A monocultura é uma prática de manejo agrícola amplamente usada em todo Brasil. Ela faz parte da história e nasceu com o início das atividades agrícolas no país. Entretanto, com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, provou-se que, se usado por muito tempo, o sistema de monocultura pode causar esgotamento do solo. Nesse cenário, a prática de rotação de culturas pode ser uma boa alternativa para produtores que querem conservar a produtividade, os nutrientes e a vida presente no solo.
O que é rotação de culturas?
Em suma, o sistema de rotação de culturas consiste na alternância das espécies cultivadas em uma mesma área e é uma prática agrícola usada para a conservação do solo, assim como a adubação verde e o plantio direto.
Nesse sistema, que deve ser bem planejado, a estação do ano e a cultivare precisam ser definidas previamente, levando em conta tanto a finalidade comercial quanto a conservação e a recuperação do solo. Ao seguir esse planejamento, o produtor consegue evitar também o surgimento de pragas e doenças – já que a planta hospedeira destas não estará disponível por longos períodos.
Na rotação de culturas, as espécies devem ser selecionadas respeitando alguns critérios como, por exemplo, a suscetibilidade a doenças e pragas, a necessidade nutricional, as especificidades do manejo e o maquinário disponível para tal, o preparo do solo e outros.
Entretanto, os resultados – que envolvem a melhoria do solo, mas também a diversificação da renda, o controle da erosão, a manutenção da biodiversidade e a eficiência econômica – podem ser muito positivos!
Mocultura ou rotação de culturas. Qual escolher?
Tanto a monocultura quanto a rotação de culturas apresentam vantagens e desvantagens e cabe ao produtor definir prioridades e escolher o que é mais adequado para seu modelo de negócios.
O cultivo de uma única espécie, por exemplo, tem sido amplamente usado em solo brasileiro, especialmente em grandes propriedades rurais. É quase sempre voltada para o mercado internacional e pode ser de dois tipos: monocultura vegetal e monocultura animal.
As maiores produções de monocultura vegetal brasileira são a soja, a cana de açúcar, o eucalipto e o café. Já a monocultura animal é amplamente representada pela produção de carne bovina – da qual o Brasil figura entre os principais exportadores -, mas também de aves, caprinos e bubalinos no geral.
Entre as principais vantagens da monocultura estão:
- Aumento da produtividade e da eficiência a curto prazo, pois ela é capaz de maximizar o uso do solo;
- Mais tecnologia: com o auxílio de novas práticas, é possível escolher a melhor espécie a ser cultivada com efeitos positivos, como é o caso das culturas de arroz e de trigo. A monocultura abre espaço para novas tecnologias, pois os agricultores dedicam tempo e recursos para garantir um melhor desempenho;
- Especialização e aumento do rendimento: ao cultivar a mesma espécie por muito tempo, os produtores se especializam em determinada cultura, sendo capazes de reduzir custos e aumentar lucros ao longo do tempo;
- Maior facilidade de gestão: cultivar somente uma espécie exige menos esforços e menor diversidade de maquinário agrícola, o que torna a produção mais fácil.
Já as desvantagens são:
- Incidência de pragas: ao longo do tempo, algumas monoculturas podem desenvolver pragas e doenças difíceis de controlar. Sem diversidade genética, as perdas podem ser expressas;
- Mais pesticidas: por ser mais suscetível às pragas, as monoculturas exigem mais defensivos agrícolas, que podem se tornar ineficazes com o passar do tempo;
- Perda de fertilidade e degradação do solo: a monocultura diminui a biodiversidade de bactérias e microrganismos, necessários para garantir a fertilidade do solo. Como só há um tipo de raízes para reter a umidade, também pode provocar erosão;
- Mais fertilizantes: com o tempo, o solo esgotado exige mais fertilizantes, o que afeta o ecossistema geral e aumenta consideravelmente os custos de produção;
- Maior exigência de água: com raízes de um tipo só, o solo superficial degradado têm dificuldade de absorver e reter água, exigindo maior uso de fontes como lagos, rios e reservatórios;
- Menos biodiversidade: um ecossistema rico é composto por muitas espécies, o que não ocorre na monocultura. Como resultado, o desequilíbrio pode aumentar infestações difíceis de controlar;
- Menos polinização: as grandes extensões das plantações torna a dieta de insetos polinizadores empobrecida. Como consequência, diminui-se a biodiversidade;
Já na rotação de culturas, as principais vantagens são:
- Mais fertilidade: manutenção de características biológicas, físicas e químicas do solo, o que garante a fertilidade;
- Diversificação e rentabilidade: ao diversificar as culturas, o produtor atinge outros mercados, aumentando assim a rentabilidade;
- Mais defesa: o equilíbrio entre as espécies plantadas ajuda a reduzir plantas daninhas, pragas e doenças, quebrando ciclos de infestantes;
- Conservação e renovação: a rotação de culturas – principalmente quando aliada à adubação verde e ao plantio direto – ajuda a conservar e restituir a matéria orgânica do solo;
- Proteção de recursos naturais: a alta produção de biomassa e palhada para cobertura, especialmente quando associada ao plantio direto, ajuda a aumentar os níveis de retenção do solo, diminuindo a necessidade de explorar recursos hídricos;
- Controle da erosão: mais raízes significam um solo mais firme e resistente à deterioração;
- Otimização de recursos: a rotação de culturas permite melhor uso da mão de obra e do maquinário agrícola, além de diminuir a necessidade de fertilizantes químicos, graças à reciclagem de nutrientes;
- Produtividade e estabilidade: muitas espécies numa mesma área ajudam a estabilizar a produtividade de espécies vegetais, pois há mais eficiência econômica e agronômica.
