Agricultura Itinerante: Um Olhar Sobre a Sustentabilidade em Movimento

Também conhecida como agricultura de corte ou raça, a agricultura itinerante é uma prática que consiste em desmatar, queimar e cultivar terras por um ou dois anos e abandoná-las até que a regeneração natural do solo esteja completa.

Feito isso, esses agricultores migram para outra terra e assim por diante. Aqui no Brasil, a agricultura itinerante era padrão até a década de 1960, com exceção da região Norte e Nordeste. Pois essa técnica ainda é a única forma de subsistência para várias famílias nesses locais até hoje.

Quer saber mais sobre esse tipo de agricultura e como ela pode contribuir para um futuro mais sustentável? Continue lendo este artigo e informe-se. 

O que é agricultura itinerante e quais seus princípios básicos?

Como falamos acima, a agricultura itinerante é uma técnica para revitalizar a vegetação e solos inférteis. Entretanto, essa prática é também uma alternativa para pequenos produtores cultivarem seus próprios alimentos sem ter que depender de empresas e de culturas de larga escala.

Ou seja, a agricultura itinerante é um sistema de produção agrícola que visa às necessidades do produtor que após revitaliza solos. Desse modo, a prática consiste em queimar parte das matas e florestas que tendem a deixar resíduos no solo. 

Assim, várias técnicas são utilizadas para renovar o solo e tornar a terra boa para cultivo. Para isso, os produtores contam como o uso de materiais recicláveis como frutos de abates e lixo orgânico para criar um tipo de adubo natural e também fazem rotação de culturas, descanso do solo e integração com a natureza.

Muito utilizada no período colonial nas lavouras de cana-de-açúcar e algodão, a agricultura itinerante teve um grande destaque na expansão da economia brasileira, pois, naquela época tudo vinha do campo.

Entretanto, deve-se tomar cuidado com o excesso dessa prática, pois  pode haver a destruição ou redução das florestas nativas, extinção de espécies animais e erosão do solo. Isso sem contar que as queimadas emitem bastante gás carbônico que é prejudicial para a camada de ozônio. 

Benefícios da agricultura itinerante 

Apesar dos alertas, a agricultura itinerante garante muitos benefícios para os pequenos produtores e para o meio ambiente. Abaixo separamos os principais:

  • Regeneração de solos inférteis;
  • Redução do uso de agroquímicos;
  • Geração de empregos locais e regionais;
  • Agricultura de subsistência;
  • Segurança alimentar; 
  • Resiliência frente às mudanças climáticas;
  • Baixo custo de implementação;
  • Preservação da cultura e tradições locais;
  • Redução da pressão sobre os recursos naturais.

Quais são os desafios e limitações desse tipo de agricultura?

Em tese, o principal desafio da agricultura itinerante é a falta de técnicas racionais de agricultura que consequentemente geram um desmatamento veloz. Além disso, a falta de recursos, infraestrutura limitada e a resistência a mudanças impedem o desenvolvimento da técnica.

Isso sem contar a poluição de CO2 por causa das queimadas que ajudam no aquecimento global e na destruição do habitat de vários animais.

A Amazônia, por exemplo, sofre com a agricultura itinerante. Nas últimas décadas, o governo vem lutando para equilibrar a expansão da agropecuária e o avanço do desmatamento. 

Isso sem contar que mais de 80% do estado do Amazonas são de agricultura familiar, de acordo com o IBGE. Ou seja, deve-se tomar cuidado na prática da agricultura itinerante, tanto pelo desmatamento, quanto pela ineficácia da técnica de corte e queima, que não funciona na região.

Desse modo, é necessário estudar a área para saber se a prática desse tipo de agricultura será eficaz. Pois, em áreas de mata ou floresta, as condições climáticas são extremas e isso pode gerar mais infertilidade ao solo do que sua recuperação.

Exemplos e casos de sucesso da agricultura itinerante

Abaixo separamos alguns exemplos desse tipo de agricultura na prática e como a técnica foi bem-sucedida. 

São eles:

  • Rondônia, Brasil: na região amazônica situada em Rondônia, a agricultura itinerante é utilizada por pequenos agricultores para subsistência. O desmatamento não acontece em áreas de preservação e após alguns anos, a área é abandonada para a regeneração natural da vegetação.
  • Milpa, México: Milpa é um sistema de agricultura itinerante feito pelos indígenas mexicanos. Eles plantam milho, feijão e abóbora juntos em uma área desmatada e queimada e depois de até dois anos, deixam a área para regeneração natural. 
  • Swidden, Sudeste Asiático: praticado em países do Sudeste Asiático, como Indonésia, Tailândia e Laos, o swidden é um sistema de agricultura itinerante em que a floresta é desmatada e queimada, as culturas são plantadas e depois de dois anos a eles deixam a área em repouso para regeneração. 

Qual o futuro da agricultura itinerante?

Por mais que esse modelo de agricultura seja criticado pelos impactos ambientais que ele gera, muitos estudiosos e agricultores vêm buscando novas formas, práticas e técnicas de como fazer a agricultura itinerante de forma mais sustentável, visando sempre à conservação do meio ambiente.

Desse modo, como um dos desafios desse tipo de agricultura são as técnicas rudimentares, atualmente vem se usando outras práticas mais inovadoras como complemento da agricultura itinerante.

Por exemplo, a agrofloresta é uma técnica agrícola que integra árvores, arbustos e plantas perenes em áreas de cultivo. Assim, essas plantas ajudam a proteger o solo da erosão, melhoram a fertilidade do solo, conservam a água e fornecem alimentos e recursos para as comunidades locais enquanto o solo se recupera.

A agricultura de conservação é outro exemplo, pois envolve a utilização de práticas que visam conservar o solo e a biodiversidade. Ou seja, utilizando as técnicas de agricultura de conservação, há uma redução da queima de resíduos agrícolas e dá para fazer o plantio direto e a rotação de culturas no período de renovação do solo.

Outro sistema agrícola complementar a agricultura itinerante é a permacultura. Como o objetivo dessa técnica é criar sistemas sustentáveis e resilientes, a partir da ecologia, economia e cultura, com ela é possível fazer uma combinação de plantas que se beneficiam mutuamente e a utilizar a compostagem e outras práticas para reciclagem.

Portanto, a agricultura itinerante, como qualquer outro sistema agrícola tem seus benefícios e riscos. Porém, basta os produtores querem trocar algumas práticas que prejudicam o meio ambiente por outras mais sustentáveis.

Assim, no final, todo mundo sai ganhando e juntos construímos um mundo melhor para as futuras gerações.Quer saber mais dicas sustentáveis para aplicar na sua fazenda? Clique aqui e veja quais as principais práticas sustentáveis para o cultivo de cana-de-açúcar.

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