Mesmo com tantos avanços tecnológicos, especialmente nos últimos anos, muitas pessoas ainda pensam que agricultura é um conceito que se relaciona exclusivamente ao campo. Esse pensamento, evidentemente, está equivocado, pois não leva em conta diversos aspectos que fazem parte do dia a dia do produtor, inclusive a agricultura urbana. O termo, a princípio, pode até parecer contraditório, entretanto, não é nada disso.
A prática da agricultura urbana compreende o exercício de atividades relacionadas à produção de alimentos e conservação dos recursos naturais dentro dos centros urbanos ou em suas respectivas periferias. Abrange o conjunto de técnicas e adaptações urbanísticas que visam fazer com o que o cultivo de alimentos seja uma realidade nas cidades, até porque o clima dos centros urbanos não é o mais adequado para produzir alimentos, afinal, apresenta adversidades como ausência de vegetação, poluição e crescimento desordenado.
O problema é ainda mais grave nas grandes cidades, que, por conta do crescimento verticalizado, registram temperaturas bastante elevadas, que, somadas ao pouco vento, fazem com que a sensação térmica fique constantemente em alta. O fenômeno, chamado de “Ilha de calor”, também é consequência de elementos como concreto, asfalto e adensamento de prédios.
Além dos já citados, outros desafios que a agricultura enfrenta na cidade incluem o acúmulo de elementos tóxicos emitidos e, a partir disso, a chuva ácida.
Em meio a tantos desafios, pode parecer impossível a existência da chamada agricultura urbana, contudo, na prática a situação não é bem assim. Afinal, nos últimos anos diversas iniciativas vêm chamando a atenção em todo o país, a maioria de autoria de prefeituras. Um exemplo é a inserção da exigência de áreas verdes dos planos diretores dos municípios, o que visa melhorar a qualidade do ar e gerar outros benefícios ambientais às cidades.
Esse tipo de política já é comum em muitos outros países, como no Canadá, que tem em Vancouver o projeto Greenest City 2020, responsável por implantar mais de 40 hortas urbanas no município.
O exemplo canadense tem se espalhado pelo mundo, o que é excelente, uma vez que a iniciativa está diretamente ligada aos objetivos para o desenvolvimento sustentável definidos recentemente pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Além da questão ambiental, que por si só já é bastante importante, a agricultura urbana desempenha um importante papel na segurança alimentar, afinal, proporciona fácil acesso a hortaliças e outros alimentos. Mas e a implantação? Como é feita?
Na prática
Antes de abordar a implantação da agricultura urbana, é necessário lembrar que ela é uma produção complementar, ou seja, dificilmente atenderá à demanda necessária para abastecer uma população inteira. Por outro lado, vale lembrar que esse é um método muito eficiente para garantir a diversidade produtiva, aproximar as pessoas da natureza e conscientizar a respeito da importância da proteção ambiental, inclusive no que se refere à qualidade do ar.
Com isso em mente, é importante se atentar às possibilidades oferecidas por telhados enquanto espaços produtivos, além de jardins em torres hidropônicas e varandas, alternativas capazes de melhorar a qualidade do ar, além de utilizar eficiente de água pluvial e favorecer o bioma local. Além de tudo, quando a produção é feita diretamente no solo, tem potencial para ajudar no escoamento de água, o que reduz inundações.
Outro aspecto relevante é a transformação de uma cobertura comum em um telhado verde não requer alto investimento, mas apenas impermeabilização da área, lâmina de água, módulos para plantar, membrana (pele protetora que permite às raízes chegarem à água), substrato (composto orgânico nutritivo) e plantio de frutas e hortaliças.
Também tem se tornado cada vez mais comum a transformação de terrenos baldios ociosos em hortas urbanas. Esse trabalho, no entanto, deve ser realizado com bastante cautela, já que esses espaços de terra geralmente estão contaminados com materiais de descarte. Dessa forma, antes de qualquer ação concreta, é preciso avaliar a situação do local e restaurar o solo para começar uma plantação inofensiva ao consumo.
Transformação social
O papel desempenhado pela agricultura urbana não se limita a tornar a vida nas cidades mais sustentável, pois também contempla a mudanças de comportamento. Um caso de sucesso no Brasil e em outros países é a implantação de programas de agricultura urbana em presídios, ação que oferece aos presidiários a oportunidade de trabalhar em prol da alimentação, do meio ambiente e da ressocialização, além de representar uma oportunidade para que as pessoas privadas de sua liberdade reduzam a própria pena.
