A produção de milho em solo brasileiro é ancestral: os primeiros registros são do período anterior à chegada dos portugueses ao Brasil. Segundo a historiadora Linda Perry, há registros de indígenas de diversas etnias – principalmente os guaranis – que tinham no grão a base de sua alimentação, principalmente cozido e como farinha. Desde então, o alimento faz parte dos hábitos alimentares dos brasileiros.
Foi somente nos anos 1960 que o grão passou a ser produzido em larga escala no Brasil. Como uma cultura que começou tímida – cerca de 4 toneladas por hectare – o cultivo de milho em solo brasileiro cresceu, se aprimorou e hoje o país é o 3º no ranking mundial de produção do grão. Além disso, a cultura, cuja planta é originária das Américas, é atualmente uma das mais importantes do cenário agrícola mundial.
Características da cadeia produtiva do milho no Brasil
A cultura do milho é extremamente adaptável, tanto que, no Brasil, o grão é cultivado em todas as regiões do país. A produção também é maleável, pois apresenta diferentes resultados de acordo com as variações climáticas de cada região. No Sul, Sudeste, Centro e Centro Oeste, a primeira safra ocorre com a semeadura no período de primavera/verão. Já no Norte e no Nordeste brasileiro, a concentração de chuvas no mês de janeiro faz deste o período ideal para semeadura, chamado de segunda safra. No Centro Sul brasileiro, a semeadura só se inicia após a colheita da soja, no período do verão/outono.
Os solos mais adequados para o plantio do milho são aqueles com bom desenvolvimento da estrutura granular, soltos e com boa drenagem. Solos encharcados prejudicam o desenvolvimento da planta, bem como solos muito ácidos. Por isso, o ideal são solos de textura francosa, com 25 a 35% de argila.
Ainda que o milho se desenvolva bem em todo território brasileiro, é preciso observar as peculiaridades das cultivares disponíveis no mercado. Só no Brasil são cerca de 200, que variam em ciclo produtivo, tipo de grão, resposta à doenças, qualidade do colmo, entre outros.
As cultivares disponíveis podem ser classificadas em dois grupos principais:
- Cultivar variedade: são sementes melhoradas, com menor custo, mas que exigem mais cuidado na lavoura. Os plantios dessas cultivares podem ser feitos de formas subsequentes por até quatros anos, com garantia de potencial produtivo. Essas cultivares são recomendadas para os produtores que utilizam baixa tecnologia;
- Cultivar híbridas: essas sementes podem ser usadas em apenas um plantio, ou seja, é preciso adquiri-las anualmente. Isso porque, quando se utiliza as cultivares por mais de um ciclo, há redução de 15% a 40% do potencial produtivo;
Há ainda uma grande variedade de híbridos e, por essa razão, uma segunda classificação das cultivares brasileiras se faz necessária. São, portanto, os grandes grupos de cultivares híbridas:
- Híbridos simples: são os mais produtivos, com plantas e espigas uniformes e, por isso, são os mais caros entre os disponíveis no mercado
- Híbridos duplos: nesse caso, há grande variação de plantas e espigas e, por isso, têm menor preço no mercado. O potencial produtivo é menor se comparado aos híbridos simples e triplos
- Híbridos triplos: essas cultivares também apresentam uniformidade de plantas e espigas, com potencial produtivo intermediário. Por essa razão, o preço também é menor que dos simples e um pouco mais elevado que dos duplos
Vale ressaltar que no mercado brasileiro 31,2% das cultivares são híbridos simples, 36,1% híbridos triplos, 23,3% híbridos duplos e somente 7,9% de variedades, mostrando a aptidão do produtor brasileiro para investir um pouco mais em nome de uma melhor produtividade.
Quanto à duração do ciclo da cadeia produtiva de milho no Brasil, há grande variação de acordo com a cultivar, condições climáticas e manejo. Entretanto, é possível classificar o ciclo produtivo em três grupos temporais principais:
- Superprecoce: ciclo com duração de 120, com florescimento em 60 dias. 25% das cultivares do mercado são de ciclo superprecoce
- Precoce: 55 a 65% das cultivares são de ciclo precoce, com duração de 120 a 130 dias e florescimento aos 65 dias
- Normais: ciclos de 130 a 145 dias, com florescimento aos 70 dias. 10 a 15% das cultivares de milho do mercado são de ciclo normal
Quanto às doenças que acometem as culturas de milho, de acordo com a EMBRA, enfezamento representa 100%, ferrugem 80%, mosaico comum 50% e rajado fino 30%.
Por essa razão, os principais pontos observados pelos produtores brasileiros ao escolher uma cultivar são a qualidade do colmo, o comportamento em relação às doenças, o objetivo da produção, a textura do grão e a duração do ciclo produtivo.
Observadas essas particularidades, se destacam os seguintes estados brasileiros na produção de milho, respectivamente:
- Mato Grosso
- Paraná
- Goiás
- Mato Grosso do Sul
- Minas Gerais
Os cinco estados, juntos, são responsáveis por 76% da safra nacional de milho, especialmente graças ao crescimento da representação brasileira no mercado nacional e internacional. Além disso, o avanço acentuado do milho na segunda e na terceira safras permitiu melhor posicionamento dos produtores de outros estados, como Sergipe, Alagoas e Bahia, com grãos de alta qualidade e bom posicionamento geográfico para exportações.
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Como o Brasil se tornou uma potência na produção de milho?
Em 2020, o Brasil produziu cerca de 6% de todo milho consumido no mundo todo, se tornando o terceiro maior produtor do grão. A posição se manteve em 2021 e a expectativa é que o crescimento se mantenha em 2022.
De acordo com o Cepea, nas safras de milho 2021/22, a estimativa é de crescimento, atingindo produção e exportação recordes. A expectativa é que o aumento seja de 34% em volume produzido, especialmente pelo posicionamento dos produtores no mercado internacional. Países como Irã, Japão, Egito e Espanha já figuram como grandes parceiros.
Por essa razão, até a safra de 2030/31, espera-se um aumento de 218% do volume exportado, o que deve levar o Brasil ao segundo lugar no ranking de maiores produtores de milho, atrás apenas dos Estados Unidos.
Esse crescimento só é possível graças ao investimento dos produtores em tecnologia. O uso de cultivares de qualidade, a redução da duração do ciclo produtivo, um bom uso do solo e o constante investimento em pesquisa permitem ao Brasil almejar cada vez mais representatividade no mercado mundial de produção e exportação de milho.
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