Buscando melhorias ao meio ambiente e a produção agrícola e agropecuária, a adoção de sistemas de integração como ILP (integração lavoura-pecuária) e ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta) tem apresentado bons resultados e tem ganhado mais adeptos.
Em um mundo cada vez mais preocupado com o meio ambiente e a busca por altas produtividades, com qualidade e rentabilidade, o setor agropecuário tem investido no uso de sistemas de integração. Esses sistemas permitem ao produtor desenvolver atividades agrícolas, pecuárias e florestais, em uma mesma área, de forma sinérgica.
Esses sistemas estão se expandindo e a sua adoção é muito importante para a recuperação de áreas degradadas tanto de pastagens como de lavouras. Além disso, otimizam o uso da terra, elevam a produtividade, diversificam a produção e geram produtos de qualidade. Tudo isso em um mesmo espaço, reduzindo a pressão sobre a abertura de novas áreas de cultivos e pastejos.
Os sistemas de integração podem ser classificados e definidos em quatro modalidades:
- Integração Lavoura-Pecuária (ILP) ou Agropastoril: são integrados o componente agrícola e pecuário em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área e em um mesmo ano agrícola ou por vários anos, em sequência ou intercalados.
- Integração Pecuária-Floresta (IPF) ou Silvipastoril: são integrados o componente pecuário (animal e pastagem) e florestal, em consórcio.
- Integração Lavoura-Floresta (ILF) ou Silviagrícola: são integrados o componente florestal e agrícola pela consorciação de espécies arbóreas com cultivos agrícolas anuais ou perenes.
- Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) ou Agrossilvipastoril: são integrados os componentes agrícola e pecuário em rotação, consórcio ou sucessão, incluindo também o componente florestal, na mesma área.
É importante ressaltar que o termo ILPF é adotado pela Embrapa e outras instituições para tratar sobre todas as integrações.
A escolha por qual sistema adotar vai depender das características da região e da propriedade, como proximidade de mercado, logística, relevo, clima, maquinário disponível e outros.
O tempo de utilização da lavoura, da pecuária ou da floresta vai depender do sistema adotado. É possível utilizar a pecuária por períodos de um mês a cinco anos e retornar com a lavoura, que pode ser utilizada por apenas uma safra (cinco meses) chegando até cinco anos. Já o componente florestal, dependendo da espécie em uso, pode ser utilizado para um ou mais cortes.
O uso dos sistemas de integração no Brasil
A integração de lavoura com pecuária e floresta ocorre desde os primórdios da agricultura. No Brasil, entre as décadas de 1930 a 1940, o uso consorciado de forrageiras e cultivos anuais já acontecia, principalmente no Cerrado. Esse uso foi intensificado a partir das décadas de 1960 e 1970 com a abertura mecanizada de novas áreas.
Porém, muitas dessas pastagens foram estabelecidas em solos ácidos e de baixa fertilidade, muitos inadequados para cultivos agrícolas. Assim, houve degradação das pastagens estabelecidas e a partir da década de 1980 houve a necessidade e o interesse em fazer a recuperação.
A partir daí, empresas como a Embrapa e outras instituições de pesquisas começaram estudos e desenvolveram soluções como a integração lavoura-pecuária (Sistema Barreirão e Sistema Santa Fé) e mais recentemente com o componente florestal, com a integração lavoura-pecuária-floresta.
Atualmente o Brasil já possui 11.568.124 ha com sistemas integrados de produção. Esse número vem de pesquisa realizada na safra 2015/2016 pela Kleffmann Group a pedido da Rede ILPF.
Planejamento e adoção do sistema
A implementação de um sistema de integração é uma estratégia produtiva que pode ser adotada por qualquer propriedade rural, desde que as condições de clima, solo e relevo não sejam restritas.
