Atualmente, o Brasil é o maior fabricante de etanol a partir da cana-de-açúcar do mundo e o segundo maior produtor mundial, perdendo apenas para os Estados Unidos (que produzem o combustível a partir do milho).
Conhecido antigamente apenas por álcool, o etanol é um biocombustível amplamente utilizado nos dias atuais. Ele é utilizado para abastecer veículos automotores (essencialmente carros) com eficiência semelhante à gasolina, porém possibilita um ganho ambiental bastante importante.
Esse protagonismo do Brasil na fabricação de etanol é resultado de muito trabalho, políticas públicas e pesquisas que foram e continuam sendo realizados em centro de pesquisas e empresas de todo o Brasil.
Diante desta importância, convidamos você a entender a longa e vitoriosa história do etanol brasileiro, desde sua popularização no passado até o que esperar para o futuro deste combustível da cana que visa manter o Brasil no holofote mundial quando o assunto é produção de combustíveis sustentáveis e limpos.
Números do Etanol brasileiro: 30,3 bilhões de litros no período 2020/21
A produção brasileira de etanol somou 30,3 bilhões de litros na safra 2020/21, segundo levantamento da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), com resultados da região Centro-Sul do Brasil — cinturão canavieiro. Esse número indica um recuo de 8,7% em comparação com o mesmo período da safra 19/20.
A queda mais expressiva foi do etanol hidratado, que apresentou uma redução de 11,3%, alcançando 20,6 bilhões de litros. Já a produção de etanol anidro, misturado à gasolina, ficou em 9,6 bilhões de litros, um recuo de 2,6% em relação ao período anterior.
Essa redução na produção foi resultado das medidas de restrição adotadas durante a pandemia de covid-19, que diminuem a mobilidade e consequentemente a demanda por combustíveis em 2020.
Mas independentemente dos números atuais, o Brasil é mundialmente classificado como a primeira economia sustentável com base em biocombustíveis do mundo. Com o etanol de cana-de-açúcar sendo considerado “o combustível alternativo mais bem sucedido até o momento”.
No entanto, o modelo brasileiro de combustível da cana só é sustentável devido à sua tecnologia agroindustrial que foi avançando ao longo dos anos e à enorme quantidade de terra arável disponível, permitindo o plantio de cana-de-açúcar em grandes quantidades.
História do etanol no Brasil
No Brasil, o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar teve sua história iniciada em meados do ano de 1925 por duas razões: (1) a necessidade de amenizar as sucessivas crises do setor açucareiro e (2) a tentativa de reduzir a dependência do petróleo importado.
Neste ano ocorreram as primeiras ações de introdução do etanol na matriz energética brasileira, principalmente com o surgimento da primeira experiência brasileira com etanol combustível da cana.
Já em 1933, o governo de Getúlio Vargas deu um passo importante, criando o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e, pela Lei nº 737, tornou obrigatória a mistura de etanol na gasolina.
Mas o grande salto do etanol brasileiro ocorreu na década de 70. Neste período, o Brasil importava, aproximadamente, 80% de todo o petróleo que ele consumia, o que correspondia a cerca de 50% da balança comercial. Dessa forma, o governo brasileiro encontrando no etanol a alternativa de crescimento com um combustível renovável e produzido inteiramente no país, reduzindo custos.
Assim, em 1975 foi lançado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), cujo objetivo maior era reduzir a dependência nacional em relação ao petróleo importado. No gráfico a seguir, é descrita a evolução e crescimento da produção de etanol desde a implantação do Proálcool.
Baseado neste gráfico pode-se destacar também duas fases de grande crescimento da produção do etanol brasileiro.
A primeira fase ocorre cerca de 5 anos depois do lançamento do Proálcool, em um período compreendido entre 1980 e 1986, quando o governo determinou a redução do Imposto sobre o Produto Industrializado (IPI) e do IPVA (na época, descrito como Taxa Rodoviária Única) para veículos movidos somente a etanol, e ainda fixou em 20% a taxa de mistura de etanol na gasolina.
