Plantio em regiões extremas

Plantio em regiões extremas

O plantio em regiões extremas é bem mais difícil, mas é plenamente possível, desde que as tecnologias certas sejam adotadas para captar água ou controlar a temperatura do ambiente.

Alimentar uma população que será de 9,7 bilhões de pessoas em 2050 será um grande desafio. Esse cenário preocupa autoridades e a população mundial, exigindo o plantio de alimentos suficientes para atender a demanda.

Apesar do desenvolvimento de modernas tecnologias, o índice de produtividade da terra entre a segunda metade do século 20 e as primeiras décadas do século 21 não cresceu o suficiente, gerando preocupação mundial.

Dados do Banco Mundial mostram o tamanho dessa preocupação. Em 1960, a proporção de terras aráveis para o plantio era de 38 hectares por pessoa, com uma população de 3 bilhões. Em 2019, com uma população que gira em torno de 7,6 bilhões, a proporção caiu para 19,6 hectares por pessoa.

Neste cenário, além de promover um ganho em produtividade ainda maior, há a necessidade de criar tecnologias que permitam o plantio em regiões menos produtivas e em solos menos ricos do ponto de vista nutricional.

Isso é plenamente possível e serão desenvolvidas tecnologias para tal, mas e em regiões extremas, como desertos e áreas extremamente frias próximas aos polos – é possível realizar o plantio de alimentos para ajudar a alimentar a população mundial?

Com base nessa dúvida, elaboramos este artigo. Nele mostraremos qual é a possibilidade de plantio em regiões extremas do mundo, além do que pode ser plantado nessas condições.

Temos muitas áreas agricultáveis, mas temos também deserto e áreas muito frias

Relatórios recentes indicam que o mundo possui cerca de 1,87 bilhões de hectares de terras cultivadas no mundo.

O mesmo relatório indica que a Índia ocupa o primeiro lugar, com 179,8 Mha (9,6% da área global de terras cultivadas). Em segundo lugar desta lista estão os Estados Unidos com 167,8 Mha (8,9%), a China com 165,2 Mha (8,8%) e a Rússia com 155,8 Mha (8,3%).

Interessante salientar também que, apesar de ser o quinto país que mais utiliza terras agricultáveis no mundo, o Brasil apresenta a maior área de expansão de áreas agrícolas, concentrando a maior parcela das áreas agricultáveis ainda não utilizadas.

O mapa abaixo indica quais são as áreas com características agricultáveis em todo o mundo.

áreas agricultáveis do mundo
Mapa com as áreas agricultáveis do mundo. Fonte: USGS

No entanto, uma segunda olhada do mapa acima permite visualizar também áreas desérticas e cobertas com neve, ou seja, com condições extremas, que em um primeiro momento são consideradas não agricultáveis.

Por que temos desertos e áreas extremamente frias?

Para entender melhor a presença de áreas de deserto e de áreas muito frias, precisamos entender como se dá a divisão do planeta Terra. Nosso planeta é dividido em zonas e o posicionamento perante ao sol são causadores de características climáticas.

O resultado dessas divisões são as áreas equatoriais que recebem uma grande quantidade de sol, em decorrente disso são mais quentes. O ar úmido de altas temperaturas sobe e forma nebulosidades de chuva, dando origem a Zona de Convergência Intertropical.

Já os polos são muito mais frios, pois a incidência de sol nestas regiões da Terra é muito baixa. A luz solar incidente nos polos ocorre de forma inclinada, então a energia tem que se espalhar mais e esquenta pouco.

Mas além destas duas regiões com climas extremos (desertos e polos), onde o plantio comercial de alimentos é praticamente impossível, há outras regiões com características desérticas ou muito frias que podem sim contribuir com a produção de alimentos, como veremos a seguir.

Existe agricultura no deserto?

Os desertos são regiões com climas e solos muito desafiadores. Temperaturas elevadas, noites extremamente frias e solos quase 100% arenosos são apenas algumas características destas regiões.

Mas engana-se quem acha que é impossível promover o plantio de alimentos. Não é miragem, mas a imagem abaixo é uma lavoura cultivada na Arábia Saudita, que detém apenas 1,5% de sua área de terra arável.

Plantio em regiões extremas
Plantio de alimentos na Arábia Saudita. Fonte: MDIG

O sucesso da produção saudita de alimentos é uma das grandes conquistas deste país desértico. Na região, grandes áreas do deserto foram transformadas em excelentes campos agrícolas com alta produtividade.

