Ferrugem Asiática em Solos Brasileiros: Qual o papel do Vazio Sanitário na mitigação dos impactos? 

A ferrugem asiática é uma das doenças mais devastadoras que afetam a produção de soja. Causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, essa doença tem a capacidade de reduzir drasticamente a produtividade das lavouras, acarretando prejuízos econômicos significativos. O vazio sanitário é uma estratégia crucial no combate a essa doença, mas na prática, como ela funciona e quais são seus impactos na agricultura? A gente conta pra você! 

O que é a ferrugem asiática? 

A ferrugem asiática da soja foi identificada pela primeira vez no Japão em 1902 e se espalhou por várias partes do mundo, incluindo a América do Sul e do Norte. No Brasil, a doença foi detectada em 2001, na região sul, na safra de 2001/2002, e desde então tem sido uma preocupação constante para os agricultores, principalmente em regiões onde a soja é cultivada. O desenvolvimento da ferrugem é favorecido por temperaturas entre 18ºC e 26,5ºC, com um período de umidade nas folhas variando entre 6 e 12 horas. 

O ciclo da ferrugem asiática tende a ser muito rápido sob condições ideais. O intervalo entre a infecção e a manifestação dos primeiros sintomas varia de 6 a 9 dias. Os sintomas geralmente aparecem na face inferior das folhas na parte inferior da planta: pequenas manchas com até 1 mm de diâmetro, que são mais escuras do que o tecido saudável da folha e apresentam uma leve protuberância, dando a aparência de ferrugem. 

A ferrugem asiática não é uma preocupação exclusiva do Brasil. Em outros países produtores de soja, como os Estados Unidos, a Argentina e a China, a doença também representa uma ameaça significativa. As estratégias de manejo variam, mas o princípio do vazio sanitário é amplamente reconhecido como uma prática eficiente. 

Nos Estados Unidos, a ferrugem asiática foi detectada pela primeira vez em 2004, e desde então, esforços contínuos têm sido feitos para monitorar e controlar a doença. Na Argentina, a doença foi registrada em 2002 e, assim como no Brasil, o vazio sanitário é uma prática adotada para mitigar os impactos. 

Identificando a ferrugem asiática 

Os primeiros sinais da infecção aparecem na face inferior (abaxial) das folhas, especialmente nas folhas mais velhas, localizadas na parte inferior da planta. É aqui que os esporos encontram as condições adequadas para se desenvolver.

Os sintomas iniciais da ferrugem asiática são pequenas manchas escuras, chamadas de lesões, com cerca de 1 mm de diâmetro, como já foi descrito. Estas lesões são mais escuras do que o tecido saudável da folha e têm uma leve protuberância, o que dá a aparência de ferrugem. À medida que a doença progride, essas lesões podem se expandir e coalescer, cobrindo uma área maior da folha. 

As lesões causadas pela ferrugem asiática reduzem a área das folhas que pode realizar a fotossíntese. A fotossíntese é o processo pelo qual as plantas produzem energia a partir da luz solar. Com menos área foliar saudável, a planta não consegue produzir energia suficiente, o que afeta seu crescimento e desenvolvimento. Com isso, as folhas severamente infectadas podem cair prematuramente, expondo menos superfície à luz solar e comprometendo ainda mais a capacidade da planta de realizar a fotossíntese. 

Devido à menor capacidade fotossintética, a planta produz menos energia para o desenvolvimento dos grãos. Isso resulta em uma menor quantidade de grãos e pode afetar o tamanho e a qualidade dos mesmos. A ferrugem asiática, portanto, não só diminui a produtividade das lavouras de soja, mas também pode levar a perdas econômicas significativas para os agricultores. Controlar a doença de forma eficaz é essencial para garantir colheitas saudáveis e rentáveis. 

Mas então, como funciona o vazio sanitário? 

O vazio sanitário é um período obrigatório em que não se pode cultivar soja ou manter plantas vivas de soja nas áreas de produção. No Brasil, esse período varia de 60 a 90 dias, dependendo do estado. A principal finalidade é interromper o ciclo de vida do fungo, que necessita de plantas vivas para sobreviver e se proliferar. A medida é adotada em 20 estados e no Distrito Federal, seguindo regulamentações estaduais que exigem a eliminação de todas as espécies, incluindo voluntárias e hospedeiras de pragas e doenças, durante o período do vazio sanitário. Se essas plantas persistirem, elas devem ser erradicadas usando métodos químicos e físicos dentro do prazo estipulado. 

Durante o vazio sanitário, os agricultores são obrigados a eliminar todas as plantas voluntárias (também conhecidas como “guaxas” ou “tiguera”) que podem servir de hospedeiras para o fungo. Esse controle rigoroso ajuda a reduzir a quantidade de inóculo do fungo na próxima safra. 

O Paraná e a região I10 de Rondônia são os primeiros a iniciar o vazio sanitário no país, que começou em 10 de junho. A partir de 15 de junho, o Amazonas, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, região I4 do Pará e região II11 de Rondônia também entraram no período de

vazio sanitário. O descumprimento das normas pode resultar em multas para os produtores, variando conforme o estado. Cada unidade federativa possui um órgão responsável por monitorar e fiscalizar a implementação do vazio sanitário da soja. 

Benefícios do vazio sanitário 

A soja é uma das principais culturas agrícolas do Brasil, sendo uma grande fonte de receita para o país. A produção de soja no Brasil atingiu 137 milhões de toneladas na safra 2022/2023, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). No entanto, a ferrugem asiática pode causar perdas de até 80% na produtividade se não for controlada adequadamente. 

O vazio sanitário tem se mostrado uma medida eficaz no controle da doença. Estudos indicam que a implementação dessa estratégia pode reduzir significativamente a incidência da ferrugem asiática, resultando em menores custos com fungicidas e maiores rendimentos para os agricultores. 

A média de gastos para combater a ferrugem asiática em solo brasileiro é de US$ 2,8 bilhões por safra, de acordo com o consórcio Antiferrugem, coordenado pela Embrapa. Com a aplicação do vazio sanitário, é possível reduzir os custos de manejo da doença, aumentando a eficiência das plantações e a produtividade, o que está diretamente ligado à lucratividade da soja. 

Segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), a prática do vazio sanitário pode reduzir em até 30% os custos com defensivos agrícolas. Em estados como Mato Grosso, a adoção do vazio sanitário tem contribuído para um aumento médio de produtividade de 5 a 10 sacas por hectare. 

Além dos benefícios econômicos e de controle de doenças, o vazio sanitário contribui para práticas agrícolas mais sustentáveis. Reduzir a dependência de defensivos agrícolas diminui o impacto ambiental, preservando a biodiversidade e a qualidade do solo e da água. Essa prática também promove um manejo integrado de pragas, incentivando o uso de métodos mais ecológicos e equilibrados. 

A ferrugem asiática é uma doença devastadora que afeta a produção de soja em todo o mundo. O vazio sanitário é uma medida essencial para controlar a doença, especialmente no Brasil, um dos maiores produtores de soja do mundo. A implementação eficaz dessa prática pode minimizar os impactos econômicos e garantir a sustentabilidade da produção de soja. A pesquisa contínua e a cooperação global são fundamentais para enfrentar os desafios futuros e proteger essa importante cultura agrícola.

Fontes

Syngenta Digital

Embrapa

Embrapa

Embrapa

Agrolink

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