Essa iniciativa também visa oferecer aos presidiários um ofício para que possam ter uma profissão quando estiverem em liberdade. Situações assim, inclusive, já são uma realidade para muitas pessoas que um dia estiveram em presídios.
Também merece destaque o cultivo de hortas em escolas públicas, algo que já é uma realidade em diversos municípios brasileiros. As instituições utilizam o local para em prol da educação ambiental e engaja os estudantes em projetos que vão desde o plantio até a colheita.
Geralmente as escolas ensinam o passo a passo envolvido na implantação de uma hora e trabalha esses conhecimentos de forma multidisciplinar, beneficiando aspectos intelectuais e emocionais de crianças e adolescentes. A iniciativa serve, ainda, para fazer com que estudantes se interessem por diversas áreas do conhecimento, como a agronomia e a biologia.
Saúde mental
Estudos realizados em diversos países também apontam os benefícios da agricultura urbana para a saúde mental. Pesquisadores do Reino Unido, por exemplo, perceberam que atividades realizadas na natureza são grandes aliadas do equilíbrio mental.
Na Escócia, alguns médicos passaram a prescrever tempo em espaços verdes aos pacientes cardíacos e com depressão. A exposição infantil à natureza também se mostrou eficiente para melhorar aspectos como imunidade, humor, estímulo cognitivo e diversos tipos de aprendizado.
Nos Estados Unidos, a professora Ming Kuo acompanhou estudos sobre exposição à natureza como terapia e constatou benefícios para a saúde mental, inclusive no combate a infecções e doenças mentais.
Avanços e benefícios
Desde que a agricultura urbana começou a ser estudada mais a fundo, uma questão que tem sido bastante discutida é a possibilidade de alcançar cada vez mais eficiência no processo de produzir alimentos em meio ao centro metropolitano, sempre de maneira equilibrada e complementar.
Ela também pode gerar diversos empregos em zonas urbanas para que haja o cuidado e manejo desses ambientes, além de, ao contrário das demais formas de agricultura, prezar pelo contato e pela proximidade com consumidor final.
Já o uso de pequenos espaços para a produção de alimentos, plantas ou até mesmo de ervas medicinais, faz com que o consumidor tenha acesso a alimentos mais frescos e com teor nutricional mais alto que dos alimentos produzidos em larga escala.
Outra vantagem é o aumento na parcela de zona verde das cidades, o que deixa o ar mais puro e as temperaturas mais amenas. Todos esses detalhes configuram um ambiente saudável e sustentável e fazem da agricultura urbana uma excelente opção. Inclusive, vale lembrar que ela pode ser produzida de forma orgânica, livre de insumos agrícolas e, inclusive, utilizando o lixo orgânico como adubo.
Considerada uma forma eficiente de reestruturar países subdesenvolvidos e de garantir estabilidade financeira e alimentos de qualidade para toda a população, a agricultura urbana é uma excelente alternativa para qualquer produtor e tem crescido em diversos países.
Na cidade de Xangai, por exemplo, a popularização da agricultura urbana foi responsável por solucionar diversos problemas sociais, sendo que hoje o município chinês produz através de sua agricultura urbana 100% do leite que é consumido na cidade, 60% dos vegetais, 90% dos ovos e 50% da carne de porco, suprindo assim, grande parcela das necessidades do mercado consumidor. Cidades como Mumbai e Nova York também já estão se adequando ao modo urbano de produzir alimentos.
Conclusão
Cada vez mais popular no mundo todo, a agricultura urbana tem se mostrado uma estratégia efetiva de fornecimento de alimentos e geração de empregos, além de contribuir para a segurança alimentar da população das cidades.
A agricultura urbana surge como resposta às adversidades presentes nos centros urbanos, como ausência de vegetação, poluição e crescimento desordenado, além da “ilha de calor”, criada a partir de elementos como concreto, asfalto e adensamento de prédios.
Comuns em cidades como Vancouver, no Canadá, e Xangai, na China, esse tipo de produção gera inúmeros benefícios às cidades. Além do fornecimento de alimentos e geração de empregos, aproxima produtor e consumidor, deixa o ar mais puro e as temperaturas mais amenas, proporciona benefícios à saúde mental e tem potencial social e educativo, quando hortas são implantadas em presídios ou escolas.
Sendo assim, a agricultura urbana é uma realidade repleta de possibilidades, que, devido aos baixos custos, podem ser aproveitadas por pessoas das mais diversas cidades no mundo todo.
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