A adubação verde é uma técnica de manejo amplamente usada pelos produtores brasileiros. A adesão a essa prática se dá por duas razões principais: sua administração relativamente simples e sua eficácia no melhoramento da qualidade do solo.
Mas no que consiste a adubação verde? Preparamos esse material com tudo que você precisa saber para começar a utilizar a técnica hoje mesmo!
O que é adubação verde?
Adubação verde nada mais é que uma estratégia de manejo agrícola que tem como parâmetro a reciclagem de nutrientes do solo. Tal reciclagem é feita com o plantio de determinadas espécies de plantas, mais comumente leguminosas e gramíneas, mas também crucíferas e cereais. As principais aplicações da adubação verde são na melhoria de solos com deficiência de nutrientes, na recuperação de solos degradados e conservação daqueles que já são altamente produtivos.
A técnica gera melhorias na fertilidade porque é capaz de mobilizar os nutrientes mesmo nas camadas mais profundas do solo, o que garante sucesso na produção da cultura de interesse econômico de cada produtor.
Como a adubação verde funciona?
Na prática, os chamados “adubos verdes” – ou seja, as plantas usadas na melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo – absorvem os nutrientes já existentes no solo e diminuem os impactos da agricultura. Isso acontece porque, ao incorporar substâncias nutritivas, essas plantas mitigam perdas por lixiviação, conservando as propriedades naturais do solo.
Além disso, as raízes das plantas criam “galerias” e macroporos ao longo do processo de decomposição, atuando como um arado biológico que beneficia o crescimento de microorganismos, rompendo barreiras físicas e chegando até as camadas mais profundas do solo.
Algumas espécies, inclusive, apresentam relação biótica ou associativa com microorganismos naturalmente encontrados na terra, favorecendo a aração natural. É o caso, por exemplo, de leguminosas usadas como adubo verde, pois essas espécies – em conjunto com as bactérias encontradas nas raízes, chamadas rizóbios – ajudam o solo a absorver nitrogênio da atmosfera e fixá-lo no solo.
Outro exemplo são as gramíneas, que têm como característica a propensão de associar suas raízes aos fungos presentes na terra para formar micorrizas (associações mutualísticas entre fungos e as raízes). As micorrizas, por sua vez, dão origem às hifas, que aumentam a capacidade da planta de absorver água e nutrientes no solo.
Vale observar que o nitrogênio é um dos principais elementos que determinam a fertilidade do solo porque no crescimento de células e tecidos da planta e, ainda, por fazer parte da composição química da clorofila.
Por que aderir à adubação verde?
Uma das principais vantagens de usar adubos verdes se deve ao fato da capacidade de fixação de nitrogênio no solo resultante dessa estratégia. Por isso, em relação às culturas rotacionadas que não utilizam a técnica, apresentam um arranque até 25% maior no desenvolvimento da cultura principal. Abaixo, é possível ver a quantidade de nitrogênio fixada por algumas espécies (em quilos de nitrogênio por hectare):
Também existem espécies que evitam o desenvolvimento de daninhas e de mato no talhão, além de diminuir perdas de água no solo e auxiliar a recuperar áreas degradadas. Outra vantagem está diretamente no bolso do produtor: a adubação verde diminui a necessidade de investir em adubos químicos, em defensivos para controle do mato e de ferramentas e maquinários para descompactação do solo.
Outras vantagens são o controle de nematóides, o auxílio na absorção de fósforo, o aumento de teor de matéria orgânica, a redução de pragas agrícolas e doenças e a proteção do solo contra erosão. É importante reforçar a melhoria nos atributos físicos do solo, o aumento de porosidade e estruturação do solo, a ciclagem de nutrientes, além de um manejo mais sustentável como principais consequências da adubação verde.
Quero utilizar adubos verdes. Por onde começar?
O primeiro passo é, sem dúvidas, fazer uma análise do solo. Assim, será possível descobrir o grau de acidez da terra, qual a necessidade de correção e se o caso dispensa ou não o uso de fertilizantes.
