Ferrugem asiática no Brasil: História e estratégias de controle

A lavoura da soja é uma cultura que precisa combater diversas pragas e doenças. Dentre elas, a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, representa uma das doenças de maior importância na atualidade, principalmente devido ao seu grande potencial de perdas na produtividade.

Nas diversas regiões geográficas onde a ferrugem asiática já foi relatada em níveis epidêmicos, os danos são bastante variáveis, podendo ser de 10% a 90% da produção, que podem ocorrer em qualquer estádio fenológico da planta.

Porém, diferentemente de muitas outras doenças, a história da ferrugem asiática no Brasil é relativamente recente, sendo datada do ano de 2001, desde então vem gerando muita preocupação e apreensão nos produtores rurais em decorrência da sua grande dificuldade de manejo.

Ferrugem asiática no Brasil. Fonte: APROSOJA
Ferrugem asiática no Brasil. Fonte: APROSOJA

Assim, para evitar uma maior disseminação, manejar e controlar a ferrugem asiática, você primeiro deve conhecer sua história e suas características. Para saber mais sobre esse sério problema na agricultura brasileira, confira nosso artigo de hoje.

Histórico mundial da ferrugem asiática

Originária da Ásia, a ferrugem asiática foi relatada pela primeira vez no Japão, no ano de 1903. Três décadas depois foi constatada em outros países da Ásia e na Austrália em 1934, na Índia em 1951 e no Havaí em 1994.

No Continente Africano, a doença foi detectada a partir de 1996, atingindo a Zâmbia e o Zimbábue em 1998, a Nigéria em 1999, Moçambique em 2000 e a África do Sul em 2001.

Já na América do Sul essa doença surgiu em 2001, no Paraguai, e, em 2002, na Argentina. Em novembro de 2004, a ferrugem asiática foi encontrada em campos de soja nos Estados Unidos, o último grande país produtor de soja onde ainda não havia sido encontrada a doença.

No Brasil, o surgimento da doença é datado do ano de 2001 se deu no estado do Paraná, provavelmente com focos provindos do Paraguai. No estado paranaense, a ferrugem foi constatada em toda a região oeste (Foz do Iguaçu a Guaíra) e em Londrina. 

Nas três safras seguintes 80% das regiões de cultivo do Brasil já tinham sido acometidas pela doença.

O mapa apresentado abaixo e desenvolvido pela Embrapa apresenta as datas aproximadas de surgimento da ferrugem asiática em diversas regiões do planeta.

Mapa de ocorrência mundial da ferrugem asiática. Fonte: Embrapa
Mapa de ocorrência mundial da ferrugem asiática. Fonte: Embrapa

Após o surgimento, a doença rapidamente se alastrou por todo o Brasil

Desde que surgiu no Paraná, em 2001, a ferrugem asiática apresentou rápida disseminação, se fazendo presente em todas as regiões produtoras do Brasil logo nas três safras seguintes, com 80% das regiões de cultivo do Brasil já tendo sido acometidas pela doença.

Porém, logo no seu início, especificamente no oeste do Paraná, a doença não foi observada na safra de verão, porém, foi severa em áreas de “safrinha” da cultivar MG/BR-46 (Conquista). 

Na época, a doença não tinha sido identificada durante a safra de verão, provavelmente pela semelhança dos sintomas da ferrugem com as doenças de final de ciclo, caso da mancha parda e o crestamento foliar de Cercospora.

Independentemente disso, logo na safra seguinte a doença rapidamente se alastrou, sendo relatada nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. 

Na safra 2003/04 a doença já era apresentada de forma generalizada, sendo encontrada em quase todo o País, causando prejuízos consideráveis em várias regiões produtoras do país.

Assim, segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com exceção de Roraima, todos os Estados que possuem cultivo de soja já foram atingidos pela doença, em uma área que envolve cerca de 22 milhões de hectares. 

No sul do Brasil, epidemias mais severas dessa doença têm sido esporádicas, porém vem sendo detectada cada vez mais cedo durante a safra.

Parte dessa redução é decorrente das ações de produtores, governos e entidades de pesquisa. Estes são responsáveis pela significativa redução de casos de ferrugem asiática em lavouras de soja no Brasil.

