Dia Internacional da Mulher Rural: protagonismo e força feminina no agronegócio

Dia 15 de outubro é comemorado o Dia Internacional da Mulher Rural! A data foi criada pela ONU em 1995 com o intuito de elevar a consciência da importância da participação da mulher no campo, em todas as etapas da cadeia produtiva. Cada vez mais, elas ocupam papéis decisórios e de liderança no agronegócio e a expectativa é que esse número aumente consideravelmente nos próximos anos.

Neste artigo, você vai conhecer mais sobre o contexto da participação das mulheres no campo nos últimos anos, dentro e fora da porteira.

Uma história de desafios e conquistas

Um dos fatos que mais marcou as últimas décadas do século XX foi a inserção das mulheres no mercado de trabalho. O avanço da industrialização foi acompanhado por uma série de movimentos sociais que visavam exigir melhores condições de trabalho e, do ponto de vista cultural e social, o papel das mulheres foi central. Ainda que com um histórico de participação política recente – no Brasil, as mulheres só conquistaram o direito de votar em 1932, quase 100 anos depois da primeira eleição por votos diretos no país – mostraram sua força para lutar por melhores salários e contra as desigualdades de gênero dentro e fora do ambiente de trabalho. Mas ainda há muito a ser feito, especialmente em áreas ainda muito masculinizadas, como é o caso do setor agropecuário.

Mulher Rural
Fonte: Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio

Se considerarmos o período entre 2002 e 2015, a participação das mulheres no agro cresceu 3,86%, de acordo com dados do CEPEA. A partir daí, a tendência de presença feminina se manteve e hoje, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Boletim de Agricultura Familiar, são mais de um milhão de mulheres responsáveis por administrar empreendimentos agrícolas em todo Brasil.

De acordo com a 7ª Pesquisa de Perfil do Produtor Rural Brasileiro, realizada pela ABMRA em 2017, quando tratamos da presença feminina no agro em posições decisórias e cargos de gestão, o número de propriedades com mulheres em gerenciamento da operação saltou de 10 para 31%. Isso quer dizer que, até 2017, quase um terço das fazendas participantes da pesquisa tinham uma mulher à frente do negócio.

Mulher Rural
Fonte: Bayer

Quando o assunto é especialização, elas também saem na frente: uma em cada quatro mulheres possuem formação superior, frente a um em cada dos homens que buscaram se especializar. Em relação à conexão com a internet, independentemente da idade, 83% das mulheres entrevistadas afirmaram fazer uso de smartphone em sua rotina pessoal e profissional, enquanto apenas 69% dos homens declararam ter smartphone.

Já em um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostrou que, em onze anos, o crescimento das mulheres em cargos de liderança em empreendimentos do campo deu um impressionante salto de 44,2%. Ainda de acordo com esse estudo, 50% das mulheres estão envolvidas em atividades de pecuária e criação de animais, 11% na produção de culturas permanentes e 32% em atividades nas lavouras.

Dados sobre Mulher Rural

Em se tratando das regiões do Brasil nas quais a presença feminina é destaque no agronegócio, o Nordeste tem maior destaque. Segundo a pesquisa, 57% das atividades rurais são lideradas por mulheres, seguido pelo Sudeste, com 14%, pelo Norte, com 12% e, por fim, pelo Sul, com 11%.

Entretanto, um fato deve ser levado em consideração: até 2017, o Censo Agropecuário, promovido pelo IBGE, não levava em conta a necessidade de elaborar questões específicas para as entrevistadas mulheres. Nos antigos levantamentos, fatos como a influência das mulheres nos processos decisórios da safra, por exemplo, ou do apoio para fazer negócios funcionarem, foram ignorados. Isso porque, por ser uma área historicamente masculinizada, ao responder as pesquisas, os homens se colocavam como os principais gestores do negócio e as mulheres foram, por muitos anos, marginalizadas nas suas funções a ponto de praticamente não aparecerem nas pesquisas.

