DNA do solo e as estratégias para aumentar a produtividade na lavoura

Você sabia que o solo é vivo? E, como em nós seres humanos e nos outros animais, é possível descobrir muitas coisas a partir da análise genética dos microrganismos que ali vivem. Nesse artigo você vai entender a importância dos microrganismos para o solo e como o seu manejo pode aumentar a produtividade e redução de custos com insumos. 

O solo é vivo

Ao contrário do que muito ainda se ensina nas universidades, o solo não é apenas uma base, um substrato em que é possível construir totalmente a fertilidade de modo artificial.

Muito ainda se ouve que uma boa fazenda precisa apenas ser plana e permitir mecanização, e que a fertilidade do solo “a gente constrói”.

De fato, com o avanço da tecnologia é possível sintetizar ou extrair do ambiente e colocar em um vidrinho diversos nutrientes, mas isso jamais substituirá a dinâmica de nutrientes gerenciada pelos microorganismos.

A ideia de que a fertilidade do solo pode ser totalmente construída artificialmente em grandes campos de produção é importada da realidade dos países desenvolvidos norte-americanos e europeus.

Isso acontece pois o solo deles têm sua fertilidade baseada na fração mineral, ou seja, os solos são ricos em nutrientes que vieram das rochas que deram origem àquele solo milhões de anos atrás. E esses nutrientes ainda estão ali.

Porém em países tropicais como o Brasil, o calor e a chuva são tanto que essa fertilidade natural já foi embora há milhões de anos, e é aí que entram os microorganismos. 

De modo geral, os solos brasileiros são pobres em fertilidade natural, justamente por serem muito intemperizados.

A maior floresta tropical do mundo – onde as árvores têm, em média, 40 metros de altura – está em cima de um solo pobre, mas só existe por conta da ciclagem de nutrientes feita pelos micro-organismos. 

Em resumo, os microorganismos são responsáveis por decompor os restos culturais (folhas, caules, raízes mortas) e disponibilizar esses nutrientes novamente para as plantas jovens.

Tudo isso acontece muito mais rápido do que nos países do norte, principalmente por conta do calor, e pode acontecer de forma ainda mais eficiente se os microorganismos presentes no solo forem preservados. 

Carga genética do solo

Dos gigantes elefantes às invisíveis bactérias, estima-se 8,7 milhões de espécies vivendo na terra. Cada espécie exercendo sua função e mantendo o equilíbrio de tudo.

No solo não é diferente. Diversas espécies de fungos, bactérias, protozoários etc. Convivem, competem e permitem que diversos processos ocorram.

É um universo à parte, mas que muitas vezes é desvalorizado e até destruído na falsa esperança de aumento de produtividade e lucro.

Esse universo pode ser quantificado e catalogado para que se possa explorar todos os benefícios dessas espécies.

Antigamente, quando se queria descobrir quais espécies de microrganismos viviam em determinado solo, era necessária uma amostragem e, a partir dela, cultivar esse solo em laboratório para identificar quais microorganismos iriam aparecer ali.

Esse processo permitia diversos erros. Alguns microrganismos poderiam não crescer por conta do ambiente, o técnico poderia confundir a espécie na hora do relatório e definitivamente seriam encontradas espécies que ainda não eram conhecidas. 

Hoje em dia, com auxílio da tecnologia DNA, essas análises são bem mais assertivas e, basta uma porção de solo, para que se identifique quais microrganismos estão presentes naquele solo e qual sua funcionalidade.

Isso significa que é possível saber se aqueles microrganismos estão relacionados à reciclagem de nutrientes, à sanidade do solo, síntese de hormônios, se são antagônicos à alguma outra espécie etc.

DNA e produtividade do solo

De 80 a 90% dos nutrientes encontrados nos solos tropicais estão na biomassa, ou seja, precisam ser liberados novamente para as plantas a partir dos microrganismos.

Para se ter uma ideia da dimensão desse número, em solos de ambiente temperado – como os Estados Unidos – cerca de 80% dos nutrientes encontram-se na fração mineral do solo, ou seja, vieram da rocha que originou aquele solo.

Desse modo, um dado que salta aos olhos é a quantidade de microrganismos encontrados em solos tropicais e temperados em condições naturais. 

Enquanto os solos temperados possuem, em média, 2 milhões de microrganismos por grama de solo, os solos tropicais possuem 20 milhões. É 10x mais vida envolvida no processo de nutrição das plantas.

E como todas essas informações se relacionam à produtividade?

É simples. Começando pela fertilidade

Como mostrado, os microrganismos são responsáveis por quase 90% da fertilidade dos solos tropicais, logo um solo rico em microrganismos é também um solo que necessitará menos adubo. 

Além disso, a presença de matéria orgânica em estado de decomposição – mas ainda não disponível novamente para as plantas – aumenta a capacidade do solo em reter água e nutrientes como Cálcio, Potássio e outros minerais.

Um segundo benefício do solo vivo é a estruturação. A matéria orgânica é conhecida como o melhor agente cimentante para o solo. Isso quer dizer que ela é capaz de deixar o solo estruturado em pequenos grumos, o que traz diversos benefícios.

Exemplos desses benefícios são: 

  • O solo fica menos suscetível à compactação pelo tráfego de implementos. 
  • A penetração da água no solo é facilitada, evitando que ela escorra superficialmente e cause erosão. 
  • A estruturação permite que as raízes cresçam livremente, podendo explorar toda a área necessária para o bom desenvolvimento das plantas. 

Como aumentar a produtividade a partir do manejo dos microrganismos

Para finalizar, aqui ficam três dicas práticas para se beneficiar da presença desses inquilinos na lavoura e assim alcançar novos patamares de produtividade e lucratividade.

  1. Plantio direto

O plantio direto é uma das primeiras decisões a serem tomadas quando se deseja se beneficiar dos microorganismos. 

O não revolvimento do solo preserva os microrganismos já existentes não os expondo ao sol e cria um ambiente mais favorável para que eles se multipliquem.

  1. Rotação de cultura

A rotação de cultura é outra estratégia de manejo muito benéfica para quem pretende manter o solo vivo.

Rotacionar o que se é plantado – e isso não significa apenas alterar a soja e o milho no verão e no inverno – estimula o aumento da variedade de microrganismos e evita que uma mesma espécie – muitas vezes não benéfica – esteja sempre em maior número.

Fonte: Organics News Brasil 
  1. Não pesar a mão na hora da adubação

É muito importante o equilíbrio na hora da adubação pois o excesso de sais como o NPK podem ser prejudiciais para os microrganismos, além de causar um desequilíbrio na fertilidade do solo. 

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REFERÊNCIAS:

Livro: Pergunte ao solo e às raízes. Ana Primavesi. 2014.

DNA do solo. Blog Aegro. 2021. Disponível em: Aegro

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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