Mercado de carbono, como o agricultor pode se aproveitar disso?

O mercado de carbono tem se destacado como ótima alternativa sustentável e ao mesmo tempo rentável em todo o mundo. Isso acentua o grande potencial da agricultura do Brasil. Veja o porquê!

Você já ouviu falar ou leu algo sobre o termo “Mercado de Carbono”? Certamente sim, afinal essa expressão está cada vez mais recorrente e se refere às iniciativas de comercialização de créditos de redução de emissão dos gases de efeito estufa, conhecidos como créditos de carbono.

O mercado de carbono surgiu a partir da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (UNFCCC, em inglês), durante a ECO-92, no Rio de Janeiro, sendo ratificado no ano de 1997, no Protocolo de Quioto. Na ocasião, ficou estabelecido que os países signatários deveriam limitar ou reduzir suas emissões de gases poluentes. Com isso, a redução das emissões passou a ter valor econômico. 

Mercado de carbono: Fonte – Notícia sustentável
Mercado de carbono: Fonte – Notícia sustentável

Contudo, foi apenas durante o Acordo de Paris, em 2015, que este mercado passou a ter mais força. Até então, apenas países desenvolvidos possuíam metas e podiam comercializar seus créditos. Com o acordo, o mercado passou a ser mais amplo, englobando 194 países.

O interessante nisso tudo é que a agricultura brasileira, diante da sua grande representatividade mundial, tem grande importância no mercado de carbono, principalmente porque o setor vem conseguindo atender o aumento da demanda de produção de forma bastante sustentada e produtiva.

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Assim, te convidamos a entender qual é o conceito relacionado ao mercado de carbono, além da participação e importância do agricultor neste cenário de produção agrícola sustentável com grandes perspectivas futuras.

Mercado de carbono: Entendendo seu conceito

Por definição, o Mercado de Carbono consiste na compra de créditos de carbono por países e negócios que não conseguirem atingir suas metas de redução de gases causadores do efeito estufa. Os vendedores são aqueles países que conseguiram reduzir suas emissões e por isso tem créditos para vender.

Nesse âmbito, um crédito de carbono corresponde a uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida para a atmosfera, que, por consequência, contribui para a diminuição do efeito estufa. 

Diversas são as maneiras de gerar créditos de carbono tais como a substituição de combustíveis em fábricas, substituindo combustíveis não renováveis por formas renováveis, que além de emitirem menos gases à atmosfera, contribuem para a diminuição do desmatamento.

Assim, a partir da diferença dos dois cenários, é calculado quanto de carbono deixou de ser emitido, gerando dessa forma os créditos.

Crédito de carbono: A moeda sustentável

O crédito de carbono é a moeda utilizada no mercado de carbono, funcionando como se fosse uma moeda ambiental. Nesse mercado, empresas que possuem um nível de emissão muito alto e poucas opções para a redução podem compensar suas emissões através da compra créditos de carbono. 

Assim, mesmo que indiretamente estas empresas ajudam a manutenção do projeto de redução das emissões, contribuindo para um desenvolvimento mais sustentável de algumas comunidades específicas, essencialmente as mais pobres.

Para melhor entendimento sobre este tipo de negócio vale observar o exemplo abaixo:

Imagine que determinada empresa X tenha emitido mais gás carbônico do que a sua cota permitida pela legislação. Outra empresa, a empresa Y, é mais bem-sucedida ambientalmente e por isso emite menos do que o seu limite. 

A diferença da empresa Y poderia ser comprada pela empresa X, na forma de créditos de carbono. Logo, apesar de ter emitido gases acima de seu limite, o excedente desta emissão foi compensado pela margem não emitida pela empresa Y.

Essa mesma lógica se aplica entre países, garantindo maior respeito aos valores acordados internacionalmente para suas emissões. Assim, através do mercado de carbono, há a garantia de que as emissões não ultrapassem um total pré-estabelecido a nível mundial.

Soluções para o mercado de carbono na agricultura brasileira

Para mitigar os gases poluentes na atmosfera, o mundo todo tem realizado inúmeros esforços para capturar esse carbono do ar. Contudo, esses esforços têm consumido bilhões e bilhões de dólares, além de exigirem sofisticados equipamentos.

Mas, no sistema de produção agrícola, a captura do carbono da atmosfera já ocorre de forma natural, em um ciclo ecológico normal, afinal as plantas já fazem esse processo através da fotossíntese. 

Mesmo assim, cabe ao produtor rural adotar estratégias e práticas agrícolas de baixo carbono para potencializar essa captura de gás carbônico do ar. Essas ações caracterizam-se por armazenar mais carbono no solo do que emitem de volta para o ar.

Hoje é sabido que, por meio de boas práticas de manejo, principalmente plantio direto e rotação de culturas, além de práticas que produzem mais alimento por hectare, existirá, naturalmente, maior nível de sequestro de carbono naquele solo.

