Não é segredo que um dos principais desafios que o setor agrícola enfrenta é a limitação na disponibilidade de recursos, como água e terras aráveis. Nesse sentido, a agricultura vertical foi pensada como uma possível solução para a crescente escassez de lugares onde é possível cultivar – e, assim, continuar suprindo a demanda por alimentos cada vez maior no mundo.
Mas, afinal, o que é a agricultura vertical? Em poucas palavras, é uma prática de cultivo em camadas (as fazendas verticais), o que reduz consideravelmente a necessidade de grandes espaços e, de quebra, cria possibilidades de plantio em ambientes urbanos e com condições controláveis.
Tendo sido idealizadas no fim dos anos 1990 pelo biólogo norte-americano Dickson Despommier, as fazendas verticais vêm se popularizando nas duas últimas décadas. Neste artigo, queremos falar sobre suas vantagens, seus benefícios e os desafios implicados na prática. Vamos lá?
Como funciona as fazendas verticais?
O conceito de fazenda vertical é relativamente simples de entender: trata-se de espaços compostos por estufas, prateleiras, contêineres e outras estruturas verticalizadas onde são produzidos os alimentos, muitas vezes através de técnicas como hidroponia, aeroponia e afins.
Com iluminação, água, temperatura e nutrientes controlados por meio de sistemas automatizados, a colheita acontece normalmente – mas, é claro, sem envolver grandes extensões de terra horizontal. A melhor parte é que as fazendas podem (e, no geral, ocupam) espaços urbanos.
As fazendas verticais são compostas por diversas estruturas que ocupam um espaço limitado, muitas vezes em centros urbanos. Imagem: Reprodução/Imagem de pressfoto no Freepik
As vantagens e os benefícios da agricultura vertical
A agricultura vertical oferece uma série de vantagens e benefícios, apesar de também impor alguns desafios – dos quais falamos mais adiante. Por enquanto, veja alguns dos seus principais pontos positivos:
Uso eficiente de recursos
Como as fazendas verticais são ambientes fechados e controlados, fica muito mais fácil gerenciar o uso de recursos como iluminação, água, temperatura e distribuição de nutrientes. Isso reduz consideravelmente o desperdício, além de evitar certos empecilhos como condições climáticas desfavoráveis (como aconteceria em uma plantação tradicional, por exemplo).
Consistência na produção
Pegando um gancho com o fato de que as fazendas verticais são ambientes fechados, outra vantagem desse tipo de agricultura é que a produção como um todo é muito mais consistente. Pense: como os produtores não precisam se preocupar o tempo todo com intempéries – já que conseguem controlar tudo –, a produção fica muito mais estável em termos não apenas de quantidade e periodicidade, mas também de qualidade.
Redução de gastos
Outro dos grandes atrativos para a adoção da agricultura vertical está na redução dos gastos em relação a espaço, transporte da colheita e (mais uma vez) uso de recursos. Devido à verticalização da plantação, não é mais necessário preparar grandes terras – o que incorreria inúmeras despesas adicionais, inclusive em tecnologia e equipamentos.
Além disso, com o uso de técnicas como a hidroponia (em que a água substitui o substrato no transporte de nutrientes às plantas) e aeroponia (na qual as plantas ficam “suspensas” no ar, recebendo nutrientes através da pulverização manual ou automática), há um gasto muito menor com insumos e irrigação.
Benefícios ambientais e sociais
As fazendas vertical também trazem benefícios para o meio ambiente e, por consequência, o ser humano. Todos sabemos que a agricultura tradicional, mesmo quando feita de forma ética e responsável, gera impactos ambientais difíceis ou impossíveis de reverter – a exemplo da perda de biodiversidade e do empobrecimento do solo.
Como as fazendas verticais podem estar presentes até em ambientes urbanos, cria-se uma oportunidade para ao menos tentar diminuir esse impacto. No devido tempo, é possível até que as terras de cultivo voltem ao estado em que se encontravam antes da interferência humana para agricultura.
