Política do carbono zero representa grandes oportunidades para o setor agro

Considerado um importante documento para questões ligadas à sustentabilidade, o Acordo de Paris busca fazer com que as nações tenham ações concretas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) com o objetivo de diminuir os efeitos do aquecimento global até o fim do século. Para que a meta seja alcançada, 175 países assinaram o acordo e, assim, concordaram com a política de carbono zero. 

Essa política significa uma transformação radical e urgente em todo o planeta, uma vez que o conceito de conceito de carbono zero (abordado pela primeira vez no Protocolo de Kyoto, em 1997) diz respeito à neutralização das emissões de GEE na atmosfera, o que acontecerá a partir do momento em que a quantidade de carbono adicionada à atmosfera for igual à quantidade removida.

Para alcançar esse resultado desafiador, as emissões de residências, transporte, agricultura e indústria precisam ser reduzidas consideravelmente e os gases nocivos removidos da atmosfera. 

Com isso em mente, nações traçaram diversas ações e estabeleceram metas próprias. No caso do Brasil, por exemplo, foi definido que o país deve reduzir pela metade os GEE lançados na atmosfera até 2030, alcançando o carbono zero em 2050.

Também considerada um dos quatro pilares do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), a estratégia de carbono zero no agronegócio é vista como a chave para o desenvolvimento sustentável e hoje oferece excelentes oportunidades de negócios no mundo todo, com destaque para o Brasil. 

Isso porque os investimentos entre US$ 14 bilhões e US$ 20 bilhões por ano, as novas tecnologias e o modelo de produção agropecuária carbono zero podem agregar entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões por ano ao PIB (Produto Interno Bruto) nacional, de acordo com os cálculos de Ned Harvey, CEO da Digital Gaya, especialista em tecnologias inovadoras de práticas regenerativas. 

Segundo ele, inovações originadas em pesquisas acadêmicas darão o suporte fundamental para sustentação dos projetos. “O Brasil tem a oportunidade da vida nesse momento”, afirmou Harvey. 

Mas para atingir tais cifras, o país precisa enfrentar alguns desafios, como facilitar acesso aos milhares de pequenos produtores na região Amazônia a essas novas tecnologias, de modo que possam usar seus conhecimentos na transição rumo à produção sustentável. Além disso, buscar meios de garantir transparência e recursos adequados para atração dos recursos.

“Os investidores globais precisam confiar que terão o retorno esperado. Eles precisam acreditar que o Brasil é o lugar certo para aportar recursos na produção de superalimentos e produtos agrícolas sustentáveis”, ressaltou.

Não por acaso, o especialista vê o agronegócio como setor chave para desenvolvimento sustentável nacional. Líder na exportação de carne bovina no mundo, além de ser um dos maiores exportadores de soja, o Brasil tem pela frente o desafio de ampliar sua produção mirando uma agropecuária de baixo carbono.

Estudos destacados pelo Valor Econômico mostram que os projetos atuais poderão mitigar, até 2030, 215 megatoneladas emissões de carbono. Já de acordo com o levantamento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2030 o consumo médio global per capita deverá aumentar 14,2%, ao passar de 34,1 kg para 60 kg no conjunto dos países desenvolvidos.

Emissões de gases no Brasil

Daniel Vargas, coordenador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que 50% das emissões brasileiras de gases de efeito-estufa são resultantes do desmatamento e do corte da floresta na Amazônia, enquanto 25% estão associados à agricultura e à pecuária. 

“Para fazer frente à expansão da demanda global de alimentos de forma sustentável será preciso dialogar com o setor florestal e o de produção de alimentos”, diss.

Alessandra Fajardo, da Bayer, concorda. “Não precisamos mais de área para produção. Precisamos produzir mais nas áreas já disponíveis”, ressaltou e, em seguida, lembrou que para cada hectare plantado hoje no Brasil, há cerca de três hectares abandonados em regiões potencialmente férteis.

Paula Costa, fundadora da Preta Terra, recordou o fato de que existem técnicas ainda pouco utilizadas na produção agropecuária sustentável que podem ser expandidas para restauração. “Essa realidade é uma oportunidade para o Brasil. Podemos recuperar áreas degradadas com agricultura regenerativa, recuperando essas áreas por meio da produção de grãos, pecuária ou sistemas agroflorestais”, enfatiza. 

Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú, defende que um dos principais incentivos para avançar na cultura sustentável está no potencial das redes e na articulação entre poder público, privado e sociedade civil em torno de uma transformação sistêmica. 

“Das 4,5 mil comunidades indígenas e quilombolas da Amazônia, só uma tem conectividade. Isso dificulta a disseminação da tecnologia de baixo carbono na região. Temos que olhar para as 30 milhões de pessoas que lá vivem. O desafio é promover alternativas que conciliem o capital natural com a dignidade das pessoas que vivem na região. Não dá para falar de alternativas econômicas que mantenha floresta em pé sem qualidade de vida para a população”, completou. 

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Conclusão 

Conforme destacado por vários documentos internacionais, é fundamental para o futuro do planeta que a humanidade alcance o carbono zero, um objetivo desafiador e que depende diretamente do setor agro. Não por acaso, mais do que nunca se tem falado em desenvolvimento sustentável, afinal, políticas ambientais adotadas pela agricultura e pela pecuária se tornaram essenciais para o meio ambiente. 

Além disso, a política do carbono zero pode gerar muitos benefícios financeiros aos produtores e ao país como um todo. Especialistas alertam, no entanto, que diversas práticas cotidianas devem ser alteradas para que isso ocorra de forma mais rápida e completa. Cabe, portanto, a todos os envolvidos com a agricultura e com a pecuária um comportamento renovado, atento às questões ambientais, para que assim contribuam com o futuro do planeta e ainda aproveitem as muitas oportunidades econômicas oferecidas pela política do carbono zero. 

Fontes

Valor Econômico

Beefpoint

Summit Agro

Época Negócios

Jornalista, mestre em Tecnologias, Comunicação e Educação, revisor e redator freelancer. Atua como repórter e assessor de imprensa e já publicou dois livros como autor independente. Tem interesse por cinema, literatura, música e psicanálise.

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