Pesquisa com inteligência artificial e técnicas computacionais busca automatizar a produtividade da laranja em alguns pomares.
Embora seja mais comum em culturas como o algodão, a soja e a cana-de-açúcar, a Agricultura de Precisão (AP) também tem potencial para alcançar excelentes resultados em áreas menos exploradas, como a citricultura.
Além de todas as técnicas e tecnologias que podem contribuir para aumentar a produtividade e, ao mesmo tempo, reduzir os impactos ambientais, a AP tem uma contribuição extra às laranjas: a análise de dados reais da produção.
Isso tem grande importância porque essa cultura ainda enfrenta muita dificuldade no momento de levantar dados que, de fato, correspondam à realidade. Isso ocorre porque, em geral, os frutos são colhidos sem uso de máquinas e, em seguida, misturados e armazenados em sacos de 600 kg, chamados de big bags, que ficam distribuídos pelo pomar. Mais tarde, esses sacos são recolhidos por máquinas, que os levam até caminhões para que possam ser transportados.
Esse processo dificulta de maneira considerável a análise de dados reais da produção, um problema bastante grave, mas que agora, graças à Agricultura de Precisão, parece muito mais próximo de uma solução. Isso porque o Laboratório de Agricultura Digital da Universidade Federal de Viçosa (UFV), apoiado pela FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais), recentemente iniciou um estudo sobre a produtividade dos pomares na unidade produtiva de citros em Santa Cruz do Rio Pardo (SP).
A iniciativa inédita é desenvolvida em parceria com a Agroterenas e tem como objetivo desenvolver e validar métodos de mapeamento de produtividade das plantações de citros, baseados na aquisição de imagens dos pomares.
Para que os resultados desejados sejam alcançados, os pesquisadores utilizarão uma tecnologia bastante inovadora de sensores e Inteligência Artificial (IA) LeafSense, da Adroit Robotics. “Essa pesquisa ajudará a identificar problemas e desenvolver soluções de aumento de produtividade e economia de recursos. Com esse projeto, juntamos a tecnologia da Adroit, o conhecimento em agronomia digital da UFV e a experiência da Agroterenas, um dos mais tecnificados produtores do mundo”, explica o diretor de tecnologia da agtech, Angelo Gurzoni Jr.
A ideia é que os dados sejam coletados em pomares ao longo de duas safras, para que algoritmos analisem a identificação, a contagem e a medição dos frutos nas árvores. Para isso, os sacos serão georreferenciados com um receptor de posicionamento global por satélite (GNSS) com correção diferencial (RTK).
Na prática, esses dados permitirão que mapas de produtividade de referência sejam gerados e usados para o treinamento dos modelos de AI, com a finalidade de identificar e estimar a produtividade total de frutos em cada área do pomar.
Após o período prevista, ou seja, de duas safras, os modelos poderão indicar, com bastante precisão, os locais de maior e de menor produção na propriedade. Assim, os produtores poderão analisar os dados e corrigir eventuais problemas da forma mais eficaz possível.
Não por acaso, o diretor de tecnologia Angelo Gurzoni Jr defende que a implementação de sensores possibilitará o acesso a informações de forma precisa, rápida e sustentável. “As atividades serão desenvolvidas por duas safras e o conhecimento produzido para melhoria dos algoritmos e fórmulas matemáticas, comparando resultados entre áreas e ajudando o produtor na tomada de decisão. Daí para frente entram os softwares de IA e os pesquisadores em agricultura de precisão, entendendo porque as variações ocorrem, quais variáveis do pomar influenciaram”, ressaltou.
“A grande vantagem é que os agrônomos não precisaram esperar a colheita, pois antes do meio da safra o sensor consegue identificar possíveis problemas e assim poderão tomar decisões de modificar o trato do pomar”, completou.
Desafios na Produtividade da Laranja
O uso da Agricultura de Precisão na citricultura permitirá que o produtor tenha um aumento considerável em sua produção, algo bastante importante e rentável, especialmente por conta do momento enfrentado por alguns países. No caso dos Estados Unidos, por exemplo, a safra 2022/23 de laranjas da Flórida deve somar apenas 28 milhões de caixas de 40,8 kg, número 32% inferior ao da temporada passada e o menor desde 1935/36, segundo estimativa divulgada pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
E a notícia fica ainda pior, uma vez que essa projeção foi feita antes da passagem do furacão “Ian”, fenômeno climático que atingiu a Flórida no encerramento de setembro. Na prática, isso significa que os resultados tendem a sair ainda piores nessa safra.
A situação é bem diferente que a da safra 1997/98, quando a Flórida chegou a colher o recorde de 244 milhões de caixas. O atual cenário não é dos melhores porque a os custos de produção estão cada vez mais altos no país norte-americano, não só pela valorização dos insumos, mas também pelos cuidados mais intensivos em decorrência do greening.
Conclusão
A Agricultura de Precisão tem potencial para ser utilizada de maneira muito mais abrangente no Brasil, inclusive em culturas em que é pouco explorada, como a produção de laranja. Além de todas as possibilidades de aumentar a produtividade e reduzir os impactos ambientais, a AP oferece uma nova oportunidade à citricultura, ao possibilitar o desenvolvimento de um estudo capaz de analisar a produtividade dos pomares.
A ideia é utilizar as tecnologias da Agricultura de Precisão para coletar dados que permitam a identificação, a contagem e a medição dos frutos de cada árvore, para que assim o produtor consiga enxergar com bastante clareza os pontos deficitários de sua propriedade e corrigir eventuais erros.
Essa, portanto, é mais uma contribuição da Agricultura de Precisão para que os produtores consigam ter uma visão completa de cada área de sua propriedade, fortalecer pontos fortes, corrigir fraquezas e aproveitar todo o potencial de suas terras.
Assim, a AP apresenta, a cada dia, uma nova oportunidade para aumentar a produtividade e, ao mesmo tempo, causar cada vez menos impactos ambientais.
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