A produtividade agrícola calculada se refere ao aumento da quantidade de produto que gera eficiência de produção, desta forma, quando falamos em produtividade, nos referimos a quanto uma determinada área produz com uma quantidade conhecida de insumos.
Como dito acima, a heterogeneidade da agricultura acrescenta muita imprevisibilidade. No entanto, com o início da safra e todas as incertezas que a envolvem, produtores recorrem a pressuposições para ajuda-los a prever sua rentabilidade.
Sabendo das dificuldades, é possível se estimar qual seria a produtividade da cultura antes dela ser colhida e assim tentar se aproximar ao máximo das condições que garantiriam essa produtividade.
De forma concreta, sabemos que não é possível obter com exatidão o que iremos colher, porém a estimativa pode servir de comparação relativa. Estimar a produtividade possibilita também a realização de planejamentos, dentre eles, a expectativa de lucro para uma comercialização antecipada de grãos, como na relação de barter já explicado aqui no blog.
Neste artigo trataremos de grãos, mais precisamente das duas commodities agrícolas mais importantes do país: Soja e Milho.
Certificações prévias
Para antecipar a quantidade de grãos colhidos por hectare, antes de mais nada é preciso se atentar aos manejos necessários, como seguir à risca as adubações compatíveis a expectativa de rendimento, plantio na época correta (assegurando a devida quantidade de luz necessária e de acúmulo de calor no caso de soja e milho, respectivamente) e o correto manejo fitossanitário. É primordial certificar-se de que haverá boa formação de espiga ou um bom enchimento de vagem para que o produtor possa de fato contar com a produção vegetal, trazendo a estimativa para mais perto da realidade.
É necessário encarar toda a extensão do talhão como um corpo desuniforme (áreas com maior ou menor fertilidade, diferentes gradientes argilosos e/ou arenosos, diferente capacidade hídrica, de matéria orgânica…), desta forma, o produtor ao realizar as amostragens precisa se atentar se a subárea escolhida é representativa, ou seja, responde por toda a extensão que se deseja medir. Não se deve coletar dados, por exemplo, em áreas de amassamento por manobras, manchas de solo ou curvas de nível.
Na presença de mapas de produtividade da área em mãos, a informação de cada talhão fica mais nítida e o processo se torna um pouco mais simples e mais preciso, saberemos onde amostrar. Inclusive, o FieldScan agora tem mapas de colheita!
Melhores momentos para se fazer a amostragem
De modo geral, quanto mais próximo da colheita, maior a expectativa e assertividade.
Para soja a estimativa feita após o estádio R5 ou estádio de enchimento de grãos. É a etapa mais adequada, pois é neste momento que as vagens estão formadas e o número de grãos por vagem definido, sendo possível a contabilização.
No caso do milho, entre R5 e R6 (ponderando sempre a umidade) sendo em R6 o surgimento da camada negra que denuncia o desligamento da espiga com a planta mãe, etapa que toda a matéria seca já foi depositada.
Estimativas anteriores a esses estádios são imprecisas em decorrência do processo de formação dos componentes produtivos das plantas. Exemplos de componentes produtivos:
- Número de plantas por área (estande);
- Número de vagens por planta;
- Número de espigas por planta;
- Número de grãos por vagem;
- Número de grãos por espiga;
- Peso do grão, expresso em peso de mil sementes ou grãos (PMS ou PMG).
Método de estimativa para a soja
Para realizar a estimativa de produtividade na soja, é preciso três dados:
- Número de plantas por hectare
- Número de grãos por planta
- O peso de mil grãos
Com o auxílio de uma trena, mede-se 10 metros lineares no talhão contando o número total de plantas (lembrando sempre de evitar as áreas ruins não representativas), ou ainda verificar a quantidade plantas em 4 linhas de 2,5 metros, para estimar o número de plantas por metro linear.
Sabendo que em 1 hectare há 10.000 m², dividimos essa quantidade pelo espaçamento (geralmente um bom espaçamento entrelinhas na cultura da soja é de 45 centímetros), encontrando a quantidade de metros lineares de plantio por hectare. Multiplicamos esse valor encontrado pelo número de plantas por metro linear para encontrar a quantidade de plantas por hectare.
