O Sistema Antecipe, de cultivo antecipado, foi desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e parceiros para atender uma das principais premissas para o aumento de produtividade do sistema soja-milho safrinha no Brasil.
A safrinha é a prática de efetuar o plantio pós-safra principal, normalmente com condições climáticas em campo menos ideais em comparação à primeira safra. Dadas as condições menos propícias, as áreas com plantio de safrinha apresentam maior risco de quebra, mas ainda representam uma boa prática que possibilita o aumento da produção de grãos no nosso país. Diversas técnicas podem ser utilizadas para reduzir o risco e maximizar a rentabilidade do milho safrinha, como uma boa escolha do ciclo da variedade de primeira safra e boa previsibilidade de tempo para ser assertivo na janela de plantio. Por depender de condições climáticas específicas, a safrinha não é viável em todo o território nacional, mas já é responsável por 74% da produção de milho no Brasil, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em 2020. A safrinha é mais comum nas regiões do Centro-Oeste, Norte, Sudeste e no Paraná.
O Sistema Antecipe
O Sistema Antecipe é uma técnica de cultivo desenvolvida pela Embrapa onde há a possibilidade de, mecanicamente, realizar o plantio do milho safrinha entre as linhas da plantação de soja, com a leguminosa ainda em campo, a partir da fase de enchimento de grãos (R5). Nas operações de colheita da soja, o milho também será cortado e ficará apenas com um pequeno caule de cada planta. Como já está implantado em campo e suas raízes em bom desenvolvimento, o milho continuará a crescer e produzir.
Tendo essa possibilidade de trabalho, o produtor poderá antecipar em até 20 dias o plantio da safrinha e reduzir riscos com as adversidades climáticas em campo, gerando assim uma janela produtiva com boas condições climáticas e prováveis aumentos de produção e rentabilidade.
Parceria com a Jumil
O implemento utilizado para essa prática foi realizado em parceria entre a Embrapa e a empresa Jumil, um empresa voltada para trabalhos com implementos agrícolas e que auxiliou no desenvolvimento de uma semeadora-adubadora específica para o Sistema Antecipe. Trata-se de um implemento que detém a característica de realizar o plantio e adubação do milho na entrelinha com a soja, impedindo surgimento de danos mecânicos nas plantas, como amassamento pelos pneus do implemento ou outros que venham acarretar prejuízos à colheita da soja.
Além de operar na forma intercalar no sistema, o equipamento pode agir também nos processos de plantio convencionais. Na safra de 2020/2021 o equipamento tem passado por testes finais em fazendas selecionadas pelo projeto de pesquisa e a expectativa é que na safra de 2021/2022 se inicie a produção em maiores quantidades e então comercialização do implemento.
Longa jornada de pesquisa e desenvolvimento
Durante 13 anos o projeto esteve em desenvolvimento em testes a campo com o intuito de levar um tecnologia inovadora ao produtor rural, de forma a aumentar a produtividade das lavouras em um dos sistemas agrícolas que deram destaque ao Brasil no cenário global (sistema de duas safras). Em 2007, começaram as primeiras pesquisas sobre o cultivo intercalar pela Embrapa, realizada em parceria com a Basf, nesse primeiro momento sem a semeadora-adubadora. Os processos eram manuais, porém com resultados promissores. No ano de 2010, a Embrapa iniciou a construção do primeiro protótipo do implemento e em 2019, a Jumil se juntou à parceria para o aprimoramento do equipamento.
Vale ressaltar que o programa não visa substituir o cultivo do milho safrinha, e sim dar uma maior janela produtiva, aproveitando as condições climáticas da safra principal, aumentando os retornos da safrinha. O planejamento e conhecimento técnico são fundamentais para a maior eficácia do sistema em campo e para a implementação da safrinha propriamente dita.
O sucesso da instalação do sistema depende também do planejamento do produtor em relação à lavoura de soja, pois com a leguminosa implantada corretamente e adaptada para a implementação do milho entrelinhas, o projeto tem mais chances de ter sucesso.
No ato da semeadura, o produtor deve-se atentar aos ajustes em relação aos rodados do trator, sendo que, necessariamente deve haver os corretos manejos para que os dianteiros e traseiros andem na lavoura sem causar danos às plantas de soja. Os tratos culturais envoltos no plantio do milho não se fazem ausentes, sendo necessários os manejos semelhantes aos que são utilizados no plantio tradicional.
O aplicativo Antecipe
Visando um maior apoio técnico ao pequeno e médio produtor, um aplicativo está em fase final de desenvolvimento e dentro dele haverão noções técnicas sobre o desenvolvimento fenológico da soja com intuito de avaliar o melhor momento para a implantação do milho nos parâmetros do Sistema Antecipe. Também ficarão armazenadas informações sobre análises de solo da propriedade e históricos de adubações e tratos culturais na lavoura, sendo uma fonte de consulta frequente ao produtor.
Importância do Antecipe para o cultivo de milho no Brasil
A safrinha é atualmente uma grande fonte da produção de milho no país, responsável por cerca de 70% do total produzido deste grão no país. Atentar-se ao quadro climático é o fator mais importante para a satisfação do sistema da segunda safra.
Nesta safra, houve um considerável atraso no plantio de soja em praticamente todas as regiões do Brasil. Com um plantio tardio, há a possibilidade de que no período de colheita da soja ocorra chuvas em excesso ou até mesmo geada, fazendo com que haja atraso na implantação da safrinha. Segundo o pesquisador Emerson Borghi, da Embrapa Milho e Sorgo, com o Antecipe, além do ganho de 20 dias antecipados, o produtor pode adequar melhor a janela de plantio da soja em primeira safra e escolher cultivares de soja com ciclo mais tardio, que propiciam melhores potenciais produtivos e menor risco de produção.
Destaca-se alguns outros pontos positivos que o Antecipe pode trazer o produtor brasileiro:
- redução de químicos e derivados para a dessecação de plantas daninhas pós-emergência do milho;
- aumento do plantio do milho para regiões anteriormente limitadas pelo Zarc;
- aumento de confiabilidade na safrinha com maior estabilidade de produção.
E então caro leitor, você acredita que essa técnica pode ajudar as lavouras de grãos no Brasil a se tornarem mais rentáveis? Responde para a gente nos comentários e fique ligado para mais artigos sobre o agro.
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Referências
E-book “Antecipe: cultivo intercalado antecipado” – por Embrapa Milho e Sorgo. Link: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1126609/antecipe-cultivo-intercalar-antecipado
Muito interessante o artigo, parabéns ao Blog Sensix, esse sistema monstra o quão importante é a pesquisa no campo, a fim de trazer mais produtividade !!
Artigo muito bom! Super informativo
Parabéns pelo trabalho, ótimo artigo!!