Estudo feito pelo IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná — Iapar-Emater) em parceria com a Embrapa Soja demonstra que a fixação biológica de nitrogênio (FBN) tem sido tão eficiente que possibilitou aos produtores de soja uma economia de nada menos de US$ 15,2 bilhões em fertilizantes químicos na safra 2019-2020, ao possibilitar o fornecimento de nitrogênio para as plantas sem que seja preciso recorrer à adubação com ureia.
“Esse valor equivale a quase 4% do PIB (Produto Interno Bruto) gerado pelo agronegócio no Brasil, o que demonstra sua enorme contribuição para os sistemas de produção de soja”, comemora o pesquisador Tiago Santos Telles, do IDR-Paraná.
Cada vez mais utilizado no mundo todo, o FBN é um processo natural bastante eficiente, uma vez que certos tipos de bactérias que vivem no solo e se fixam nas raízes de plantas como a soja têm capacidade de capturar da atmosfera o nitrogênio que vegetais não conseguem aproveitar e, em seguida, convertê-lo em amônia, forma na qual o nutriente é assimilado pelas plantas.
Assim, na prática, a tecnologia permite o fornecimento de nitrogênio para as plantas sem que seja preciso recorrer à adubação com ureia. Não por acaso, para chegar aos resultados ideais, os pesquisadores utilizaram modelos matemáticos para analisar dados da área cultivada, produção, rendimento, demanda de nitrogênio pelas lavouras, preço pago pela ureia e doses de inoculante comercializadas em 11 safras (2009-2010 a 2019-2020).
Na safra 2009-2010, a FBN foi responsável por uma economia de US$ 3,2 bilhões em ureia. “Comparando com a safra 2019-2020, a poupança propiciada pela prática mais que dobrou em onze anos”, ressalta Telles, que em seguida lembrou que nesse mesmo período, a adoção de inoculantes aumentou, em média, 16% ao ano.
A inoculação é o processo em que se adicionam bactérias fixadoras de nitrogênio às sementes de soja antes do plantio, processo que normalmente é feito com biofertilizantes contendo grande quantidade de cepas dos microrganismos selecionadas pela pesquisa.
Já na safra 2019-2020, segundo Tiago Santos Telles, a inoculação foi utilizada em cerca de 25% das lavouras comerciais de soja no Brasil, com ganhos de produtividade que propiciaram um lucro de US$ 914 milhões. “Como a soja não é espécie nativa, esse sucesso se baseia em mais de meio século de seleção de cepas, cultivares, inoculantes e tecnologias de inoculação desenvolvidas para nossas condições de solo e clima”, ressaltou.
Outro ganho bastante importante diz respeito à redução aos impactos ambientais, uma vez que, somente na safra 2019-2020, a tecnologia da FBN evitou a emissão na atmosfera de 183 milhões de toneladas de gases de efeito estufa.
Redução de nitrogênio
Pesquisas realizadas pela Embrapa Soja nos últimos dez anos mostram que a inoculação de sementes de milho com a bactéria Azospirillum brasilense (estirpes Ab-V5 e Ab-V6) é capaz de reduzir em até 25% a adubação nitrogenada de cobertura, considerando a dose de 90 quilos (kg) por hectare (ha) de N-fertilizante. “O uso de microrganismos promotores do crescimento de plantas – capazes de substituir, parcial ou totalmente, os fertilizantes químicos – representa uma estratégia-chave para o Brasil, que importa a maior parte dos fertilizantes usados na agricultura”, destaca a pesquisadora Mariangela Hungria, da Embrapa.
Segundo ela, a tecnologia de inoculação do milho com a bactéria Azospirillum brasilense reduz a adubação nitrogenada de cobertura, além de permitir um incremento médio de 3,1% na produtividade de grãos. “Todos os experimentos realizados confirmam esses benefícios, em diferentes níveis de rendimento, condições tropicais e subtropicais, solos argilosos e arenosos, com alto e baixo teor de matéria orgânica”, enfatiza.
Ao longo de dez anos, a Embrapa Soja conduziu 30 ensaios a campo (26 deles em primeira safra) para avaliar a inoculação em 12 genótipos comerciais (híbridos e variedades) de milho com as estirpes Ab-V5 e Ab-V6 de A. brasilense.
Como lembra o pesquisador Marco Antonio Nogueira, ao redor dos 35 dias após a emergência do milho, foram fornecidos 0%, 50%, 75% e 100% de N em cobertura, sendo 100% correspondente a 90 kg/ha de nitrogênio, aos tratamentos inoculados e não inoculados. “O rendimento de grãos das plantas inoculadas e com 75% da adubação nitrogenada em cobertura foi igual ao das plantas não inoculadas e que receberam 100% da adubação nitrogenada, o que indica ser possível reduzir a adubação nitrogenada de cobertura em 25%, sem perda de produtividade”, completa.
As pesquisas chegaram à conclusão que esses resultados são consequência de dois processos microbianos complementares, coordenados pelas bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCP): a fixação biológica de nitrogênio e o favorecimento do crescimento radicular do milho. “O inoculante aumenta a eficiência de uso do fertilizante nitrogenado que, nas condições brasileiras, raramente é superior a 50%, sendo boa parte perdida por lixiviação, contaminando águas de rios e lençóis freáticos, e pela emissão de gases de efeito estufa”, completa o pesquisador.
Conclusão
Importantes pesquisas realizadas recentemente têm contribuído bastante com a agricultura, não apenas para aumentar a produtividade de diversas culturas, mas também para reduzir os custos de produção e para diminuir os impactos ambientais. Um bom exemplo foi observado pelo estudo que demonstrou que a fixação biológica de nitrogênio (FBN) gerou uma economia de US$ 15,2 bilhões em fertilizantes químicos na safra 2019-2020, ao possibilitar o fornecimento de nitrogênio para as plantas sem que seja preciso recorrer à adubação com ureia.
Esse tipo de iniciativa tem sido cada vez mais comum e sempre é impulsionada pelas bases da Agricultura de Precisão (AP), ou seja, utiliza técnicas e tecnologias que visam aumentar a produtividade e reduzir os custos e os impactos ambientais.
Leia também: Soja: estádios fenológicos e práticas de manejo
Deixe um comentário