Outra oportunidade criada pela agricultura vertical está na possibilidade de as cidades onde ela é praticada crescerem cada vez mais com o impulso desse modelo de produção sustentável. Assim, muitos centros urbanos poderiam se expandir de forma autônoma e sem apresentar riscos irreversíveis ao meio ambiente.
A agricultura vertical também apresenta desafios
Assim como oferece várias vantagens, a agricultura vertical e suas fazendas também impõem certos desafios. Veja só:
Custos de implementação
Apesar de possibilitar uma redução de gastos em transporte, espaço e outros quesitos, como já falamos, a agricultura vertical gera um desafio em termos de custos de implementação.
Além da instalação de equipamentos tecnológicos, como sensores, câmeras e sistemas de irrigação, deve-se pensar ainda na contratação de mão de obra – que não apenas é mais cara em ambientes urbanos do que nos rurais, mas também precisa ser qualificada.
Poluição
A agricultura vertical não está isenta de gerar poluição. Como as fazendas verticais precisam do fornecimento constante de eletricidade, certos tipos de energia acabam contribuindo com a emissão de gases do efeito estufa. Também há o risco de poluição química, já que técnicas como hidroponia envolvem o uso (e subsequente descarte) de águas que acabam contaminadas com resíduos químicos nocivos.
Necessidades de fontes de energia sustentável
Diante do ponto da poluição, é preciso buscar fontes de energia sustentável. O desafio aqui está em adotar sistemas que não apenas não contribuam com o problema, mas também o combatam ativamente – como a instalação de painéis solares (uma iniciativa cara, ao menos a princípio).
A tecnologia a favor da agricultura vertical
Agora que listamos os principais benefícios e desafios da agricultura vertical, podemos voltar nossa atenção à sua relação com a tecnologia. Em suma, é impossível separar fazendas verticais de tecnologias agrícolas. Além dos recursos necessários para a adoção das técnicas que já citamos, como hidroponia e aeroponia, a Internet das Coisas (IoT, da sigla em inglês) tem um papel fundamental nessa prática de cultivo.
Isso acontece porque a IoT envolve equipamentos como sensores inteligentes, os quais monitoram fatores como iluminação, temperatura, concentração de nutrientes, umidade, irrigação e tantos outros. Sem contar no quanto ela facilita o combate a pragas! Ou seja: as fazendas verticais dependem da tecnologia para que possam otimizar a produção e reduzir os riscos e desafios.
Em termos de tecnologia, a Internet das Coisas é uma grande aliada da agricultura vertical. Imagem: Reprodução/Imagem do Freepik
E na prática? Exemplos de fazendas verticais mundo afora
A maior fazenda vertical da América Latina fica no Brasil, mais especificamente em São Paulo. É a Pink Farms, que conta com 750 m2 de área e produz mais de 70 variedades de plantas. Além disso, cada m2 a fazenda consegue ser 170 vezes mais produtivo do que o m2 de uma fazenda tradicional!
Na Europa, a maior fazenda vertical é a dinamarquesa Nordic Harvest, que tem 7 mil m2 e é responsável pela produção de verduras e ervas. Já em nível global, a líder no segmento fica em Dubai: é a Bustanica, que soma mais de 30 mil m2 e produz alimentos locais e frescos.
O que o futuro reserva para a agricultura vertical?
Uma coisa é certa: a agricultura vertical veio para ficar. Considerando todas as vantagens que listamos, fica evidente que essa prática tem muito a contribuir com a produção agrícola em todo o mundo.
E as boas previsões não param por aí. Como as fazendas verticais podem ocupar espaços urbanos, elas têm o potencial de combater a escassez de alimentos da população, ou seja, reforçar a segurança alimentar global.
Desde sua concepção, há mais de 20 anos, a agricultura vertical vem operando em prol de uma produção agrícola sustentável e consciente. E não há sinais de que isso vai mudar: basta que cada vez mais produtores se familiarizem com seus benefícios e os bons frutos que as fazendas são capazes de gerar!
Deixe um comentário