Alysson Paolinelli: o indicado ao Nobel da Paz que revolucionou a agricultura brasileira

Se hoje a agricultura brasileira é uma das mais importantes do mundo, muito se deve a algumas personalidades que se dedicaram incansavelmente a difundir novas técnicas, visões e tecnologias nessa área. Um desses nomes, sem dúvidas, é o de Alysson Paolinelli, indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2021, devido a sua contribuição e dedicação à agricultura tropical, segurança alimentar e sustentabilidade, por meio de novas tecnologias utilizadas na produção de grãos no Cerrado brasileiro em larga escala.

Paolinelli tem uma trajetória repleta de conquistas, idealismo e inovações. O engenheiro agrônomo foi ministro da Agricultura, um dos fundadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e responsável pela Revolução Verde no Brasil, que contribuiu para o aumento da produção agrícola brasileira.

Nascido em Bambuí, Minas Gerais, em 1936, e formado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Lavras, Alysson Paolinelli ganhou destaque em nível nacional em 1971, quando assumiu a Secretaria de Agricultura de Minas e, a partir da criação de incentivos e inovações tecnológicas, fez com que o estado de Minas Gerais se tornasse o maior produtor de café do Brasil.

Seu trabalho, pautado na produção de alimentos e na sustentabilidade, chamou a atenção do Governo Federal e resultou em um convite ao cargo de ministro da Agricultura, cargo que ocupou entre 1974 e 1979. 

Ao longo desses anos, a agricultura brasileira cresceu em níveis surpreendentes, o que tornou o país palco da maior revolução agrícola sustentável da história. As medidas adotadas por Alysson Paolinelli promoveram a autossuficiência alimentar brasileira, ao reduzir o custo da alimentação no orçamento familiar e liberar renda para outros consumos. 

Em pouco tempo, graças à revolução agrícola sustentável, a população brasileira passou a ter melhorias sociais, inclusive aumento na qualidade de vida e no bem-estar. Além disso, o Brasil se tornou o maior exportador mundial de alimentos básicos.

O trabalho desenvolvido por Paolinelli se baseou, principalmente, no conhecimento científico. Teve como prioridades a modernização da Embrapa e o desenvolvimento de pesquisas e iniciativas para a produção de alimentos no bioma Cerrado, que até então era visto como degradado e pouco fértil. Se atualmente a região Centro-Oeste tem participação fundamental na produção agropecuária do país, muito se deve à visão de Paolinelli.

Foi por conta dessa visão, inclusive, que a agricultura brasileira se tornou o que é. Já na segunda metade dos anos 1980, graças aos direcionamentos do ex-ministro, o Brasil atingiu um estágio de produção autossuficiente e passou a crescer constantemente, até se tornar uma balança da agricultura mundial.

E por falar na agricultura numa perspectiva mundial, a revolução de Paolinelli se tornou referência em outros países e inspirou lideranças em iniciativas parecidas com as adotadas no Brasil nos anos 70. 

A trajetória de Alysson Paolinelli. Imagens: Paolinelli

Globalmente, Alysson Paolinelli foi fundamental em ao menos quatro aspectos:

  • Segurança alimentar: a modernização do sistema agrícola na região tropical tornou a qualidade e o preço de seus produtos agropecuários mais competitivos e contribuiu para atender demandas por alimentos em países de renda baixa e média;
  • Sustentabilidade: a tecnologia agrícola permitiu maximizar a produtividade no bioma Cerrado mantendo 54% de sua área com cobertura vegetal natural, permanecendo 35% sob proteção legal que veda sua exploração econômica;
  • Desenvolvimento humano: a agricultura tropical gerou novos empregos e aumentou a renda em regiões antes pouco desenvolvidas economicamente. O resultado foi a melhora significativa do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal dessas áreas do país; e
  • Energia limpa: em 1975, o agrônomo também participou ativamente da criação do Proálcool, primeiro programa para produção de combustível a partir da utilização de biomassa no mundo. 
Conquistas de Alysson Paolinelli
As conquistas de Paolinelli. Imagem: Paolinelli

Conclusão

Por conta de tudo isso, é importante ressaltar que os efeitos da revolução agrícola tropical são perceptíveis até hoje, especialmente porque a agricultura brasileira continua se expandindo, a ponto de representar atualmente mais de dez vezes a produção nacional da década de 70.   

Foi por meio desse marco para o país que Paolinelli se tornou referência mundial em agricultura e foi elogiado por grandes especialistas no assunto, como o agrônomo norte-americano Norman Borlaug, conhecido como líder da Revolução Verde e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1970. 

Em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo em 1994, Borlaug foi enfático ao destacar a importância do trabalho desenvolvido no Brasil, ao fazer a seguinte afirmação: “O Cerrado brasileiro está sendo palco da segunda ‘Revolução Verde’ da humanidade. Os pesquisadores brasileiros desenvolveram técnicas que há 20 anos tornaram uma área improdutiva na maior reserva de alimentos do mundo. Quero levar essas técnicas para a África”.

Outro aspecto que chama a atenção é que Alysson Paolinelli sempre foi bastante ativo não apenas na agricultura, mas também na educação e na política. Grande incentivador da pesquisa, ciência e tecnologia, ele implantou um programa de bolsa de estudos para estudantes brasileiros em diversos centros de pesquisa em agricultura pelo mundo, especialmente nos Estados Unidos.

Também foi presidente do Banco do Estado de Minas Gerais, deputado constituinte e presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), diretor da Verde AgriTech e embaixador da Boa Vontade do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Atualmente ocupa o cargo de presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (ABRAMILHO).

Em 2006, foi laureado com o prêmio World Food Prize, que condecora personalidades que contribuíram significativamente para o aumento da qualidade e da quantidade de alimentos no mundo. 

Em 2021, teve a indicação ao Nobel da Paz protocolada no Conselho Norueguês do Nobel (The Norwegian Nobel Committee) pelo diretor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), Durval Dourado Neto, com apoio de diversas entidades do agronegócio, organizações, universidades e profissionais.

Referências

Blog Syngenta

Agro em Dia

Beef Point

Paolinelli

UFLA

Jornalista, mestre em Tecnologias, Comunicação e Educação, revisor e redator freelancer. Atua como repórter e assessor de imprensa e já publicou dois livros como autor independente. Tem interesse por cinema, literatura, música e psicanálise.

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