A sucessão familiar, algo bastante importante para a continuidade do trabalho desenvolvido por produtores rurais, continua sendo uma grande preocupação no Brasil, afinal, dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) apontam que cerca de 40% dos produtores rurais devem deixar de atuar em suas atividades até 2030. Além disso, o mais recente Censo Agropecuário aponta que 25% dos produtores têm mais de 65 anos de idade.
Outro dado alarmante, este do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é que apenas 30% das empresas familiares chegam à segunda geração, enquanto somente 5% alcançam a terceira.
Diante da importância do agro para a sobrevivência da humanidade, é essencial que as novas gerações se interessem pela atividade no campo, especialmente quando se tem condições de dar continuidade ao trabalho desenvolvido por seus familiares.
Essa, aliás, é uma decisão que deve ser tomada com bastante antecedência, afinal, atuar na gestão de uma propriedade rural não é uma tarefa fácil, já que demanda conhecimentos diversos, pró-atividade, capacidade de tomar decisões assertivas em pouco tempo e inteligência social.
Por outro lado, os jovens têm um motivo a mais para se interessar pela atividade: o intenso avanço tecnológico que tem ocorrido no campo ao longo dos últimos anos. Se por um lado os produtores mais velhos se sentiram desafiados pelas novas tecnologias, os mais jovens cresceram junto com os avanços e, por isso, têm um domínio muito maior em relação a hardwares e softwares.
“No Brasil, que tem um papel de protagonismo na agricultura mundial, adotar tecnologias que auxiliam os agricultores de todos os portes é uma necessidade absoluta, e o nosso setor toma as rédeas para o desenvolvimento dessas soluções e iniciativas no campo. E é justamente essa presença constante da tecnologia que atrai o interesse dos produtores mais jovens, oriundos de famílias já presentes no agronegócio”, afirma o diretor de vendas Valtra, Alexandre Vinicius de Assis.
Essa familiaridade com a tecnologia, inclusive, tende a ser um ponto-chave para o avanço do setor. Prova disso é que a Agricultura de Precisão (AP) tem crescido muito no país nos últimos anos e contribuído de maneira essencial para que produtores de todas as regiões consigam produzir mais, com qualidade superior e ainda reduzir os danos ambientais.
Isso é feito graças a tecnologias que permitem que o produtor conheça o potencial, as características e as limitações de cada espaço de sua propriedade e, assim, tome as melhores decisões em prol da produtividade e da responsabilidade ambiental.
Aumento na produção
Nesse contexto, atrair os jovens para a continuidade do trabalho desenvolvido pelas gerações anteriores pode fazer com que a AP cresça ainda mais, o que seria benéfico para todos os envolvidos, até porque a ONU (Organização das Nações Unidas) prevê que até 2050 haverá mais de 10 bilhões de pessoas no planeta, o que exigirá um crescimento de 70% da produção global de alimentos.
O Brasil será fundamental nesse cenário e terá a responsabilidade de aumentar sua produtividade em até 40%, sem deixar de lado seus compromissos com as pautas sustentáveis. Para isso, contudo, familiares precisam encontrar sua própria dinâmica de trabalho. “Esse é um processo que precisa ser discutido entre os membros da liderança e gestão. O agro está se profissionalizando, temos grupos familiares que fazem parte do mercado financeiro, enquanto outros precisam de orientações básicas para pensar nos próximos passos. Cada uma dessas histórias precisa ser analisada individualmente, não há receita de bolo para a sucessão”, afirma a engenheira agrônoma e especialista em gestão, Alessandra Decicino.
Há de se destacar, também, que os avanços tecnológicos devem se intensificar ao longo dos próximos anos, especialmente em relação ao uso de Inteligências artificiais no campo, em atividades que vão da pré à pós-produção.
Por isso, até mesmo jovens que em um primeiro momento pensaram em trabalhar em áreas que a princípio não pareciam tão próximas ao campo, como o setor tecnológico, podem repensar sua decisão, uma vez que o agro tem se aproximado de muitas outras áreas do conhecimento.
Além disso, as startups (empresas, muitas vezes ligadas à tecnologia, que visam desenvolver ideias inovadoras) hoje têm um mercado enorme para trabalhar junto ao agronegócio, o que pode ser outro diferencial para atrair os jovens, uma vez que nada impede que os profissionais mesclem os conceitos das startups à gestão da propriedade rural familiar, por exemplo.
Conclusão
A atividade realizada no campo é fundamental para levar alimentos a toda a população. Contudo, atualmente muitas propriedades são geridas por pessoas com mais de 60 anos, daí a importância de incentivar nos jovens o interesse pelo campo e pela continuidade do trabalho desenvolvido pelos pais.
Nesse sentido, a tecnologia é um grande diferencial não só para atrair os mais novos, como também aproveitar todo o seu potencial para que cada vez mais as tecnologias se façam presentes em todas as etapas da produção e, assim, seja possível alcançar resultados cada vez melhores e reduzir os impactos ambientais.
Com o crescimento da população mundial, o Brasil tem um grande desafio pela frente no que se refere à produção de alimentos. E os resultados desejados apenas serão alcançados caso o trabalho desenvolvido pelos atuais produtores rurais tenha uma continuidade, pauta, sobretudo, no uso eficiente da tecnologia no campo, em prol do aumento da produção e, claro, da sustentabilidade. Mais do que nunca, a sucessão familiar se faz fundamental para esse setor tão importante para a sobrevivência da humanidade.
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