Áreas de refúgio: o que você precisa saber

As áreas de refúgio são um dos principais métodos de manutenção do equilíbrio ecológico e que é capaz de gerar produtividade e qualidade na lavoura.

Desde que a primeira variedade de soja transgênica para cultivo no Brasil foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em 1998, a agricultura passou por grandes transformações em todo o país. Desde então, tornou-se comum o uso de organismos geneticamente modificados (OGM) com o objetivo de aumentar a qualidade das culturas produzidas, especialmente no que se refere à resistência a insetos.  

Nesse cenário, ganhou muito destaque no setor a introdução de genes da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) na agricultura brasileira, tendo seu uso destinado ao combate de pragas. Em pouco tempo, os genes provocaram uma verdadeira transformação na agricultura, ao aumentar a produtividade das mais diversas culturas. O impacto foi tão positivo que em 2017 as culturas transgênicas já representavam 92,3% da área plantada de soja, 94% da área de algodão, 86,7% da área de milho safrinha e 74,7% da área de milho verão. 

Basicamente, as sementes Bt fazem com as plantas desenvolvam uma ação inseticida capaz de resolver, já num primeiro momento, muitos problemas causados por pragas. Por outro lado, não se pode dizer que esta é a solução definitiva, uma vez que a reprodução de insetos, por exemplo, pode gerar pragas mais resistentes a esse inseticida natural. 

Diante disso, a melhor opção para lidar com o problema é a adoção de áreas de refúgio, ou seja, reservar áreas da propriedade para implantar sementes que não tenham o gene Bt. Na prática, essa técnica de Manejo da Resistência de Insetos (MRI) permite que insetos de ambas as áreas acasalassem entre si e assim gerem filhotes vulneráveis à toxina Bt.  

Essa medida não só é importante, como deve ser adotada com prioridade pelo produtor rural, já que insetos podem se tornar rapidamente resistentes ao gene Bt por meio da seleção natural e, assim, prejudicar toda a lavoura.  

Imagem representando a importância das áreas de refúgio para o processo de Manejo da Resistência de Insetos (MRI)
Imagem: Sementes Biomatrix 

No entanto, adotar uma área de refúgio não é uma tarefa tão simples assim, afinal, são muitos os detalhes que o produtor deve levar em conta nesse momento. O primeiro passo é selecionar as sementes de acordo com as características do solo e escolher a configuração do plantio (pode ocorrer em faixas ou blocos, por exemplo, sempre em alternância com as áreas em que foram utilizadas sementes Bt). 

Outra questão essencial para a adoção dessa técnica é a distância entre as duas áreas, que deve ser de no máximo 800 metros, para que assim os insetos consigam se locomover em ambos os espaços. O produtor também deve levar em conta a recomendação de adotar a área de refúgio em mais de 20% da área cultivada no caso da soja e do algodão e em pelo menos 10% no caso do milho.  

O tratamento de sementes e o constante monitoramento da eventual infestação também são medidas importantes para uma área de refúgio bem-sucedida.  

Produtividade 

Um erro comum entre os produtores é enxergar as áreas de refúgio como áreas perdidas, ou seja, espaços voltado apenas à procriação de insetos. Com esse pensamento, o produtor acaba tendo um lucro menor, já que tem uma importante parcela de sua propriedade considerada improdutiva.  

A indicação de especialistas para lidar com essa situação é também produzir nas áreas de refúgio, inclusive com a utilização de outros meios de combate às pragas, como o uso de produtos à base de vírus, fungos e bactérias. Ao seguir essa dica, o produtor terá uma rentabilidade muito maior em sua lavoura e passará a enxergar a área de refúgio como área produtiva.  

Design ideal das áreas de refúgio

Outra preocupação recorrente do produtor é a busca por um design ideal para implantar a área de refúgio. No entanto, essa não é uma questão tão importante assim, já que não existe um modelo padrão para isso. Existem muitas formas para se adotar áreas de refúgio, desde que o produtor não se esqueça, é claro, de seguir as normas já citadas, referentes ao espaço entre as áreas e o tamanho mínimo da área de refúgio.  

Alguns dos modelos mais comuns de implantação de área de refúgio (vistas na imagem abaixo) são desenvolvidos para que o produtor consiga identificar com a facilidade as diferentes áreas de sua propriedade.  

Imagem mostrando os espaçamentos ideais para as áreas de refúgio
Imagem: Sementes Biomatrix 

Conclusão 

Os genes da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) promoveram uma verdadeira transformação na agricultura brasileira, uma vez que atuam como uma inseticida natural, capazes de eliminar pragas de plantações. A medida, no entanto, se torna menos eficiente com o passar do tempo, pois insetos podem gerar filhotes resistentes ao inseticida graças à seleção natural. Por conta disso, as áreas de refúgio são grandes aliadas dos produtores, já que a implantação de um espaço com sementes sem o gene Bt faz com que os insetos circulem entre as diferentes áreas e se reproduzam entre sim. 

Assim, torna-se possível fazer com que os insetos resistentes (RR) cruzem com os susceptíveis (SS) e gerem filhotes heterozigotos susceptíveis (SR ou RS), ou seja, sem resistência a esse inseticida natural.  

A implantação das áreas de refúgio é indispensável para o produtor e deve seguir algumas importantes normas para que a lavoura não seja prejudicada. As principais se referem à distância entre as áreas (que deve ser no máximo 800 metros) e ao tamanho da área de refúgio (mais de 20% da área cultivada no caso da soja e do algodão e mínimo de 10% no caso do milho).  

A adoção de áreas de refúgio e o uso do gene Bt em sementes são mais alguns exemplos do quanto a pesquisa tem sido fundamental para o avanço da agricultura, ao buscar técnicas que proporcionem maior produtividade e, ao mesmo tempo, reduzam os impactos ambientais.  

Confira também nosso artigo sobre as principais pragas do Brasil.

Referências

Sementes Biomatrix 

Sumitomo Chemical 

Sistema Faeg 

Syngenta Digital 

Jornalista, mestre em Tecnologias, Comunicação e Educação, revisor e redator freelancer. Atua como repórter e assessor de imprensa e já publicou dois livros como autor independente. Tem interesse por cinema, literatura, música e psicanálise.

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