Este verdadeiro oásis agrícola no deserto é decorrente do amplo uso da tecnologia, especialmente quando observamos que esse país tem uma média pluviométrica de apenas 100 milímetros por ano.

A Arábia Saudita mostra que, nas últimas três décadas, engenheiros e produtores têm aproveitado reservas de água ocultas para plantar grãos, frutas e legumes no deserto. Na busca por água, os árabes alcançaram fontes subterrâneas escavando poços através da rocha sedimentar, chegando a escavar um quilômetro abaixo da areia do deserto.

Com isso, a Arábia Saudita é um potencial exportador de trigo, tâmaras, laticínios, ovos, peixes, aves, frutas, vegetais e flores para mercados em todo o mundo.

Outra grande fonte de água é o mar, com o país dispondo de tecnologia de ponta para realizar o processo da dessalinização (processo que produz água potável a partir da água salobra do mar).

A agricultura de precisão também possibilita o plantio no deserto

Com características semelhantes de solo e clima a Arábia Saudita (região árida e com grande escassez de água), Israel também recorreu à tecnologia para promover o plantio em seu território.

Em poucos meses, o país se tornou referência em agricultura de precisão e líder mundial em agricultura com condições áridas. O investimento em inovação criada a partir da necessidade é referência mundial.

Por não ser possível depender exclusivamente da água das chuvas, os israelenses desenvolveram avançadas tecnologias de dessalinização da água para consumo da população. E, para a agricultura, é destinada apenas água reutilizada: 91% do esgoto é coletado e tratado, sendo 75% recuperado para a irrigação.

Com isso, o país rapidamente se tornou referência em sementes híbridas, que apresentam alta durabilidade. Estas sementes são resistentes a doenças e adequadas a variações climáticas presentes na região. Pela qualidade, elas são também exportadas para plantio em outras regiões.

Segundo a embaixada de Israel no Brasil, cerca de 40% das estufas europeias já utilizam sementes israelenses como: a melancia sem semente, a abóbora resistente a doenças, a abobrinha amarela e o famoso tomate-cereja.

Portanto, desde que bem utilizada, a tecnologia é uma grande aliada da produção em áreas desérticas. Inclusive, tais tecnologias podem ser transferidas e adaptadas para a região semiárida brasileira, que mesmo não sendo consideradas zonas desérticas, apresenta características semelhantes.

E no frio? É possível promover o plantio para produção de alimentos?

Vimos até aqui, que o uso da tecnologia correta permite a promoção do plantio em regiões desérticas e em regiões extremamente frias? A agricultura é uma possibilidade?

De forma geral, o clima frio é fundamental na agricultura, principalmente no plantio das culturas de inverno. Aveia, cevada e o trigo, por exemplo, toleram temperaturas mais baixas e se recuperam mais rápido da queima superficial.

O frio, quando associado a um clima seco e com bastante sol impede também a propagação de doenças fúngicas, como por exemplo: manchas foliares, oídio e ferrugem.

Mas, e no frio extremo, como o que ocorre nas regiões do polo norte ou polo sul. É possível produzir alimentos?

Bom, naturalmente da forma tradicional é impossível plantar, afinal o solo é coberto de neve. Mas em estufas com temperatura e umidades controladas isso é plenamente possível. Há inclusive diversos projetos que são desenvolvidos nestas regiões com climas extremos, baseados no plantio em fazendas verticais.

Essas “fazendas” são caracterizadas como estufas de alta tecnologia que permitirão colher produtos no frio extremo. Nas estufas o alimento cresce em bandejas ou módulos pendurados sob LEDs que substituem a luz solar natural.

Fazenda vertical
Fonte: Adobe Stock

Assim, uma vez que a fazenda tem seu clima controlado, ela pode cultivar o ano todo, até mesmo quando as temperaturas atingem -70º C. Afinal, dentro da estufa, a atmosfera é rica em dióxido de carbono e mantêm uma temperatura de 24º C.

Dessa forma, seja no deserto ou seja nos polos, há sim a possibilidade de promover o plantio de alimentos. Para isso, são desenvolvidas tecnologias para oferecer água, luz e dióxido de carbono para que as plantas possam crescer e se desenvolver.

Referências

Canal Rural

Farm News

Unemat

Canal Rural

Sempre Nova

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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