Metros lineares de plantio por hectare = 10.000 / Espaçamento
Plantas por hectare = Plantas por metro linear x Metros lineares de plantio por hectare
ou:
Plantas por hectare = Plantas por metro linear x 10.000 / Espaçamento
O próximo passo é coletar 10 plantas, de preferência na linha onde foi feita a medida dos 10 metros lineares, contabiliza-se o número de grãos e por fim, realizando uma média para encontrar o número de grãos por planta
Número de grãos por planta = Grãos em 10 plantas / 10
Posteriormente, encontramos o PMS (peso de mil sementes), também chamado de PMG (peso de mil grãos). Essa quantidade varia com a cultivar em campo, no entanto, geralmente, cada 1000 grãos de soja possuem um peso de 140 a 220 gramas.
Multiplicando o número de grãos por planta pelo PMS e dividindo por mil (pois o PMS é o peso de MIL grãos), conseguimos o peso dos grãos por planta.
Peso dos grãos por planta = Número de grãos por planta x PMS / 1.000
Para estimar a produtividade por hectare em grama, basta multiplicar o peso dos grãos por planta pelo número de plantas por hectare. Esse valor dividido por 60.000 dá a estimativa da produtividade em sacas (60 kg por saca, 60.000 gramas por saca).
Estimativa da produtividade em sacas = Peso dos grãos por planta x Número de plantas por hectare / 60.000
Ou, em somente um fórmula de maneira direta:
Estimativa da produtividade em sacas = (Número de grãos por planta x PMS x Plantas por metro linear) / (Espaçamento x 6.000)
Para ilustrar, segue um exemplo: supondo que em 10 metros lineares contou-se 14 plantas e o espaçamento seja de 45 cm, assim:
10.000 m² / 0,45 m = 22.222,22 metros lineares por hectare;
14 plantas x 22.222,22 = 311.111,08 plantas / hectare (311 mil plantas por hectare)
Supondo que nas 10 plantas, haviam 950 grãos, portanto 95 grãos por planta, e o PMS seja 160 gramas.
Após a obtenção dos dados, faremos os cálculos finais:
95 x 160= 15200 (÷1000)=15,2 gramas por planta
Assim:
15,2 x 311,111= 4,728,887.2 g / ha = 4729 kg / ha = 78,8 sc / ha
Ou, em somente um fórmula de maneira direta:
(95 x 160 x 14) / (0,45 x 6.000) = 78,8 sc / ha
No fim do nosso exemplo, temos então uma quantidade total produzida de aproximadamente 79 sacas por hectare. Se ainda considerarmos o preço da saca, que atualmente gira em torno de R$ 160,00 (Fonte: Notícias Agrícolas), temos um faturamento estimado por hectare de R$ 12.608,00, aproximadamente. Cabe a esse agricultor definir então o seu balanço com uma noção próxima da realidade do que colherá.
Métodos de estimativa para o milho
Quando falamos desta cultura temos mais de um método de estimativa a disposição do milhocultor. Hoje, falaremos de três:
- Método simples
- Método Emater-MG
- Método desenvolvido na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos por Reetz, em 1987 ou Corn Yield Calculator.
- Método Simples
De maneira simples e bem direta, é necessário termos apenas 2 dados para o cálculo: A população de plantas do talhão e o peso dos grãos das espigas colhidas.
De maneira prática, utilizaremos o mesmo raciocínio inicial do método para o sojicultor e obteremos a população de plantas por hectare:
Digamos em 10 metros lineares, há 55 plantas (5.5 plantas por metro linear) num espaçamento de 90 centimetros:
10.000 m² x 0,9 m = 11,111.11 metros lineares ;
5,5 plantas x 11,111.11 = 61,111.105 plantas / hectare
A população de plantas do talhão calculada é de aproximadamente 61 mil plantas. Segundo a Aeagro, é ideal a coleta de plantas entre 2 a 6 hectares, evitando manchas de solo.