O produtor precisa se atentar a alguns pontos importantes, antes de iniciar a implementação do sistema. Pesquisar sobre o mercado para os produtos que serão produzidos, a logística de escoamento de safra, a disponibilidade de mão-de-obra, a facilidade de encontrar insumos e a assistência técnica qualificada.
Para a escolha de qual integração adotar deve ser feita com base em uma análise geral do cenário interno e externo. Para auxiliar nessa tomada de decisão e orientar a elaboração de um projeto adequado às particularidades da área, o mais correto é solicitar um profissional de assistência técnica ou extensão rural capacitado e com conhecimentos na área.
Qual será a estratégia de rotação de culturas? Qual espaçamento entre os renques de árvores? Quais espécies utilizar? Quais se adaptam melhor? Qual a diferença entre ILP e ILPF? Quando será o retorno econômico? Todas essas são dúvidas frequentes de quem tem interesse em implantar o sistema.
A principal diferença entre os sistemas é a inclusão ou não do componente arbóreo. O retorno econômico desse componente acontece em médio e longo prazo. Esse é um dos motivos pelo qual o ILP, sistema que não possui espécies florestais, seja o mais utilizado no Brasil.
Dentre os quatro sistemas existentes, o mais utilizado pelos produtores é a integração lavoura-pecuária (ILP) com 83%, seguido pela integração lavoura-pecuária-floresta com 9%, integração pecuária-floresta com 7% e integração lavoura-floresta com 1%.
Quando se tem a floresta no sistema de integração, essa é a que deverá ser mais observada, pois o seu ciclo determinará qual a duração do sistema. Dessa forma é importante que seja implantada corretamente garantindo o sucesso da atividade e evitando problemas futuros.
O plantio é feito principalmente por mudas, que devem ser jovens e ter entre 20 e 35 cm de altura, de boa qualidade fitossanitária. É importante passarem por “rustificação” (ficar em sol pleno com irrigação) antes do plantio para melhorar o pegamento das mudas.
A principal espécie utilizada hoje é o eucalipto, porém várias espécies nativas têm ganhado espaço como teca, mogno, baru, cedro e pequi. A escolha pelo eucalipto vem principalmente do tempo de crescimento, pois é possível retornar os animais para a área cerca de 12 a 14 meses após o plantio, já com as nativas o prazo aumenta consideravelmente para entre 24 e 36 meses, ou mais dependendo da espécie.
Para definir a distância das fileiras da espécie arbórea é preciso considerar a mecanização da área, principalmente para os cultivos animais que serão implantados entres as linhas. Deve-se programar de forma que um pulverizador e plantadeiras e colhedoras consigam operar na área.
Para compensar o retorno econômico da espécie arbórea é indicado o plantio de culturas anuais no primeiro e segundo ano. A escolha da cultura que seja implementada deve ser feita de acordo com a região, sendo as mais comuns a soja, o milho, o sorgo e o arroz, trazendo resultados satisfatórios.
A espécie forrageira geralmente entra a partir do segundo ano da instalação e o plantio é feito sobre a palhada da cultura anterior. Ao ser escolhida precisa apresentar boa tolerância ao sombreamento. Como exemplo a Brachiaria brizantha cvs. Marandu, Piatã e Xaraés, B. decumbens cv. Basilisk, Panicum maximum cvs. Aruana, Mombaça e Tanzânia, e Panicum spp. cv. Massai.
Também é possível plantar a forrageira em consórcio com o milho safrinha ou com sorgo (Sistema Santa Fé). Quando ocorre a colheita do milho ou sorgo, a forrageira está com o sistema radicular estabelecido e consegue aproveitar melhor a água e nutrientes disponíveis.
O componente animal mais utilizado é o bovino, seja para corte ou para leite. Porém, com as melhorias de conforto animal algumas outras espécies como caprinos e ovinos também já foram inseridos no sistema, mesmo que em uma proporção muito menor.
Vantagens e desafios do uso de ILP e ILPF
Existem inúmeras vantagens e diversos desafios a serem destacados com a implementação dos sistemas de integração.