Crescendo e aparecendo: organizações femininas no agro

Um dos principais fatores responsáveis pelo crescimento da visibilidade feminina no agronegócio brasileiro nos últimos anos é a criação de organizações e agências voltadas especificamente para elas. É o caso, por exemplo, do Prêmio Mulheres do Agro, que já está na sua quinta edição. O objetivo da premiação é reconhecer a importância das mulheres como força motora no campo, estimulando, consequentemente, a participação das produtoras rurais, o interesse das mulheres mais jovens que estão em fase de especialização e, para além disso, fomentando programas que promovam a igualdade de gênero nesse setor tão importante para a economia brasileira.

Mulher Rural
Fonte: Canal Rural

Aqui, vale destacar que, segundo levantamento da ONU, as mulheres representam 43% dos trabalhadores rurais em todo mundo e, mesmo assim, ainda vivenciam o preconceito cotidianamente.

Outra organização que merece destaque é o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, promovido e apoiado por grandes marcas da indústria agropecuária brasileira e mundial, como a Bayer, Cargill, John Deere, UPL, Nutrien e muito mais. São mais de 50 empreendimentos envolvidos direta ou indiretamente com a organização do evento, cujo foco é promover espaços de formação e trocas para as mulheres do campo. Na primeira edição do evento, em 2016, participaram 600 congressistas e, em 2021, esse número chegou a 2500.

Existem outras iniciativas que merecem destaque, como a Agroligadas e a Agro Mulher, por exemplo, que buscam dar visibilidade para a presença feminina no campo e promover a participação das mulheres em espaços de formação e troca de conhecimento.

Mas ainda existem muitos desafios pelo caminho

Para quem vive o campo, é impossível negar a importância das mulheres no desenvolvimento dos negócios agropecuários brasileiros. De acordo com a 8ª Pesquisa de Perfil do Produtor Rural da ABMRA, um quarto das propriedades rurais têm mulheres envolvidas na tomada de decisões. Além disso, quando questionados sobre a importância da participação feminina, 49% dos entrevistados afirmaram ser “vital”, 45% declararam ser “muito importante”, 5% “importante” e apenas 1% considerou que a presença das mulheres é pouco importante.

Dados sobre Mulher Rural

Ainda assim, até os dias de hoje elas esbarram no preconceito em áreas historicamente consideradas masculinas, não só no agronegócio, como também na construção civil e na política, por exemplo. Mas isso não as impede de enfrentar os desafios e provar o quanto podem contribuir nesses setores.

Mesmo com todas as barreiras – 45% das mulheres entrevistadas afirmaram sofrer algum tipo de preconceito de gênero no ambiente de trabalho no campo – as expectativas delas para o futuro são elevadas. Para isso, contudo, é preciso fortalecer as iniciativas que valorizam o protagonismo feminino no agro, que reconheçam a importância das mulheres para a agropecuária brasileira e que incentivem o trabalho da mulher do campo por meio de boas condições de trabalho e salário competitivo e igual ao dos homens que ocupam o mesmo cargo. Mas, mais que isso, é urgente a criação e manutenção de um ambiente de trabalho seguro e que dê espaço para toda potência feminina do campo!

Leia também: Mulheres no agronegócio ganham cada vez mais espaço

Fontes:

G1

ABMRA – Mulheres são mais decisivas no agro

AMBRA – Mulheres têm papel cada vez mais importante no agro

Corteva

Agro Move

Cientista social, mestranda em Educação com pesquisa na área de Ideologia da Família. Apaixonada por antropologia, psicanálise, historiografia, literatura e música. Atua como Designer instrucional, produzindo materiais didáticos em diversas mídias, conteúdo para redes sociais e marketing (B2B e B2C), usando técnicas de UX e Copywriting. Longa experiência com revisão de textos - acadêmicos e para a web -, redação e produção de conteúdo educacional.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *