Embrapa: Pesquisa e inovação na agropecuária brasileira

Biotecnologia Avançada Aplicada ao Agronegócio, Inovação Social na Agropecuária, Manejo Racional de Agrotóxicos, Solos do Brasil e Recursos Genéticos. Estes são apenas cinco dos 34 projetos fixos desenvolvidos atualmente pela Embrapa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

Fundada ainda nos anos 70, a instituição se tornou um dos principais centros de pesquisa para a agropecuária brasileira.

Além de disponibilizar relatórios diários, semanais, mensais e anuais, a Embrapa também oferece cursos de formação em pesquisa agrícola e soluções tecnológicas para produtos, processos, metodologias, sistemas, práticas agropecuárias e muito mais. O catálogo é longo, assim como sua história.

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Fonte: Revista Negócio Rural

Vinculada nos dias de hoje ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), muitas mudanças acompanharam seus 49 anos de existência. A Embrapa surgiu como ponto de apoio para o desenvolvimento e organização de tecnologias para alavancar a agricultura industrial, idealizada como parte do plano de modernização da agricultura brasileira.

José Irineu Cabral: uma história de luta pela pesquisa no agro brasileiro

Um dos principais responsáveis pela idealização e criação da instituição foi o estudioso José Irineu Cabral, pernambucano de Surubim e graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela então Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, atual UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Atuou como economista por alguns anos, mas foi na agropecuária brasileira que José voltou seu interesse e dedicou a maior parte de sua vida.

Em toda sua trajetória, José Irineu era conhecido por ser pragmático, paciente, hábil, conciliador, firme em suas decisões, mas também aberto ao diálogo. Essa característica foi essencial para o desenvolvimento das primeiras ideias sobre o que viria a ser a Embrapa, bem como para a força e notoriedade que alcançaria após sua fundação. Adepto de um funcionamento eficaz que deveria se dar por meio de bons planejamentos, formação de recursos humanos, difusão de tecnologia e avaliação dos resultados, alcançou o respeito da mídia especializada em pesquisa. Tudo isso possibilitou que a instituição que representava conseguisse captar recursos, tanto junto ao governo quanto na iniciativa privada. Mais ainda, contribui para o sonho do pesquisador de fazer da Embrapa um espaço cujas portas estão sempre abertas a todos que respeitem e valorizem as pesquisas e estimulem novas ideias.

Um espaço aberto ao diálogo era essencial à época da fundação da instituição. Isso porque o Brasil era governado pelo então presidente militar Emílio Garrastazu Médici e, segundo José Irineu, o contexto para a pesquisa brasileira era desafiador. Em seu livro “Sol da manhã: Memória da Embrapa”, José escreveu:

“Havia (…) uma enorme expectativa sobre como a Embrapa iria orientar a sua atuação. Afinal de contas, na prática, estavam sendo desmantelados os serviços de pesquisa do Ministério da Agricultura, que estavam sendo substituídos por uma nova figura jurídica e operacional (uma Empresa Pública) que funcionaria, rigorosamente, como entidade de direito privado. As poucas empresas públicas existentes naquele momento eram uma grande novidade. A Embrapa foi pioneira nisso. Aproveitava-se a ocasião, naquele ato, para dar conhecimento à opinião pública e para anunciar as diretrizes de ação da nova Empresa.” (CABRAL, 2005, p. 26)

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Fonte: Embrapa

Aloisio Campello, então Secretário Executivo da Abcar, um dos principais realizadores da reforma da pesquisa agropecuária brasileira, e José Irineu Cabral, fundador da Embrapa, nos anos 1970.

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Assim, graças ao protagonismo de José Irineu e seus apoiadores – entre eles o então Ministro da Agricultura Luiz Fernando Cirne Lima – foi criada em 26 de abril de 1973 a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. No mesmo ano, foi extinto o Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação (DNPEA), que coordenava todos os órgãos de pesquisa existentes até então. À Embrapa, coube dar continuidade à pesquisa brasileira e fazer bom uso da estrutura herdada do DNPEA: nove sedes dos institutos regionais, 70 estações experimentais, 11 imóveis e 2 centros nacionais. Também foram criados centros de pesquisa de cada produto nacional, localizados nas regiões de mais destaque: trigo em Passo Fundo – RS, arroz e feijão em Goiânia – GO, gado de corte em Campo Grande – MS e seringueira em Manaus – AM.