No ano de 2003 inicia-se uma segunda fase. Neste momento vale destacar o lançamento do veículo bicombustível (flex-fuel) no país. Aliado a isso, houve a determinação do Protocolo de Kyoto, em 1997, cujo objetivo é a redução de emissão de poluentes em 5% e incentivo ao uso de fontes renováveis como o etanol.
Esses fatores resultaram em um significativo aumento da produção do etanol, cujo crescimento foi da ordem de 120,7%, entre as safras 2002/2003 e 2017/2018.
Passo a passo da produção do etanol a partir da cana-de-açúcar
Você viu até aqui os números e a história do combustível de cana, mas você sabe como o etanol é produzido? O processo é relativamente simples, com a cana passando por uma série de processos até que o etanol seja comercializado.
Assim, para fabricar o etanol, o processo deve se iniciar pelo plantio, sendo necessário selecionar a melhor opção de cana-de-açúcar dentre as muitas variedades. Essa seleção varia conforme o clima e a região, buscando resistência e produtividade. É importante também definir o modelo do canavial e preparar o solo para o plantio.
A colheita, por sua vez, ocorrerá entre 12 e 15 meses depois do plantio, momento em que o canavial terá entre dois e três metros de altura. Cada área de plantio suporta de cinco a seis ciclos de colheita. Assim que é cortada, a cana é colocada em caminhões e transportada até a usina.
Dentro da usina, a primeira etapa para fabricação do etanol é a lavagem com água ou a seco para a retirada da palha e da terra. Depois, ela é moída e esmagada por rolos trituradores.
Após esse processo, 70% da cana vira caldo. Os 30% restantes, chamados de bagaço, podem ser queimados para gerar energia ou para produzir o etanol de segunda geração, como ainda veremos em nosso artigo.
Para fazer o biocombustível, o caldo é purificado, filtrado e centrifugado até virar melaço. Em seguida ocorre a etapa da fermentação que dura cerca de 8 a 12 horas. Nessa fase, o melaço é pré-evaporado e misturado com água até formar uma substância conhecida como mosto, que em seguida é misturada ao fermento até que surja o vinho fermentado.
Esse vinho tem 10% de etanol em sua composição, que é separado. Na destilação, o combustível é separado da água e, por fim, está pronto para ser comercializado.
Importante ressaltar que no Brasil há dois tipos de etanol produzido a partir da cana-de-açúcar:
- Hidratado, que tem água e 96% de graduação alcoólica:
- Anidro, que é misturado com a gasolina e tem cerca de 99% de álcool.
Futuro do combustível da cana: Etanol de segunda geração
O setor de biocombustíveis está em franca evolução, com muitas pesquisas priorizando a máxima eficiência energética do etanol e ganhos ainda maiores em sustentabilidade. Neste cenário, o etanol de segunda geração, também chamado de etanol 2G, representa o combustível sustentável do futuro!
O etanol de segunda geração é basicamente um biocombustível produzido a partir dos resíduos que são descartados do processo produtivo do etanol de primeira geração, caso da palha e do bagaço da cana-de-açúcar.
Basicamente, para a produção do etanol de segunda geração há o uso de tecnologia que transforma a celulose em glicose e aproveita a palha e o bagaço da cana, atualmente descartados, no processo de produção.
Esse tipo de combustível permite um ganho importante em sustentabilidade industrial, pois permite aumentar os ciclos produtivos da cana-de-açúcar ao utilizar como matéria-prima resíduos do plantio e de outros processos produtivos.
A produção do etanol de segunda geração, a partir dos resíduos da cana, possibilitaria aumentar a fabricação total do biocombustível no Brasil em até 50%, sem ampliar a área plantada com a cultura.
Dessa forma, seja com o etanol de primeira ou segunda geração, espera-se que esse combustível brasileiro ganhe ainda mais mercado, marcando sua presença e sendo exemplo para países em que há incentivo para a utilização de combustíveis renováveis.
Tenha acesso a diversos artigos sobre cana-de-açúcar no nosso blog.
Referências
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