Uma vez constatadas as características físicas do solo, o segundo passo para começar a usar a adubação verde como parte de manejo em sua fazenda é escolher qual espécie vai cultivar. Isso porque os custos de implantação da técnica variam de acordo com a planta a ser usada como adubo verde e com os índices de produtividade do solo – quanto mais degradado, mais altas as necessidades nutricionais. Esses custos de implementação, entretanto, costumam ser abatidos no custo de produção, visto que há redução considerável em implementos e defensivos agrícolas.
As principais espécies usadas como adubo verde são:
- Brachiaria ruziziensis (Capim Ruziziensis);
- Crotalária (C. juncea, C. spectabilis e C. ochroleuca);
- Feijão guandú (Cajanus cajan);
- Girassol (Helianthus Annuus);
- Milheto (BRS 15 01);
- Nabo forrageiro (IPR 116);
- Sorgo volumoso (Sorgo BRS716);
- Macuna Anã (Macuna deeringiana);
- Macuna preta (Macuna aterrima).
Mas existem outras que podem ser escolhidas de acordo com a necessidade do solo, como é possível ver na tabela abaixo:
O segundo passo é escolher o método. Ele pode ser de dois tipos básicos:
- Rotação: nesse tipo existem dois ciclos. O primeiro de dois anos, no qual divide-se a área em duas partes e uma delas recebe toda a cultura de adubos da estação. No segundo, de três anos, a área deve ser dividida em três partes e cada uma recebe as culturas de adubo verde a cada ano;
- Cultura de cobertura de inverno: nesse método, as culturas de inverno são plantadas em uma área não utilizada para produção principal em determinado período. Em geral, é preciso acrescentar matéria orgânica quando o manejo se dá na primavera e, por isso, é preciso ter atenção às estações do ano no uso desse método.
Uma vez feita a análise do solo, escolhida a melhor cultura e o método, é hora de iniciar a adubação verde na prática!
Passo a passo da adubação verde
Para aderir a adubação verde, o produtor precisa seguir quatro passos simples:
- Preparo do solo: roçar resíduos de outras culturas anteriores e plantas invasoras e deixar que se decomponham (com ou sem gradagem);
- Semeadura: incorporar as sementes escolhidas no solo, por plantio direto, em linha ou a lanço, de forma manual ou mecanizada, desde que respeitadas as quantidades adequadas e a correta incorporação no solo;
- Cobertura das sementes: caso opte pela semeadura a lanço, pode-se cobrir as sementes, com grade niveladora, ancinho, discos de reboque, entre outros, e, em seguida, usar o rolo nivelador ou caminhar pela área coberta. Após essa etapa, é preciso evitar movimento na área;
- Manejo: a massa vegetal deve permanecer no solo e deve ser manejada de duas formas possíveis:
- trituração: a massa é cortada com roçadeira, triturador ou rolo faca;
- plantas integral: tombamento da massa vegetal com um tronco amarrado a um trator, método ideal apenas para plantas arbustivas
Uma vez realizado o manejo, as plantas se transformam em cobertura morta e já é possível fazer o plantio da cultura principal.
Adubação verde: aliada da sustentabilidade e do produtor
Os adubos verdes são grandes aliados das práticas sustentáveis. Isso porque, além do melhoramento do solo, são capazes de garantir a biodiversidade, especialmente quando há mistura de culturas para adubação.
Por promover a recuperação, reciclagem e proteção da fertilidade do solo com custos baixos de implantação, a adubação verde pode ser uma alternativa consideravelmente rentável nas safras.
Por fim, o método é, simultaneamente, barato e sustentável porque ajuda a controlar insetos, nematóides e doenças, reduzindo o uso de agroquímicos e adubos químicos, que podem ser dispendiosos e reduzir a qualidade do solo ao longo dos anos.
Confira também nosso artigo sobre Consumo e produção responsáveis: o desafio do milênio
Referências:
Instituto Brasileiro de Florestas
Deixe um comentário