Agricultura de precisão tem ajuda na produção de vinhos brasileiros, aponta pesquisa realizada pela Embrapa Instrumentação (SP) na vinícola Terras Altas (Ribeirão Preto, SP).
A Agricultura de Precisão (AP) tem conquistado cada vez mais espaço no Brasil nas últimas décadas, uma vez que utiliza técnicas e tecnologias para aumentar a produtividade, ao mesmo tempo em que reduz os custos e os impactos ambientais. Quando se fala em Agricultura de Precisão, no entanto, muitas pessoas ainda pensam apenas nas principais culturas produzidas no país, como soja e café.
Essa realidade tem sido transformada nos últimos anos, com o uso da AP nas mais diversas culturas. Um exemplo bastante recente é da vinícola Terras Altas, localizada em Ribeirão Preto (SP), que tem alcançado resultados significativos de produção a partir da Agricultura de Precisão. Esses dados, inclusive, foram destacados por uma pesquisa feita pela Embrapa Instrumentação (SP), em parceria com a Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (FAC-Unesp), em Botucatu (SP), e o Núcleo Tecnológico Epamig Uva e Vinho, em Caldas (MG).
O trabalho é inédito no país e foi avaliado ao longo de dois anos de produção (2020 e 2021). Para alcançar os resultados – considerados excelentes – foram adotados procedimentos comuns à Agricultura de Precisão e utilizados equipamentos e sensores bastante modernos, também indicados pela AP.
A pesquisa envolveu duas zonas de manejo, chamadas de Z1 e Z2, que se diferenciam entre si por conta dos atributos químicos e físico-hídricos do solo, aspectos produtivos e quantitativos e qualitativos das uvas. Na Z2, nos dois anos analisados, as uvas tiveram maiores número de cachos, massa total por planta e a massa média de cachos, sólidos solúveis, pH, antocianinas (pigmentos vegetais responsáveis pela cor do vinho) e compostos fenólicos (que conferem adstringência, coloração, sabor e aroma) nas sementes. Por outro lado, na Z1 os compostos fenólicos nas cascas foram maiores.
Além disso, em 2021 os vinhos fabricados a partir das uvas da Z1 apresentaram maior teor de álcool e açúcar, além de maior pH e tonalidade, enquanto os vinhos produzidos com uvas da Z2 demonstraram maior concentração de antocianinas, maior índice de polifenóis totais, substâncias estas que influenciam no sabor e na cor do vinho, além de resultar em um vinho mais intenso e saudável.
A partir desses resultados, o produtor tem condições de fazer os ajustes necessários para alcançar resultados cada vez melhores e mais lucrativos, algo proporcionado pela Agricultura de Precisão. “As informações são estratégicas para a vitivinicultura de precisão e para o manejo de vinhedos, porque a partir delas o viticultor pode tomar decisões quanto à condução diferenciada de práticas agrícolas utilizadas no cultivo de uvas. Uma delas é a colheita seletiva”, destaca o pesquisador da Embrapa, Luís Henrique Bassoi, responsável por orientar a pesquisa, que foi conduzida pela engenheira agrônoma Larissa Godarelli Farinassi, da FCA Unesp.
De acordo com o diretor da vinícola Terras Altas, o engenheiro agrônomo Ricardo Baldo, a prática pode contribuir para que surjam diferentes tipos de vinhos. “Os resultados da pesquisa têm impacto direto na qualidade do vinho e pode, sem dúvida, contribuir para o aumento da qualidade do produto nacional”, ressalta.
Baldo lembra ainda que a AP proporciona excelentes resultados não apenas para os produtores, mas também para os consumidores. “Utilizamos os resultados dos estudos em nossos vinhedos, a colheita seletiva de determinadas áreas dos vinhedos já se tornou uma realidade. Os ganhos de qualidade já são percebidos lá no campo e se encerrará na taça do nosso consumidor”, enfatiza.
O diretor da vinícola Terras Altas, o engenheiro agrônomo Ricardo Baldo, considera muito positiva a experiência com a Agricultura de Precisão. “Conhecer a fundo as características de cada vinhedo e delinear as áreas de melhor produção em relação à qualidade do fruto nos faz trabalhar com colheitas mais seletivas privilegiando o tipo de uva mais adequado para cada perfil de vinho a ser produzido”, completa.
Imagem: Canal Rural
Nova pesquisa
Também está sendo realizado uma pesquisa na vinícola Casa Verrone, em Itobi (SP), com o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O objetivo é utilizar a Agricultura de Precisão para alcançar resultados cada vez melhores no que se refere à produção.
Com isso, é possível, por exemplo, definir os setores adequados para receber a instalação de um sistema de irrigação por gotejamento e uma lâmina de água variada, caso necessário.
“A vitivinicultura de precisão é essencial quando pensamos na elaboração de vinhos finos de melhor qualidade, pois o conhecimento das características das uvas em cada talhão permite que o enólogo elabore produtos diferenciados partir da colheita seletiva das uvas, trazendo maior valor agregado ao vinho”, disse a coordenadora do Programa Estadual de Pesquisa em Vitivinicultura da Epamig, Renata Vieira da Mota.
Segundo pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade de Campinas (Unicamp), mais de 70% do estado de São Paulo têm condições de produzir uvas, embora o potencial seja muito maior nas estações do outono e do inverno, períodos que oferecem condições climáticas favoráveis à maturação das uvas.
Conclusão
Embora seja uma realidade em muitos países há bastante tempo, somente nos últimos anos a Agricultura de Precisão passou a ter um espaço maior no Brasil, especialmente em relação à produção de culturas como soja, milho e café. No entanto, suas técnicas e tecnologias podem ser adaptadas para as mais diversas culturas, inclusive as uvas, como demonstra o trabalho desenvolvido pela vinícola Terras Altas, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
Os resultados alcançados no local têm sido excelentes e demonstram o quanto a AP é versátil e tem potencial para crescer cada vez mais no Brasil, sempre proporcionando aumento na produtividade e redução nos custos e nos impactos ambientais.
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