A cultura da soja é de grande importância nacional, mas pragas e doenças vem sendo limitantes para alcançar altas produtividades. Os nematoides são um desses fatores, atacando silenciosamente a cultura e causando grandes perdas. Nesse artigo mostraremos quais as principais espécies de fitonematoides na cultura da soja.
A soja (Glycines Max) é hoje a principal commodity nacional. Seu cultivo no Brasil começou na década de 40 no Rio Grande do Sul e em meados de 1970 se expandiu para diversas regiões do país.
Atualmente é a cultura agrícola de maior importância no Brasil, cultivada em todo o território nacional. Na safra 2019/20 a produção de soja foi de 124,845 milhões de toneladas, tornando o Brasil o maior produtor mundial do grão, sendo o Mato Grosso o maior estado produtor, seguido por Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás.
O crescente aumento na produção veio acompanhada pelo aumento na ocorrência de pragas e doenças, que limitam as altas produtividades. Uma dos grandes problemas fitossanitários são os fitonematóides que têm gerado preocupações para os produtores, causando perdas e se tornando cada vez mais recorrentes.
Existem mais de 100 espécies, em cerca de 50 gêneros, associadas à cultura da soja em todo o mundo. Porém, no Brasil, os mais prejudiciais à cultura são os formadores de galhas (Meloidogyne spp.), o de cisto (Heterodera glycines), o das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o reniforme (Rotylenchulus reniformis).
Nematóides de galhas (Meloidogyne spp.)
As espécies do gênero Meloidogyne são tidos como as mais importantes, apresentando ampla distribuição geográfica e enorme gama de hospedeiros, causando grandes danos às culturas.
Na cultura da soja as espécies Meloidogyne incognita e M. javanica são as de maior importância. A ocorrência de M. javanica é de forma generalizada, enquanto M. incognita ocorre principalmente em áreas cultivadas anteriormente com café ou algodão.
O principal sintoma é o engrossamento provocado nas raízes das plantas infectadas, denominadas galhas. Estas estão presentes em números e tamanhos variados, dependendo da suscetibilidade da cultivar e da densidade populacional do nematoide no solo.
Esse engrossamento das paredes celulares nas raízes promove a baixa eficiência na absorção e translocação de água e nutrientes.
Dentro das galhas estão localizadas as fêmeas, de coloração branco-perola e formato de pêra.
Já na parte aérea os sintomas são vistos em reboleiras, apresentando plantas pequenas e amareladas. As folhas possuem manchas cloróticas ou necroses entre as nervuras, caracterizando a folha “carrijó”. Ocorrem também abortamento das vagens e amadurecimento prematuro das plantas.
Quando ocorrem veranicos na fase de enchimento de grãos os danos podem ser ainda maiores.
Outros sintomas observados com frequência são murcha nas horas mais quentes do dia, declínio, queda das folhas e sintomas de deficiência nutricional.
Nematóide de Cisto da Soja (Heterodera glycines)
O nematoide de cisto da soja (NCS) foi encontrado na safra de 1991/92 no Brasil e desde então tem causado grandes perdas na produção nacional.
O H. glycines penetra nas raízes da planta de soja e limita a absorção de água e nutrientes. Isso resulta em clorose nas folhas e redução no porte da planta, ficando conhecida como nanismo amarelo da soja.
Como resposta há uma deficiência nutricional (nitrogênio), redução na nodulação por Bradyrhizobium e queda na produção de vagens. Também pode ocorrer morte prematura de plantas em altas infestações.
Os sintomas de parte aérea também ocorrem em reboleiras, geralmente próximo de estradas ou carreadores. Entretanto, em regiões com solos mais férteis e boa distribuição de chuva, esses sintomas podem não ser visíveis.
Sendo assim o mais indicado é observar o sistema radicular, que 30-40 dias após o plantio da soja já apresenta redução nas raízes e a presença das fêmeas.
As fêmeas possuem formato de limão com coloração branca. Com o passar do tempo, a coloração passa para amarelo, marrom claro e, com a morte da fêmea, a coloração se torna marrom escura e o corpo bem rígido, quando denominamos cistos.
Os cistos conseguem se desprender das raízes facilmente e ir para o solo. Cada cisto contém, em média, 200 ovos, sendo uma estrutura muito eficiente de disseminação e sobrevivência.
Nematóide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus)
O nematóide das lesões radiculares (P. brachyurus) é um dos mais importantes e disseminados no Brasil. Sua ampla distribuição geográfica, alto grau de polifagia e ação patogênica em culturas agronômicas anuais e perenes podem causar grandes danos.
Na sojicultura a ocorrência desse nematoide tem aumentado muito, juntamente com as perdas causadas. Isso se deu pelas mudanças ocorridas no sistema de produção, como plantio direto e irrigação, pela incorporação de áreas de solos arenosos (onde preferem sobreviver) e pela fácil dispersão.
Um dos principais sintomas são as raízes parcial ou totalmente escurecidas, pois durante a alimentação o nematóide injeta toxinas. As lesões deixadas nas raízes durante os ataques são porta de entrada para outros patógenos como fungos e bactérias. Como resultado temos podridões e necroses do sistema radicular, redução das radicelas e em muitos casos perda da raiz pivotante.