No Brasil, o plantio direto já é responsável pelo sequestro de pelo menos 13 milhões de toneladas de CO2 ao ano: Fonte – Canal Rural - Criador: Ronaldo Ronan Rufino. Direitos autorais: © R.R.Rufino
No Brasil, o plantio direto já é responsável pelo sequestro de pelo menos 13 milhões de toneladas de CO2 ao ano: Fonte – Canal Rural – Criador: Ronaldo Ronan Rufino. Direitos autorais: © R.R.Rufino

Dessa forma, a agricultura pode (e deve) desempenhar um papel de importância na “descarbonização” da economia brasileira, seja pela produção de fontes renováveis de energia (como os biocombustíveis), seja pela redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), provenientes das atividades agropecuárias.

Agricultura de baixo carbono: Importante geradora de créditos de carbono

Por todas as características até aqui apresentadas é facilmente perceptível que o Mercado de Carbono pode significar uma grande oportunidade de atrair investimentos para o Brasil, essencialmente sua agricultura.

O objetivo da inclusão de todos os países signatários no comércio de créditos de carbono é incentivar que os países ricos e as grandes empresas destinem recursos para países em desenvolvimento, caso do Brasil, a fim de apoiá-los no desenvolvimento tecnológico necessário para a transição energética. 

Esse conceito pode ainda atrair investimentos para os setores de transporte, energia e principalmente a agricultura de baixo carbono brasileira.

Tal possibilidade de investimento vem de encontro com um estudo publicado pela revista Science que indica que no Brasil existem cerca de 50 milhões de hectares de áreas degradadas. O reflorestamento dessas áreas, tornando-as mais produtivas com sistemas agroflorestais poderão gerar créditos de carbono para o país.

Além dessas oportunidades de negócios sustentáveis e captação de investimentos, o Mercado de Carbono representa um processo que pode ajudar o país a controlar o desmatamento, restaurando a reputação do país em relação a alguns retrocessos ambientais e as recentes crises de repercussão internacional.

ILPF: Agricultura de baixo carbono mais utilizada no Brasil – Fonte: Embrapa
ILPF: Agricultura de baixo carbono mais utilizada no Brasil – Fonte: Embrapa

A partir disso, a agricultura brasileira tem um “pote de moedas de ouro” à disposição, permitindo com que ele entre nesse grande mercado de forma bastante promissora. Por possuir uma grande extensão de reserva florestal, o país é um potencial fornecedor de créditos de carbono, uma vez que países mais industrializados precisam neutralizar a poluição que geram.

O agricultor brasileiro ainda precisa conhecer o mercado de carbono

Além dos benefícios ambientais e produtivos, o agricultor brasileiro pode ter muitos outros benefícios ao adotar práticas conservacionistas de sequestro de carbono em sua área, inclusive econômicos.

A agricultura brasileira pode ser a grande beneficiada da popularização do mercado de carbono – Fonte: Bauer
A agricultura brasileira pode ser a grande beneficiada da popularização do mercado de carbono – Fonte: Bauer

O agricultor pode, por exemplo, atuar no mercado de carbono e ter uma renda extra com isso, desde que consiga provar sua capacidade de sequestro de carbono. Em 2019, este mercado movimentou cerca de US$ 210 bilhões em todo o mundo. A agricultura pode ter ao menos 10% desse mercado, que é aproximadamente o percentual das emissões do agro.

No entanto, mesmo estando em franca ascensão, o mercado de carbono ainda não é muito conhecido no Brasil, especialmente na agricultura nacional. Mas a tendência é, num futuro próximo, as grandes indústrias paguem grandes quantias aos produtores para que eles continuem (e até aumentem) fazendo o sequestro de carbono em suas propriedades.

Dessa forma, o mercado de carbono será praticamente uma bonificação aos produtores sustentáveis, premiando bons serviços de produtores preocupados com o meio ambiente e, naturalmente, garantindo a sua sobrevivência com maior qualidade no campo.

Assim, cabe ao agricultor ampliar seu pensamento e entender os reais impactos positivos de suas práticas conservacionistas, afinal ele não irá apenas sequestrar carbono, gerando renda extra vendendo créditos, como também irá preservar seu solo. Isso vai refletir na elevação da produtividade de forma sustentável. 

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Conclusão

Diante de um cenário com elevação da preocupação mundial com o meio ambiente, a sustentabilidade é um tema de grande relevância para as empresas. Por isso, cabe às empresas se posicionarem de uma forma que sejam mais engajadas com os valores de sustentabilidade.

Para isso, o mercado de carbono surge como uma excelente opção, onde países que não conseguem reduzir suas emissões poderão comprar créditos de países que têm esse potencial. Neste caso, a agricultura brasileira se configura como um mercado de grande potencial.

Por meio da adoção de práticas conservacionistas, o agricultor pode ser mais sustentável e eficiente, ganhando com isso uma espécie de bonificação. Conseguirá também tornar sua produção muito mais sustentável e de acordo com as exigências mundiais nesse quesito.

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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2 Comments

  1. Pedro Magalhaes Reply

    No artigo referenciado do Canal Rural sobre o pesquisador da Embrapa falando de PD, não cita as 13 milhões de Ton de CO2 colocadas no Blog

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