De forma geral os remineralizadores são substâncias que visam repor minerais essenciais no solo, promovendo o aumento da fertilidade. Esses produtos geralmente contêm minerais como cálcio, magnésio e potássio, contribuindo para a melhora da estrutura do solo, o que favorece o crescimento das plantas. Essa prática busca restabelecer nutrientes que podem ter sido perdidos ao longo do tempo devido às atividades agrícolas.
O pesquisador Éder Martins da Embrapa Cerrados (DF), abordou o panorama atual referente aos remineralizadores e aos fertilizantes silicatados, englobando conceitos, os impactos diretos e indiretos do uso, bem como estratégias de pesquisa, durante sua apresentação no Workshop Remineralizadores – “Adaptando as Soluções Naturais para uma Agricultura Regenerativa: da Extração à Mesa e Suas Implicações Climáticas”.
Organizado pelo Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS) e pela Associação Brasileira dos Produtores de Remineralizadores de Solo e Fertilizantes Naturais (Abrefen), realizado de 5 a 7 de dezembro na sede da Embrapa, em Brasília, o evento contou com a participação de mais de 200 especialistas do setor agrícola brasileiro. A apresentação do pesquisador fez parte do painel “Desenvolvimentos e desafios dos remineralizadores na agricultura”, moderado por Carlos Augusto Posser Silveira, pesquisador da Embrapa Clima Temperado (RS).
Conceituação
De acordo com o professor “A remineralização é um processo no qual imitamos a natureza. Usamos uma rocha existente na região e a aplicamos no solo onde já houve um intemperismo. É um processo de renovação do solo, em que reiniciamos o intemperismo. Quanto maior o intemperismo do solo, quanto mais arenoso ele for, maior é a resposta do processo de remineralização”, explicou.
Nessa perspectiva, ele esclareceu que o substrato terroso é um patrimônio geológico, derivado das formações rochosas, e, portanto, é crucial compreender qual formação rochosa deu origem a um determinado solo através dos processos de intemperismo, especialmente em ambientes tropicais ao longo de períodos extensos. Por outro lado, a rocha pode desempenhar um papel como um ativo agrícola, uma vez que pode ser convertida em componente para o controle da fertilidade do solo. Assim, pesquisadores ao redor do globo têm explorado as potencialidades de aplicar produtos resultantes de eventos geológicos na agricultura, tais como resíduos vulcânicos e depósitos provenientes de processos glaciais, que consistem em rochas trituradas de forma natural.
O especialista enfatizou que, durante o processo de formação do solo, há invariavelmente a criação de um mineral como resultado final. Enquanto os materiais tradicionalmente empregados na agricultura (cloreto, carbonato, sulfato, fosfato e borato) se dispersam integralmente no solo, as rochas utilizadas como elementos de remineralização, especialmente os aluminossilicatos, experimentam uma dissolução parcial.
Efeitos
Ao abordar os impactos imediatos dos remineralizadores, Martins recordou que, ao começar a explorar o tema, enfrentou questionamentos quanto à capacidade desses minerais em desencadear intemperismo em uma escala de tempo agronômica. Ele exibiu um gráfico, baseado em dados de uma tese de doutorado, que ilustrava a geração de CTC (Capacidade de Troca Catiônica) por meio do intemperismo direto das raízes de milho em micaxisto, rico em biotita. A análise abrangeu três frações granulométricas distintas durante 315 dias, revelando que a biotita se transformou em vermiculita quando interagiu com as plantas.
Uma investigação adicional destacou a interação relacionada aos processos de liberação de cálcio, magnésio e silício por rochas basálticas. “Um dos efeitos observados na maioria dessas fontes é o incremento na disponibilidade de fósforo, mesmo em doses agronômicas variando de 0 a 8 t/ha. Tanto em solo arenoso quanto em solo argiloso, houve aumento no teor de fósforo disponível”, elucidou Martins, evidenciando ainda que ocorreu um aumento na biomassa do solo e na produtividade de grãos em cultivos de milho e feijão.
As interações entre o remineralizador e as substâncias húmicas do solo, conforme revelado pelo pesquisador em um estudo, potencializam de maneira significativa a eficácia na absorção de nutrientes pelas plantas, incluindo potássio, cálcio, nitrogênio e fósforo.
Conclusão
Conforme indicado pelo especialista, o desenho experimental de pesquisa deve originar-se de uma etapa específica, que, no contexto dos remineralizadores, corresponde ao biointemperismo dos minerais. Ele mencionou diversos sistemas a serem analisados, como o mineral-solução, o mineral-solução-solo e o mineral-solução-planta, os quais devem ser incorporados em um plano metodológico para a condução das pesquisas. “Reconhecemos as limitações dessas abordagens, e é por isso que também é crucial conduzir pesquisas em colaboração com os agricultores”, ponderou.
Em relação à aceitação dos remineralizadores, o pesquisador salientou a importância de compreender os motivos tanto para a utilização quanto para a não utilização por parte dos agricultores, além das crenças e lacunas de conhecimento que impedem a adoção integral da tecnologia. Ele também enfatizou as contribuições da Embrapa e do Serviço Geológico do Brasil no zoneamento agrogeológico, visando o desenvolvimento de produtos regionais no país.
O pesquisador apontou outras necessidades, como aprimorar o processo de beneficiamento de agrominerais com redução significativa de emissões de carbono, integrar fontes regionais e commodities, e avaliar o sequestro de carbono. “Essas questões representam os principais desafios de pesquisa”, afirmou.
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