Essa redução é observada pelo acompanhamento das lavouras de soja realizado pelo Consórcio Antiferrugem, que conta com aproximadamente 100 laboratórios cadastrados em todo o Brasil, capacitados para identificar a ferrugem asiática da soja no país.

Evolução de casos de ferrugem asiática no Brasil. Fonte: Consórcio Antiferrugem
Evolução de casos de ferrugem asiática no Brasil. Fonte: Consórcio Antiferrugem

Clima favorável levou a disseminação da doença no Brasil

A ferrugem asiática é uma doença que tem sido estudada no âmbito mundial há mais de trinta anos.  Estes estudos comprovaram que a severidade da doença se eleva em função das variações nas condições do ambiente, de ano para ano, estação para estação e de local para local.

Assim, a incidência da ferrugem asiática da soja é influenciada diretamente pela frequência das chuvas ao longo do ciclo e altas temperaturas. O fungo da ferrugem asiática tem a capacidade de causar problemas em uma faixa de temperatura que varia de 15°C a 28°C, com 6 a 12 horas de molhamento da superfície foliar. 

Diante destas condições, o patógeno da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) encontrou condições climáticas favoráveis para seu desenvolvimento no Brasil, o que justifica a rápida disseminação nas regiões produtoras de soja e a severidade com que a ferrugem vem ocorrendo em todo o País.

Nessas condições, a penetração do fungo ocorre de forma direta, sendo feita através da cutícula da folha. Após alguns dias já será possível identificar os sintomas da ferrugem, que se apresentam da seguinte forma:

  • Na parte superior das folhas são observados pequenos pontos de uma coloração mais escura que o tecido sadio;
  • Na parte inferior das folhas ocorrem as lesões chamadas urédias ou pústulas que apresentam coloração castanha a marrom;
  • Nas pústulas são formados os esporos que podem ser dispersos pelo ambiente e começar o ciclo novamente, com o fungo completando seu ciclo de vida em 6 a 9 dias, quando em condições favoráveis.
Sintomas da ferrugem asiática em planta de soja. Fonte: Bortoluzzi sementes. 
Sintomas da ferrugem asiática em planta de soja. Fonte: Bortoluzzi sementes

Com o progresso da doença, as folhas que apresentam alta densidade de lesões, ficam amareladas e caem, causando desfolha e afetando a produção na lavoura de forma bastante significativa.

Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja

Para fortalecer o sistema de produção da soja a partir do desenvolvimento de ações de controle e prevenção da ferrugem asiática no Brasil, foi criado no ano de 2007, por meio da instrução normativa nº 02 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS). 

O PNCFS visa ao fortalecimento do sistema de produção agrícola da soja no Brasil, congregando ações estratégicas de defesa sanitária vegetal com suporte da pesquisa agrícola e da assistência técnica na prevenção e controle da praga.

O programa institucionaliza o consórcio anti-ferrugem num contexto global, envolvendo todos os elos da cadeia produtiva da soja.

No dia 17 de maio de 2021, o MAPA publicou a Portaria nº 306, que revisa e atualiza os procedimentos previstos no Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS). A nova regulamentação passa a valer a partir de 1º de junho e entre as principais alterações está a instituição de um novo modelo de governança do programa de controle de pragas.

Com isso, as medidas fitossanitárias relativas aos períodos de vazio sanitário e do calendário de semeadura passarão a ser instituídas pela Secretaria de Defesa Agropecuária, considerando: 

  • Dados de pesquisa científica; 
  • Dados de monitoramento da praga na safra anterior; 
  • Resultados dos ensaios de eficiência de fungicidas; 
  • Zoneamento agrícola, entre outros

O vazio sanitário, definido como um período contínuo de pelo menos 90 dias durante o qual não se pode semear ou manter plantas vivas de uma espécie vegetal em uma determinada área, visa à redução do inóculo da doença.

Já o calendário de semeadura da soja é medida que visa a racionalização do número de aplicações de fungicidas e a consequente redução dos riscos de desenvolvimento de resistência do fungo causador da doença passa, com a nova portaria, a ser reconhecido oficialmente pelo Mapa, com adoção obrigatória em nível nacional.

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Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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