Fortalecimento da instituição: a Embrapa como protagonista da pesquisa nacional

Ainda nos anos 1970, as pesquisas desenvolvidas na Embrapa possibilitaram a chamada “conquista agronômica do Cerrado”. Regiões em que o bioma era majoritário eram, até então, consideradas inférteis. Mas graças ao investimento em fertilizantes e preservação do solo e dos recursos naturais, foi possível explorar outras regiões antes sequer cogitadas por produtores rurais. Como resultado, a produção de soja passou de 1,5 milhões de toneladas em 1970 para mais de 15 milhões de toneladas em 1979, além de incremento nas espécies que eram cultivadas em solo nacional. Menos de uma década depois, em 1980, o Brasil deixou de importar para ser o maior exportador mundial de álcool, café, cana de açúcar e laranja, tornando-se peça fundamental no mercado mundial de alimentos.

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Distribuição das Unidades Descentralizadas de pesquisa da Embrapa. Fonte: “Transferência de tecnologia ou compartilhamento de conhecimentos? Desvendando o papel da Embrapa no desenvolvimento rural”, Embrapa, 2017.

A ciência é, sem dúvida, o produto central da Embrapa. Por essa razão, ao longo dos anos, a instituição sempre se preocupou em fortalecer seus programas de pós-graduação, enviando pesquisadores brasileiros para diversos lugares do mundo. O intuito é que esses pesquisadores aprendam a utilizar tecnologias eficazes, que aumentem a produtividade sem comprometer os biomas das regiões brasileiras.

Com o passar dos anos, a Embrapa passou a atuar cada vez mais decisivamente na missão de uma “revolução verde” na agricultura, criando programas e projetos voltados para a inclusão social e produtiva da agricultura familiar. Mais que isso, especialmente entre 2003 e 2015, com a valorização da pesquisa brasileira, a instituição foi capaz de desenvolver estudos sobre preservação ao meio ambiente, fortalecimento dos recursos e cultura locais e técnicas de manejo mais rentáveis e sustentáveis.

Pela pesquisa e pela ciência: presente e futuro da investigação científica no agro brasileiro

Atualmente, a Embrapa conta com mais de 38 unidades de pesquisa, três de serviços e 13 unidades administrativas espalhadas pelo Brasil. São mais de 8.043 profissionais na ativa, dos quais 2.097 são pesquisadores – 25% com mestrado e 66% com doutorado. Ainda assim, desde 2016, a instituição tem enfrentado diversos desafios. Entre eles estão a redução de projetos de apoio à ONGs, encerramento dos processos seletivos para presidência da instituição – cujos membros passaram a ser indicados pelo Mapa -, recuo do aporte financeiro, redução no orçamento anual e muitos outros.

Para Selma Lúcia Lira Beltrão, atual Conselheira Administrativa da Embrapa, é indispensável “defender, intransigentemente, o caráter público da empresa e a aplicação da pesquisa agropecuária para toda a sociedade brasileira, especificamente para os segmentos que de fato precisam dela – as agriculturas familiares/campesinos/povos e comunidades tradicionais”. Só assim seremos capazes de garantir o desenvolvimento, fortalecimento e acesso a pesquisa na agropecuária brasileira.

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A Granja

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Cientista social, mestranda em Educação com pesquisa na área de Ideologia da Família. Apaixonada por antropologia, psicanálise, historiografia, literatura e música. Atua como Designer instrucional, produzindo materiais didáticos em diversas mídias, conteúdo para redes sociais e marketing (B2B e B2C), usando técnicas de UX e Copywriting. Longa experiência com revisão de textos - acadêmicos e para a web -, redação e produção de conteúdo educacional.

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