O que ocorre no sistema radicular é refletido na parte aérea, por estarem menos volumosas e desenvolvidas, a absorção e transporte de água e nutrientes é limitada. Plantas com nanismo, enfezamento, murcha nas horas mais quentes e desfolha podem ser observadas. Ocorre também em reboleiras, mas em muitos casos as plantas embora bem menores, ainda continuam verdes.
Mesmo tendo grande ocorrência nas áreas com cultivo de soja, por si só os danos de P. brachyurus não são severos. Porém, sob condições de solos arenosos, compactados e com deficiência hídrica, os danos tendem a ser expressivos mesmo em baixas populações.
Além da interação com fungos, principalmente Fusarium e Verticillium, que ocorre de forma sinérgica. Isso significa que a presença do nematoide associado ao fungo resulta em danos maiores do que a soma dos danos de cada um isolado.
Nematóide reniforme (Rotylenchulus reniformis)
Mesmo o algodão sendo a cultura mais afetada por R. reniformis, a cultura da soja tem tido problemas com esse nematoide desde o final da década de 90, principalmente no Mato Grosso do Sul.
O nome reniforme é pelo formato da fêmea madura que apresenta forma de rim. Elas produzem massas de ovos com 50 a 120 ovos sobre a superfície das radicelas.
Nas plantações de soja com presença de R. reniformis apresentam plantas com raízes pouco desenvolvidas e é possível observar, em alguns pontos das raízes, uma camada de terra aderida à massa de ovos.
As reboleiras não são típicas, apresentando uma grande extensão de plantas subdesenvolvidas e desuniformes. Pode ser de difícil percepção por se parecer muito com sintomas de deficiência nutricional ou de compactação do solo.
Diferente das outras espécies que ocorrem na soja, o nematoide reniforme não tem sua ocorrência limitada pela textura do solo, aparecendo tanto em solos argilosos quanto em arenosos. Quando em solos argilosos, geralmente é a espécie predominante de nematóides.
Controle de Nematóides em Soja
A melhor forma de controlar os nematóides na cultura da soja é com uso de medidas integradas, utilizando as alternativas disponíveis e não se restringindo a apenas uma forma de controle.
A primeira coisa a ser feita é a correta identificação dos nematóides que estão na área. Para isso, são enviadas para laboratórios especializados, amostras significativas de solo e raízes para a identificação e quantificação.
Leia mais:
- Como combater nematóides com crotalária?
- Nematóides na cultura da soja: Estratégias de gerenciamento
Com a correta identificação é possível implantar a rotação de cultura, que é uma das mais eficientes medidas de manejo. Para o nematóide das lesões radiculares o uso de crotalária é bem eficiente. Para o reniforme, a braquiária, nabo e sorgo forrageiro, aveia preta preta, milheto e capim pé de galinha são alternativas.
Para o nematóide do cisto da soja, culturas como arroz, algodão, sorgo, mamona, milho e girassol são recomendadas. E para o controle de nematoide das galhas algumas crotalárias, mucuna preta e cinza e nabo forrageiro são indicados.
O uso de variedades resistentes de soja a nematoides é uma medida adotada e também eficiente. Entretanto, algumas espécies como H. glycines, apresentam grande variabilidade genética, assim as plantas usadas continuamente perdem a efetividade. A solução é utilizar uma rotação que inclua também uma planta não hospedeira e uma variedade de soja suscetível.
O uso de nematicidas tem sido também utilizado, apresentando resultados positivos principalmente no tratamento de sementes. É possível verificar no site do Agrofit (MAPA) quais são os nematicidas registrados para a cultura da soja e quais as espécies controladas por eles.
Para evitar a disseminação para áreas não infestadas, medidas simples como a correta lavagem dos equipamentos após a utilização e o controle de tráfego na lavoura devem ser adotadas.
Conclusão
Foi apresentado neste artigo as principais espécies de nematoides que atacam a cultura da soja, mostrando seus sintomas e como realizar o melhor manejo.
Perceber e entender os sintomas o quanto antes, realizar a correta identificação e seguir o manejo integrado são as melhores formas para reduzir as perdas por nematóides.
Dessa forma, esperamos que você consiga evitar que a presença de nematoides na sua área afete a sua produção, alcançando então boas produtividades.
Se gostou do artigo e conseguiu aprender um pouco mais sobre o assunto, deixe sua curtida. Se ficou com alguma dúvida ou tem algo a acrescentar, deixe um comentário.
Referências
AGROPÓS: https://agropos.com.br/nematoides-da-soja/
DIAS, W. P. et al. Nematóides em soja: identificação e controle. Embrapa Soja-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2010. Link: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPSO-2010/30766/1/CT76-eletronica.pdf
GRIGOLLI, J. F. J.; ASMUS, G. L. Manejo de nematoides na cultura da soja. Embrapa Agropecuária Oeste-Capítulo em livro científico (ALICE), 2014. Link: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/102098/1/cap.-9.pdf
Levantamento EMBRAPA: https://www.embrapa.br/soja/cultivos/soja1/dados-economicos
PROMIP: https://www.promip.agr.br/nematoides-de-importancia-economica-na-cultura-da-soja/
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