De posse desse valor, multiplicaremos pelo peso médio de grãos de cada espiga coletada, debulhada e pesada para, por fim, determinar a estimativa de produtividade do talhão. Supondo que o peso foi de 170 g, teremos:
61 mil plantas x 170 g = (61,111.105 x 0,170) = 10.390 kg/ha
Sabendo que a produtividade média em solo brasileiro gira em torno de 5.000 kg/ha esse produtor, por exemplo, pode vir a experimentar bons lucros.
Ressaltamos que nos estádios de amostragem o grão possui maior umidade que quando colhido mecanicamente, devemos então considerar essa variável.
- Método Emater-MG
Desenvolvido pela Emater-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais) e indicado por ela, o método consiste em primeiramente se escolher um ponto representativo no talhão (que não esteja localizado em curvas de nível ou manchas de solo conhecidas) e medir 10 metros em uma linha, contando a quantidade de espigas existentes.
Após a contagem, escolher 3 espigas aleatórias, debulhar, pesar os grãos e realizar a média.
De posse destes resultados, substituí-los na seguinte equação:
PRODUÇÃO (kg/ha) = (NE x P x EM) / 1.000
Onde:
NE = Número médio de espigas em 10 metros lineares
P = Peso médio dos grãos por espiga, calculado através das 3 espigas selecionadas aleatoriamente
EM = Espaçamento entrelinhas
- Corn Yield Calculator
Esse método foi desenvolvido pela Universidade americana de Illinois e estabelece uma regra a partir de uma tabela, que baseada no espaçamento entrelinhas conhecido, traça-se um comprimento para se obter 4 m² de área útil para coletar espigas:
| Espaçamento entre linhas (cm) | Comprimento para se obter 4 m² |
| 50 | 8 m |
| 60 | 6,6 m |
| 70 | 5,7 m |
| 80 | 5 m |
| 90 | 4,4 m |
| 100 | 4 m |
Após a coleta de todas as espigas em 4 m², selecionar 4 espigas e contar o número de fileiras de grãos e o de grãos por fileira, totalizando a quantidade de grãos por espiga. Retirar os grãos das extremidades que sejam menores que o tamanho normal dos demais grãos na espiga.
Para cada uma das 4 espigas, fazer o seguinte cálculo e depois realizar a média entre elas:
Nº DE ESPIGAS EM 4m2 x GRÃOS POR ESPIGA x 0,7 = produtividade em kg / ha (15,5% de umidade)
A partir do cálculo de uma área útil, realizar em mais áreas e por fim realizar uma média entre elas, quanto mais amostragens, mais assertiva fica a estimativa.
Custos
Sempre atento aos preços de mercado, cabe ao produtor se posicionar com relação aos custos e assim se situar melhor perante as negociações. Saiba mais sobre a rentabilidade e os custos da soja neste artigo do nosso blog e do milho neste outro.
Considerações Finais
- Não existe um método correto ou errado, as informações contidas aqui no blog têm embasamento teórico e prático e são usadas de acordo com a realidade técnica de cada produtor.
- Ressalta-se que a falta de umidade, temperatura, estresse por pragas e doenças são variáveis que comprometem os componentes produtivos ou de rendimento da planta, subestimando os resultados.
- Os manejos culturais também precisam ser bem feitos: Híbridos com boa genética e adequado ao ambiente (altitude, clima…), espaçamento correto, época de semeadura correta, irrigação adequada.
- Vale reforçar que quanto mais amostragens, mais perto se chega da realidade, maior a assertividade e mais preciso é o cálculo. Com maior precisão, menor o erro na expectativa de lucro ou prejuízo e uma melhor gestão é feita.
- Saber com antecedência o que você vai produzir pode significar o diferencial para sair na frente dos concorrentes.
REFERENCIAS
Comparação entre métodos para estimar a produtividade de grãos de milho Scielo
Optimas abordagens para previsão de produtividade nos grãos. Parabens
Prezado Caio, tem como me suportar estou escrevendo uma dissertação e queria uma ajudinha para formulação em CALCULO DE PRODUTUVIDADE EM CASTANHA DE CAJU