Entre as principais vantagens da ILP e ILPF estão:
- Aumento da renda líquida permitindo maior capitalização do produtor;
- Melhoria do bem-estar animal em decorrência do conforto térmico e melhor ambiência;
- Otimização e intensificação da ciclagem de nutrientes no solo;
- Melhoramento da qualidade e conservação das características produtivas do solo;
- Manutenção da biodiversidade e sustentabilidade da agropecuária;
- Diversificação da produção;
- Aumento da produção de grãos, fibras, carne, leite e produtos madeireiros e não madeireiros;
- Maior eficiência de utilização de recursos naturais;
- Mitigação das emissões de gases causadores do efeito estufa;
- Redução na pressão pela abertura de novas áreas com vegetação nativa;
- Redução da sazonalidade do uso da mão de obra;
- Geração de empregos diretos e indiretos;
- Flexibilidade, que permite ser adaptado para diferentes realidades produtivas.
Já os principais desafios são:
- Tradicionalismo e resistência à adoção de novas tecnologias por parte dos produtores;
- Exigência de maior qualificação e dedicação por parte dos produtores, gestores, técnicos e colaboradores;
- Necessidade de maior investimento financeiro na atividade;
- Retorno apenas em médio a longo prazo, especialmente, do componente florestal;
- Falta de infraestrutura básica regional e mercado local para os produtos;
- Longas distâncias até as regiões consumidoras e as agroindústrias. Em algumas regiões, há dificuldade de aquisição de insumos como fertilizantes, sementes, mudas, agroquímicos e animais, bem como comercialização dos produtos;
- Pouca disponibilidade de pessoal qualificado, principalmente, de técnicos de nível superior;
- Pouca ênfase aos sistemas de integração nas grades curriculares de cursos de ciências agrárias;
- Política governamental de incentivos e estímulos à adoção dos sistemas de integração ainda em desenvolvimento;
- Maior complexidade agregando riscos ao sistema, especialmente devido ao componente agrícola.
Perspectivas
O número de produtores que estão buscando adotar sistemas de integração está crescendo e é esperado que cresça ainda mais. Em dez anos, a área ocupada pela ILPF aumentou em mais de 10 milhões de hectares.
A meta estipulada pelo Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC) em 2009 era de aumentar em 4 milhões de hectares a área com ILPF em todo o país até 2020. Em 2016, com a ratificação do Acordo de Paris sobre mudanças do Clima pelo governo arasileiro, foram adicionados mais 5 milhões de hectares com sistema ILPF, totalizando nove milhões de hectares até 2030.
Hoje o governo federal dispõe de linhas de crédito que podem ser utilizadas em projetos de integração lavoura-pecuária-floresta, o que ajuda muito o produtor. Como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) que financia projetos individuais ou coletivos, que geram renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária e o Programa ABC que concede benefícios e créditos para os agricultores que querem adotar técnicas agrícolas sustentáveis.
Conclusões
Os sistemas integrados, principalmente ILP e ILPF, são uma forma de produzir diferentes produtos em uma mesma área ao longo de todo o ano.
Esses sistemas apresentam muitos pontos positivos e muitas dificuldades para implantação, assim é necessário que o produtor analise quais as suas opções e investimentos necessários para que ele consiga ter sucesso.
Com a cobrança por melhorias no setor ambiental esses tipos de cultivos vêm se tornando cada vez mais praticados.
Se interessou pelos sistemas de cultivos integrados? Aprendeu um pouco sobre as técnicas e as siglas tão utilizadas ILP e ILP? Ficou com alguma dúvida? Deixe seu comentário.
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Referências
BUNGENSTAB, D. J. Sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta: a produção sustentável. Brasília, DF: Embrapa, 2012., 2012. Link: <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/938814>.
Rede ILPF. Link: <https://www.redeilpf.org.br/index.php>
belo artigo! gostei bastante das ilustrações!
Excelente material!! Parabéns!!