melhor esses motivos e trazer mais outras ideias que possam influenciar nessa queda de preços. Confira!
1 – Safra recorde
Como falamos acima, a soja brasileira deve ter uma safra recorde, com 153 milhões de toneladas produzidas, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Ou seja, esse excesso de demanda, naturalmente, faz o preço baixar.
2 – Comercialização atrasada
A comercialização antecipada da safra recorde de 2022/2023 está atrasada em relação às temporadas anteriores. Ou seja, esse fator pode ter contribuindo para uma maior disponibilidade do grão no mercado.
Para se ter uma noção, até o início de abril, apenas 30% do volume produzido de soja havia sido negociado, enquanto nos anos anteriores, neste mesmo período, cerca de 40% a 45% já haviam sido negociados.
3 – Competição logística
Com o atraso na comercialização, a competição pela infraestrutura logística aumentou e assim, tornou-se mais complicado escoar todos os produtos agrícolas brasileiros ao mesmo tempo.
Desse modo, a soja deve estar competindo com o frete para a cana-de-açúcar e com o milho, por exemplo.
4 – Valorização do dólar
A soja é cotada em dólar, ou seja, qualquer variação cambial há um impacto no preço. Porém, isso já é esperado pelo mercado e pelos produtores. Entretanto, desde o começo de 2023, o dólar vem se valorizando cada vez mais em relação a moeda brasileira, o que faz com que os preços caiam, já que o grão norte-americano se torna menos atrativo aos importadores, reforçando as baixas brasileiras.
5 – Tensões comerciais e políticas
Devido aos conflitos comerciais e territoriais na Ucrânia, Síria, Afeganistão e outros isso impacta e tem consequências no preço da soja. Seja por causa das rotas dos portos e seus navios ou pela baixa demanda de importação desse e de outros países.
Quais são as implicações para o setor agrícola e produtores com a queda no preço da soja?
Diante dos possíveis motivos elevados para a desvalorização da soja, o impacto desse fato também afeta os derivados da matéria-prima, como o farelo de soja.
Os suinocultores, por exemplo, tiveram baixo poder de compra em março e preferiram utilizar volumes em estoque e postergar novas compras do produto. O que intensifica cada vez mais o excedente.
De acordo com as regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços do farelo de soja caíram cerca de 5,2% entre fevereiro e março e 6,8% em um ano, em termos reais.
Ou seja, quando acontece essas quedas expressivas como no preço da soja, a rentabilidade dos produtores caem, não só do produto principal como dos seus derivados.
Há um reflexo na economia como um todo, pois um país que está em 2º lugar na liderança do mercado mundial de soja, espera-se uma venda grande com a valorização do grão.
E, agora cabe aos produtores se adaptarem a esse cenário desafiador e colocar em prática planejamentos e estratégias para alavancar esse preço.
Quais são as perspectivas e previsões futuras?
Além do sentimento nada otimista dos produtores, as estimativas é que o preço da soja deve continuar caindo no segundo semestre. Entretanto, para a nova safra 2023/2024, os produtores podem esperar um cenário mais favorável, pois a curva de queda de fertilizantes e defensivos agrícolas pode contribuir para a recuperação das margens, já que foram estreitadas durante a temporada atual.
Além disso, a quebra de safra na Argentina, pode abrir caminhos para o fortalecimento do Brasil. Pois a safra dos hermanos que estava projetada em 25 milhões de toneladas pela Bolsa de Cereales, caiu cerca de 42% abaixo da temporada passada e essa foi a menor produção desde 2008/09. Ou seja, essa queda pode favorecer o Brasil futuramente.
Assim, diante deste cenário, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), por exemplo, espera um recorde de produção em 2023, com 51 milhões de toneladas na soma dos dois subprodutos, um avanço de 4% frente ao ano anterior.
Portanto, as expectativas são boas para a próxima safra, porém a queda dos preços em 2023 vai ficar para a história da soja no Brasil. Além disso, cabe aos produtores estudarem esses possíveis motivos da queda e tentarem se precaver para que o mesmo não aconteça futuramente.
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