Brasil e Alemanha unem esforços em busca de soluções agrícolas sustentáveis e inovadoras.
Diante dos desafios impostos à agricultura pelo aumento da população mundial, inclusive a necessidade de produzir alimentos para 9,3 bilhões de pessoas por volta de 2030, diversos países têm elaborado novas estratégias para aumentar a produtividade, sem deixar de lado a qualidade e o compromisso ambiental.
A necessidade, inclusive, tem aproximado ainda mais os países, como observado pelo recente encontro entre os centros de pesquisa da Embrapa no Rio de Janeiro (Agrobiologia, Agroindústria de Alimentos e Solos) e o Instituto Julius Kühn, da Alemanha.
Participaram do encontro Frank Ordon (presidente do Instituto Julius Kühn), Maria de Lourdes Mendonça (chefe geral da Embrapa Solos), Cláudia Jantalia (chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa), Maria Beatriz Bley Martins Costa (Green Rio), Karina Olbrich (chefe de P&D da Embrapa Agroindústria de Alimentos), Humberto Bizzo (pesquisador e articulador internacional da Embrapa Agroindústria de Alimentos) e Joachim Schemel (Cônsul-Geral Adjunto – Consulado Geral da República Federal da Alemanha).
Composto por 18 institutos especializados complementados por unidades de serviço como biblioteca, processamento de dados, campos experimentais, casas de vegetação e administração, o IJK foi fundado em 2008 e conta com 1300 empregados, sendo que 450 deles são pesquisadores.
O centro de pesquisa federal para plantas cultivadas na Alemanha se tornou uma autoridade autônoma superior federal do portfólio do Ministério do Alimento e Agricultura e tem instalações de pesquisa em nove áreas, com a sede localizada na cidade de Quedlinburg.
Dentre os principais temas abordados durante o encontro estão a caracterização do biocarvão e das Terras Pretas de Índio, a agricultura orgânica e o conhecimento tradicional. “Na Embrapa Solos atuamos em fertilizantes, dados para a agricultura tropical, pedologia e zoneamento, uso da terra e serviços ecossistêmicos, intensificação sustentável da agricultura e coexistência produtiva com a seca”, ressaltou Maria de Lourdes Mendonça.
A agricultura familiar também foi debatida, até porque o pequeno produtor é responsável por nada menos que 80% dos alimentos que chegam à mesa da população mundial. Dentre os exemplos bem-sucedidos citados no encontro estão a “Fazendinha Agroecológica” da Embrapa Agrobiologia, que integra atividades de produção animal e vegetal.
“O manejo prioriza a reciclagem de nutrientes e o uso de desenhos de diferentes sistemas agrícolas, que envolvem rotações e consórcios de culturas, além da presença de espécies arbustivas e arbóreas como elementos de diversificação da paisagem”, disse Cláudia Jantalia.
Também foi evidenciado durante o encontro o desafio de reduzir em 50% o uso de pesticidas até 2030. “A comida é relativamente barata na Alemanha, nosso desafio é como continuar assim com o aumento da produção orgânica”, disse Frank Ordon.
O Brasil também caminha nessa direção, já que o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) alimenta 40 milhões de crianças e exige que boa parte dessa comida venha de pequenos produtores. Nesse contexto, a Embrapa Agroindústria de Alimentos tem uma atuação bastante importante, ao estudar a pós-colheita, o processamento e o uso de resíduos.
Ao fim do encontro, os países estabeleceram importantes parcerias, inclusive uma aliança germano-brasileira para proteção e uso sustentável de fitofármacos derivados da genética e serviços ecossistêmicos relacionados para plantas medicinais e aromáticas. Também manifestaram interesse em desenvolver pesquisas em conjunto em áreas como solos, descarbonização, bionsumos, entre outras. As partes voltarão a se encontrar no Green Rio, de 31 de agosto a 2 de setembro de 2023.
Relação entre Brasil e Alemanha
O recente encontro realizado entre os centros de pesquisa da Embrapa no Rio de Janeiro (Agrobiologia, Agroindústria de Alimentos e Solos) e o Instituto Julius Kühn, da Alemanha, é uma das importantes aproximações entre os dois países para debater temas ligados à agricultura e à sustentabilidade.
Também existem iniciativas como o Diálogo Agropolítico (APD) entre a Alemanha e o Brasil, um instrumento binacional para intercâmbio técnico e político de experiências, de perspectivas e de políticas públicas para o fortalecimento da sustentabilidade, justiça climática e competitividade dos setores agropecuário e alimentício de ambos os países.
Tanto o Brasil quanto a Alemanha têm um setor agropecuário forte e integrado às cadeias produtivas globais. Os atores relevantes em ambos os países estão interessados em intensificar um diálogo aberto e objetivo, até porque – como afirma a própria APD – os desafios da sustentabilidade e das mudanças climáticas para a agricultura são, cada vez mais, globais e só podem ser enfrentados por meio da cooperação e da compreensão mútua.
Já em março, as equipes das Diretorias Técnica e de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) receberam o assessor sênior para as Américas do Ministério da Agricultura e Alimentação da Alemanha, Hans-Peter Lampen, que esteve no país para conhecer mais sobre o agro brasileiro.
Na ocasião, o diretor técnico adjunto da CNA, Maciel Silva, fez uma apresentação sobre a estrutura e a atuação da entidade na defesa dos interesses dos produtores rurais e mostrou os principais números do setor e os impactos positivos do uso de tecnologia e da produção sustentável no país.
Também participaram do encontro o coordenador de Produção Animal da CNA, João Paulo Franco, a coordenadora de Produção Agrícola, Júlia Almeida, o assessor de Relações Internacionais Matheus Andrade, e o conselheiro para Alimentação e Agricultura da Embaixada da Alemanha, Roland Mohr.
Conclusão
Diante da necessidade de o mundo produzir ainda mais alimentos nos próximos anos, países considerados essenciais para a agricultura mundial têm se aproximado com o objetivo de traçar metas para aumentar a produtividade e reduzir os impactos ambientais. O Brasil e Alemanha, por exemplo, têm se aproximado por meio do trabalho desenvolvido por importantes órgãos de ambos os países.
Assim, a partir do diálogo e da pesquisa, os países terão condições adequadas para produzir cada vez mais, sem deixar de lado a qualidade dos alimentos e, claro, o compromisso com o meio ambiente.
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