É importante entender as razões da crise de insumos agrícolas para, assim, ponderar estratégias e enfrentar este período que está afetando a produção de alimentos em todos os continentes.
Nos últimos meses, a produção agrícola mundial vem sofrendo uma séria ameaça: a redução da oferta de insumos agrícolas com o consequente encarecimento destes itens.
Neste cenário, o Brasil é uma das nações que mais vem sofrendo com os resultados dessa crise. Dada a nossa pujante produção agrícola, somos consumidores intensivos de insumos agrícolas, principalmente fertilizantes e defensivos, que na sua grande maioria são importados.
Embora tenhamos boa oferta natural de produtos necessários para a sua fabricação de insumos, como gás natural e potássio, nos encontramos numa posição de vulnerabilidade e dependência da importação de tais produtos.
Diante disso, abordaremos as principais causas da crise dos insumos agrícolas e suas consequências para o produtor brasileiro. Abordaremos também as recomendações para que eles consigam passar por esse momento da melhor forma possível.
Insumos agrícolas mais caros no mercado internacional
Na atualidade, o mundo consome 185 milhões de toneladas de fertilizantes. De todo esse montante, o Brasil utilizou, apenas em 2020, pouco mais de 40 milhões de toneladas, segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
Essa foi a primeira vez que o consumo nacional de fertilizantes superou a marca de 40 milhões de toneladas, confirmando a maior demanda brasileira por adubos. Porém, apenas 6 milhões de toneladas são provenientes do mercado interno, ou seja, importamos cerca de 85% de todo o volume que consumimos.
Essa dependência faz com que a agricultura brasileira fique à mercê do mercado externo e das variações do dólar, e isso vem representando um grande problema dentro do atual momento do mercado nacional de insumos agrícolas.
Os agricultores brasileiros estão sendo obrigados a pagar mais pela compra de seus insumos, com o preço de todos eles explodindo nos últimos meses. Vale destacar o valor de compra da ureia que, em um ano (set/20 – set/21), apresentou uma variação de aproximadamente 90%.
O fosfato monoamônico (MAP) e o cloreto de potássio (KCL) também subiram 74,8% e 152,6%, respectivamente. Entre os agroquímicos, o glifosato teve uma valorização de 126,8%, segundo informação da CNA com base em resultados do projeto Campo Futuro.
Apesar de a escassez não ser um problema ainda recorrente, os preços dos produtos já impactam no bolso do agricultor brasileiro. Estudos recentes mostram que, para comprar uma tonelada de fertilizante, o produtor de soja precisa vender mais. A quantidade de produto, que antes podia ser adquirida com a venda de 18 a 20 sacas de soja, hoje precisa depende da comercialização de 24 sacas.
Os especialistas creem que a atual crise de insumos não irá atingir a safra em formação, mas há a expectativa de uma grave crise de preços e de suprimento para a safrinha de milho que começará a ser semeada em janeiro de 2022, da qual se espera cerca de 100 milhões de toneladas.
A safra 2022/2023 também poderá ser seriamente ameaçada, caso a atual crise de insumos agrícolas persista.
A consequência disso tudo? O consumidor possivelmente pagará mais pelos produtos adquiridos. Podemos tomar como exemplo a alta do preço da carne, já que a soja e o milho, por exemplo, são transformados em ração para alimentar aves, suínos e o gado, com o pecuarista tendo que repassar essa elevação nos preços ao consumidor.
Por que o preço dos insumos agrícolas está subindo tanto?
Nos últimos meses, uma conjunção de fatores criou uma “tempestade perfeita” e fez disparar o custo dos fertilizantes e defensivos agrícolas no Brasil. Dentre esses fatores, os especialistas da área citam como mais importantes:
- Consequências da pandemia, devido a interrupções nas cadeias globais de produção, com paralisação da produção em fábricas;
- Escassez de contêineres, em razão da alta demanda nos grandes portos exportadores pós-pandemia;
- Explosão nos custos de frete marítimo;
Outro fator que fez os preços dos fertilizantes dispararem a nível mundial foi a escassez e consequente alta nos preços do gás natural na Europa, decorrentes da crise energética global deflagrada em maio. O gás natural é um item utilizado na produção de fertilizantes nitrogenados, caso da amônia e da ureia, com sua escassez os principais produtores europeus se viram obrigados a diminuir a produção.
Nos Estados Unidos, ocorreram altas recentes nos preços de fosfatados, devido principalmente ao furacão IDA, que ocasionou perda na produção de algumas plantas produtoras deste tipo de macronutriente.
Já na China, a produção de insumos agrícolas caiu em razão do fechamento de fábricas provocado pela alta nos preços da energia elétrica causados pela escassez de carvão. Lembrando que essa nação asiática está com projetos de substituir o carvão por energias renováveis, porém essas são mais caras.
Como se defender da inflação nos insumos e proteger as margens do agricultor?
Segundo especialistas, os indícios indicam que o preço dos insumos agrícolas sofrerá uma retração apenas no segundo trimestre de 2022. Até lá, priorizar a gestão e o controle da produção são meios essenciais para enfrentar o aumento no preço dos insumos e a volatilidade do mercado.
Vale lembrar que os fertilizantes representam cerca de 30% do custo de produção das principais culturas agrícolas. Assim, uma boa gestão ajudará a garantir rentabilidade ao produtor.
É também importante salientar que vivemos anos de margens muito altas na atividade agrícola para as mais diversas commodities, mas a história da economia agrícola mostra que margens espetaculares não duram para sempre. Portanto, é essencial manter altos níveis de liquidez para amortecer possíveis choques de custo.
Uma recomendação importante nesta conjuntura relaciona-se ao melhor relacionamento entre agricultor e seu fornecedor, com o primeiro procurando cultivar uma relação mais próxima com fornecedores confiáveis.
Além disso, a recomendação de associações, caso da Aprosoja, é a de não ter pressa e pagar caro com isso, ou seja, se ele conseguir esperar, essa pode ser uma possibilidade interessante.
A Aprosoja também orientou os produtores a contratarem consultorias agronômicas para a safra 2022/2023, com isso será possível conduzir a lavoura a partir do uso racional de fertilizantes, aproveitando a reserva de solo.
É importante também ponderar a viabilidade do uso racional de insumos agrícolas em lavouras brasileiras. Segundo a associação de produtores, é melhor ter uma produção um pouco menor e fechar a safra no lucro, do que adquirir insumos com preços muito elevados e no final ficar no prejuízo.
A otimização na aplicação de insumos se torna vital nesse cenário. O FieldScan é uma plataforma de análise de desempenho de lavouras completa nesse sentido. Através dela, é possível exportar recomendações a taxa variável ou fixa, dando mais assertividade na tomada de decisão. Aplicação de herbicida localizado e correção de solo a taxa variável são alguns exemplos da capacidade dessa tecnologia.
Por fim, mesmo essa sendo uma crise momentânea no âmbito mundial, no Brasil o problema dos insumos agrícolas é estrutural, devido ao desinteresse pela produção nacional de fertilizantes e a opção do agronegócio brasileiro pelos insumos importados.
Este problema tem fundamentos externos e internos e carecem de soluções na ordem estadual, federal e também privada, com investimentos maciços na implantação, ampliação e modernização das fábricas nacionais de insumos para a agricultura.
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Referências
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