Você sabia que, sob certas circunstâncias, até a água da chuva e da irrigação pode provocar a degradação do solo? Ou que o uso indevido de equipamentos agrícolas compacta as áreas de plantio a ponto de impedir a absorção de água pelas raízes das plantas? Pois bem: embora seja a base de todos os processos agrícolas que o homem utiliza, o solo não é indestrutível. Ele precisa de cuidados.
Infelizmente, esses cuidados nem sempre estão presentes. De acordo com a segunda edição do relatório Global Land Outlook, publicado em 2022 pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (CNUCD), entre 20 e 40% do solo do planeta estão em processo de degradação (ou já degradados).
Pode não parecer, mas essa porcentagem acende um alerta – afinal, sem um solo saudável e cultivável, o futuro da produção agrícola e de toda a segurança alimentar da população mundial fica em xeque. A boa notícia é que existem inúmeras estratégias de conservação do substrato, muitas delas simples e fáceis de aplicar até mesmo por pequenos produtores.
O que leva à degradação do solo?
A degradação do solo é causada por diversos fatores, sendo eles de origem química, física ou biológica. A perda de matéria orgânica, o desequilíbrio em nutrientes, a acidificação excessiva, a erosão (uma das maiores inimigas da conservação, diga-se de passagem), a redução na capacidade de reter água e a aplicação exagerada de fertilizantes são apenas alguns dos exemplos mais comuns.
No entanto, talvez o maior agente degradador da atualidade seja a atividade agrícola humana. Não estamos falando daquela realizada com ética e sabedoria, como a que envolve técnicas da agricultura de precisão, e sim de práticas pouco pensadas e que, em longo prazo, levarão a resultados irreversíveis – e, se não houver transformação, talvez até ao esgotamento desse recurso que parece (mas não é) eterno.
E mais: a degradação pode afetar não só a fertilidade e a produtividade natural do solo. Ela também é capaz de gerar impactos na economia e, acima de tudo, na biodiversidade. Isso porque o solo é um verdadeiro ecossistema complexo, composto por organismos vivos que agem em sintonia para preservar recursos tão preciosos à sua vida – e, por consequência, à nossa.
Não faltam estratégias sustentáveis para conservar
Todos os fatores de degradação listados acima têm uma ou mais soluções aplicáveis no manejo do solo e de plantações. Conheça as principais, assim como os problemas que elas podem combater e os desafios que precisamos enfrentar na sua implementação:
- Rotação de culturas
Uma das técnicas mais conhecidas até mesmo por quem não está inserido no setor agrícola, a rotação de culturas consiste no hábito de alternar periodicamente as espécies de vegetais que são cultivadas em determinada área.
Um exemplo: um produtor pode alternar entre milho (cultura principal) e soja ou outras leguminosas (que ajudam a cobrir e proteger o solo). Assim, ele não apenas combate a proliferação de pragas e doenças, mas também diversifica e aumenta a produtividade e fortalece a estrutura do substrato, que fica mais capaz de reter a água e reduzir a erosão.
No que diz respeito a desafios, a rotação demanda um planejamento de plantio relativamente complexo – levando em consideração fatores como as necessidades específicas de cada cultura, o clima, a estação do ano e afins. De todo modo, existem sistemas que facilitam a elaboração de estratégias úteis e fáceis de acompanhar.
- Adubação verde
A adubação verde envolve o uso de plantas capazes de reciclar os nutrientes presentes no solo e na atmosfera, tornando a área de cultivo mais fértil e produtiva. O processo é simples: quando chegam a certo ponto em seu desenvolvimento, as plantas são cortadas, mas deixadas na área – onde se decompõem e liberam nutrientes (como nitrogênio) para as culturas que vêm a seguir.
Uma das vantagens dessa prática é que ela gera cobertura vegetal, contendo a erosão ao mesmo tempo que otimiza a distribuição de nutrientes. Quanto aos desafios, pode-se dizer que o mais relevante deles é semelhante ao da rotação de culturas: a manutenção das plantas, que têm demandas próprias e distintas em termos nutritivos e climáticos.
- Plantio direto
O conceito de plantio direto não é nada complicado: a prática consiste em semear culturas sem a necessidade de utilizar o arado, ferramenta que revira as camadas do solo – e, muitas vezes, gera compactação e prejudica a infiltração de água. Esse tipo de plantio “natural” também diminui o volume de fertilizantes que precisam ser aplicados.
O plantio direto tem uma relação próxima com a adubação verde, bem como contribui com a preservação da cobertura vegetal, reduz a erosão e não afeta micro-organismos benéficos que circulam pelo solo. Em termos de desafio, o principal aqui é que o plantio acaba tornando o ambiente mais propício para a proliferação de certas pragas e doenças.
- Plantio em nível
O plantio em nível leva em conta as características naturais do terreno durante a produção. Com ele, é possível preservar melhor a cobertura vegetal existente (e, mais uma vez, combater a erosão e outros fatores de degradação) através de estratégias de semeadura que respeitam os declives e inclinações da área.
Uma das principais vantagens desse tipo de plantio é o controle do escoamento de enxurradas, que não escorrem ladeira abaixo em grandes volumes e fortes impactos. Por outro lado, sua principal desvantagem está na limitação no espaço disponível para o plantio propriamente dito.
- Integração no manejo de pragas e doenças
A adoção de sistemas e práticas de manejo integrado de pragas e doenças é mais uma estratégia útil na conservação do solo. Essas técnicas reduzem a aplicação de agroquímicos, incentivam a rotação de culturas e até utilizam predadores naturais – tudo de acordo com a situação do terreno em questão.
Aqui, podemos citar o trabalho da FarmBox, nossa parceira aqui na Sensix: ela possui um sistema inteligente que realiza o monitoramento de pragas e doenças em áreas de plantio e, a partir disso, propõe soluções eficazes e precisas.[MW1] E a melhor parte de todo esse manejo integrado é que ele não tem desvantagens, já que um simples investimento em sistemas e práticas é suficiente para gerar resultados em conservação do solo.
Conservar hoje para colher amanhã
Quando se trata de conservação do solo, cabe a velha máxima de que “é melhor prevenir do que remediar”. Apesar de isso nem sempre ser possível – afinal, muitas práticas agrícolas tradicionais (seculares, inclusive) não consideravam de fato os impactos que causariam no futuro –, a importância de tomar medidas mais sustentáveis está em constante evidência… Mesmo quando o jeito é buscar formas de conter fenômenos como erosão, compactação e acidificação.
Seja com a rotação de culturas, a adubação verde, o plantio direto ou em nível ou o manejo integrado de pragas e doenças, não faltam alternativas que estão ao alcance das mãos de pequenos e grandes produtores. Isso sem contar as inúmeras outras técnicas que ficaram de fora da lista!
Para concluir: é essencial que todos entendam que conservar o solo é a única maneira de garantir não apenas uma produtividade sustentável por décadas à frente, mas também de preservar a segurança alimentar do homem e, como sempre reforçamos, dos recursos à nossa disposição.
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