As desvantagens, por sua vez, são as seguintes:
- Mais planejamento: a rotação de culturas exige mais tempo, pesquisa e planejamento, o que pode ser difícil para o produtor;
- Maiores investimentos: com o tempo, pode ser necessário investir em uma diversidade maior de maquinários agrícolas, a depender das espécies cultivadas;
- Acesso ao crédito: produtores com áreas menores podem ter mais dificuldade de acessar investimentos e financiamentos, especialmente porque o retorno financeiro não é imediato;
Cabe ao produtor investigar qual o modelo de manejo mais eficaz para seus objetivos, mas, sem dúvidas, especialmente a longo prazo, a rotação de culturas apresenta mais capacidade de manutenção da qualidade do solo, o que pode significar mais estabilidade e lucratividade do negócio.
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Rotação de culturas: por onde começo?
Caso queira iniciar um sistema de rotação de culturas, recomenda-se levar em conta diversos fatores.
Em primeiro lugar, é preciso escolher plantas que ajudam a fixar nitrogênio, com raízes volumosas e profundas. Usar plantas comerciais também pode garantir mais resultados, gerando renda para o produtor. Deve-se considerar também utilizar espécies que permitam a adubação verde, que contribui para a cobertura e fertilidade do solo. Quanto maior diversidade melhor: opte por culturas com sistemas radiculares distintos, como gramíneas e leguminosas e que se adaptam bem às condições climáticas da região. Outra dica é associar espécies que produzem muita biomassa e com rápido desenvolvimento, o que vai fazer com que os resultados apareçam mais cedo. E claro, é preciso analisar e preparar o solo para planejar o melhor manejo.
Sobre as espécies que devem ser usadas, há uma ampla variedade de combinações, que variam de acordo com a região produtiva e a biodiversidade do local. Mas uma dica importante é usar grupos distintos de plantas como, por exemplo:
- Gramíneas: arroz, trigo, milheto, aveia preta, aveia branca e sorgo;
- Asteraceae: girassol
- Leguminosas: soja, amendoim, feijão, grão de bico, tremoço, feijão guandu e crotalária.
Você também pode acompanhar a tabela abaixo, que indica as melhores espécies para rotação de acordo com a cultura principal:
Sustentabilidade: quais os impactos da monocultura e da rotação de culturas para o meio ambiente?
De acordo com a Embrapa, é essencial a adoção de uma alternativa para a monocultura. Isso porque a prática, amplamente usada por muitas décadas, teve como resultado o esgotamento e empobrecimento do solo em muitas regiões do Brasil. Desde a Revolução Verde, busca-se outras formas de produzir em larga escala um produto focado no mercado externo, como é o caso do café, da soja e da cana de açúcar.
Sendo assim, provou-se que, apesar de posicionar o Brasil como grande exportador, é impossível manter esses níveis de produção em um solo degradado sem investir quantias significativas em defensivos e fertilizantes químicos, o que pode aumentar os custos de produção e diminuir a rentabilidade a longo prazo.
A monocultura também exige maior área, o que faz com que grandes extensões de terra sejam desmatadas, gerando alterações climáticas, desequilíbrios nos ecossistemas e perda da diversidade da fauna e flora.
A rotação de culturas, nesse sentido, pode ser uma ótima alternativa. Como mostrado anteriormente, associada ao plantio direto e à adubação verde, pode diversificar as espécies plantadas e diminuir os impactos ambientais. Como consequência, o produtor que abandona a monocultura pode acessar “pagamentos verdes”, que reconhecem e estimulam agricultores que implementam estratégias sustentáveis. Essas iniciativas visam criar mudanças positivas, dando destaque para autoridades científicas e produtores que respeitam as boas práticas de uso do solo.
Em casos como os produtores de tabaco, por exemplo, a rotação de culturas reverteu o plantio de grãos na safrinha em R$779 milhões para os agricultores de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Isso mostra que a rotação pode ser eficaz para as mais diferentes espécies, garantindo maior rentabilidade quando há planejamento e investimento. Por fim, a rotação de culturas garante maior durabilidade e dos empreendimentos agrícolas, nos quais o produtor terá mais estabilidade em sua produção.
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